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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Só sai com gente mais velha? Isso pode ser insegurança e baixa autoestima

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

22/02/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Algumas pessoas não se sentem à vontade com as da mesma idade, geralmente por insegurança
  • Privação emocional na infância também pode gerar um adulto inseguro em se sentir amado, que pode buscar por uma compensação
  • Há também quem amadurece tanto do ponto de vista intelectual quanto do ponto de vista emocional mais rapidamente do que outros

Afinidade, atração reprimida, necessidade de acolhimento e segurança, falta da presença dos pais ou avós. São tantos os motivos que podem explicar por que algumas pessoas preferem se relacionar com quem é mais velho que elas. Claro, cada um tem seu pretexto, que vai depender das experiências vivenciadas no âmbito familiar, social e ainda podem ter a ver com traumas, transtornos e a forma de lidar consigo mesmo.

"Algumas pessoas não se sentem à vontade com as da mesma idade, geralmente por insegurança de que não pertencem àquele grupo. Assim, preferem se relacionar com os mais velhos, que têm maior propensão a serem benevolentes com elas", aponta Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

A explicação também pode estar na infância, quando pode ter ocorrido uma privação emocional, consequência de uma relação entre as necessidades afetivas da criança versus a disponibilidade afetiva dos pais. Em situações que se tem a percepção de que não se teve todo carinho, atenção e amor que precisava, o indivíduo, agora adulto e inseguro em se sentir amado, pode buscar por uma compensação. Mas não dá para generalizar e inferir que essa falta de convívio sempre produza isso.

Maturidade precoce

Por influência da criação e do ambiente, alguns jovens se tornam "maduros" tanto do ponto de vista intelectual quanto do ponto de vista emocional mais rapidamente do que outros. É só imaginar que existem garotos de 12 anos que ainda brincam e não têm obrigações, enquanto outros ajudam os pais no sustento da família e nos cuidados com os irmãos mais novos.

"As pessoas têm tempos diferentes. E essa 'caixinha' da personalidade fecha por volta dos 20 anos, uns antes, outros depois, mas há quem nem passe por esse fechamento", esclarece Fellype Freitas, médico pela UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e psiquiatra da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Mas ter uma mente mais velha ou mais jovem não impede ninguém de estabelecer vínculos com pares da mesma idade, ou vice-versa. Chega uma hora em que as diferenças de anos não ficam tão exacerbadas entre os adultos, em termos psíquicos e mentais. "Com o passar do tempo, elas se diluem e os interesses vão se equivaler. A não ser coisas muito discrepantes, quando um tem 30 anos e outro 80 anos", diz Deborah Moