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Guia da introdução alimentar em bebês: por onde começar e o que vale saber

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Carol Firmino

Colaboração para o VivaBem

11/08/2021 04h00

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o aleitamento materno é indicado, pelo menos, durante os dois primeiros anos de vida do neném. Até os seis meses, ele não precisa de qualquer coisa diferente do leite da mãe, já que todas as suas necessidades são supridas.

O líquido é fonte de carboidrato, proteína, gorduras boas, vitaminas e minerais, além de ser rico em anticorpos e bactérias probióticas que contribuem tanto no desenvolvimento da imunidade do bebê, quanto na formação da microbiota intestinal. "Por isso, enquanto a mãe ainda puder amamentar ou tiver esse desejo, a prática deve ser encorajada e incentivada", afirma a nutricionista Thalita Longo.

No entanto, a partir do sexto mês, a criança já começa a dar dicas de que está pronta para experimentar outros sabores e adicioná-los à sua rotina. É aí que se iniciam os preparos para a introdução alimentar. A pediatra Patrícia Terrível explica quais são os sinais de prontidão a serem observados: "Sustentar o pescoço e o tronco, sentar-se sem apoio ou com o apoio em apenas uma região, não ter mais o reflexo de protusão de língua e já mostrar interesse em pegar objetos, pegar as coisas e colocar na boca". Ela orienta que esses indícios precisam ser respeitados e, em casos de bebês prematuros, é feita a idade gestacional corrigida e avaliação do pediatra antes de liberar a introdução.

Por onde começar?

Provavelmente, essa é a primeira pergunta que vem à cabeça dos pais. A resposta é que não existe uma só regra, mas sugestões de caminhos mais fáceis e apropriados. "Essa dinâmica vai depender da organização familiar e do histórico do bebê, mas indico começar com as frutas na primeira semana, de preferência as da época e, na semana seguinte, após a família ter se adaptado com a nova rotina do bebê na alimentação, introduzir uma refeição principal, que pode ser o almoço ou o jantar", diz Longo. Por serem mais doces, as frutas costumam ter aceitação mais fácil no paladar do bebê, além de serem ricas em água, vitaminas e sais minerais.

Segundo a nutricionista materno infantil Luciana Nunes, verduras, legumes, raízes, proteínas animais e temperos naturais também podem ser incluídos nessas refeições. "A gente pede para evitar alimentos industrializados, ricos em sal e açúcar, biscoitos, salgadinhos, gelatina, embutidos e enlatados. Os bebês devem comer o que está disponível na natureza", alerta a profissional.

Nunes especifica que, no caso de bebês acima ou abaixo do peso, é necessário buscar orientação nutricional, pois só as avaliações de peso e estatura não definem como proceder. "Muitas vezes, é uma criança que vem de família com histórico de peso mais baixo, por exemplo. É preciso avaliar todo o contexto, desde exames laboratoriais, queixas clínicas, avaliação dietética e antropométrica. A partir daí, traçamos um planejamento de acordo com a real necessidade nutricional", comenta.

Cuidados com os líquidos

Apesar de as frutas serem apropriadas para a introdução alimentar nos bebês, a Sociedade Brasileira de Pediatria indica que os sucos devem ser inseridos só a partir de um ano de idade. Isso porque, para prepará-los, a quantidade de frutas utilizadas é grande, o que resulta em mais calorias, açúcar e frutose. Além disso, a fibra que os nenéns precisam para o desenvolvimento não são absorvidas.

Outro líquido para ficar de olho é o chá. "Não indicamos chás para cólica em bebês de dois ou três meses. Nem água, indicada apenas para os que tomam fórmula. Bebês que mamam no peito não precisam de água e os chás liberados a partir de seis meses são apenas os naturais, não os industrializados", aconselha Terrível. Refrigerantes, café, mel, leite de vaca ou derivados (como iogurte) e água de coco, entre o primeiro e segundo ano, nem pensar!

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A dinâmica vai depender da organização familiar e do histórico do bebê
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Sem carnes desde pequena

Alice, 5, e Eduardo, 9, são irmãos. A princípio, ambos tiveram o mesmo tipo de introdução alimentar a partir dos seis meses de idade, com papinhas salgadas e doces que incluíam os alimentos indicados pelo pediatra e variavam entre folhas, legumes, proteínas animais, frutas etc. A mãe, Vanessa Saconato, 41, começou a perceber que o processo seria diferente com a menina quando chegou a vez dos alimentos sólidos.

"Conforme a Alice foi crescendo e a comida ficando em pedacinhos, percebi que ela rejeitava a carne. Fui orientada a mudar o jeito de preparar e colocar no prato, mas, independentemente da apresentação, ela deixava de lado. Quando começou a falar, já dizia que não gostava. Por isso, eu não insistia, mas estava sempre disponível na mesa", diz a mãe.

De acordo com a nutricionista Bruna Nascimento, os cuidados da introdução alimentar para crianças como Alice devem ser os mesmos, com uma atenção extra à vitamina B12. Ela indica que as refeições principais devem conter: um alimento do grupo dos cereais ou do grupo dos tubérculos e raízes; um alimento do grupo dos feijões (leguminosas); dois ou mais alimentos do grupo dos legumes e verduras, sendo um vegetal folhoso verde-escuro e um legume colorido; por fim, um alimento do grupo das frutas.

Vanessa conta que, no início, achava que a recusa era por conta da aparência, mas, hoje, a filha diz que não come porque tem "dó dos bichinhos". Ela também sempre foi muito resistente a experimentar algo novo: "A gente oferece, mas ela é bem seletiva e tem um grupo de alimentos específico que aceita. O único alimento que insisto para que ela coma, não porque não gosta, mas porque não é um dos preferidos, é o feijão. Então, falo da importância, principalmente para ela que não consome a carne desde antes dos dois anos". Segundo a mãe, todo ano Alice faz exames para avaliar a necessidade de suplementar vitaminas, mas, por enquanto, tudo segue em equilíbrio.

Nascimento adverte que, além da vitamina B12, o ferro e a vitamina A são nutrientes que merecem uma atenção especial, assim como ômega 3. "Para esse último, não só no caso de crianças vegetarianas, tendo em vista que o consumo de peixes tende a ser limitado. A oferta desse nutriente pode ocorrer na forma de óleo de linhaça (1 colher de chá no almoço e no jantar), com suplementação sugerida para crianças entre seis meses e três anos de idade", orienta.

Adaptação da família

Não existe apenas um método de introdução alimentar, que vai desde a tradicional papinha até os que têm se tornado mais popular, como o BLW (ou baby-led weaning), que significa desmame guiado pelo bebê. Essa prática consiste em deixar que ele se alimente com pedaços de alimentos pequenos oferecidos pelo adulto e escolha segundo seu próprio interesse.

Letícia Konrath, psicóloga da nutrição, indica a abordagem participativa, que é bem parecida. "Combina interação do bebê, por meio da oferta de alimentos sólidos na forma de tiras e bastões. Assim, com as próprias mãos, eles experimentam e descobrem texturas, formas e sabores; e a alimentação assistida, na qual os pais administram a refeição, utilizando-se de colher e copo para oferecer os alimentos complementares", explica.

A profissional acredita que essa combinação é mais flexível e respeitosa e favorece um contato leve e dinâmico de aprendizagem de uma alimentação saudável. "A adaptação e individualidade de cada criança precisa ser respeitada e os pais devem ser os mediadores, não controladores", atenta a profissional. Isso quer dizer que forçá-los a comer, sem entender por que isso está acontecendo e sem dialogar, não é uma boa ideia.

Ela afirma que utilizar os alimentos como troca ou recompensas para determinado comportamento não é uma opção. Diante da recusa, em vez de forçar a criança a comer, o caminho é conversar sobre os alimentos, suas formas, sabores, consistência e a importância para a saúde. "Nessa fase, a criança tende a recusar um novo alimento, por esta razão, é necessário insistir e ter paciência. Persistindo o comportamento e sendo descartado problemas de saúde, devem ser adotadas algumas práticas que podem ajudar, como fazer as refeições em família, em ambiente tranquilo, criar uma rotina e respeitar os horários para cada refeição", conclui Konrath.

Fontes: Bruna Nascimento, nutricionista pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), pós-graduanda em direitos humanos, responsabilidade social e cidadania global na PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), especialista em políticas alimentares na Organização Global Mercy For Animals, no Programa Alimentação Consciente Brasil; Letícia Konrath, psicóloga, pós-graduada em psicologia da nutrição e transtornos alimentares na Faculdade Araraquara; Luciana Nunes, nutricionista especialista em nutrição materno pelo Instituto de Pesquisa em Ensino e Saúde/RS, mestre em saúde da comunicação humana - fonoaudiologia pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e professora da Uninassau - Centro Universitário Maurício de Nassau (Aracajú); Patrícia Terrível, pediatra humanizada e neonatologista, pró-amamentação e idealizadora do projeto Corrente de Amor pelo SUS (Sistema Único de Saúde); Thalita Longo, nutricionista, mãe e pós-graduanda em nutrição materno infantil na UniAmérica - Centro Universitário em Foz do Iguaçu.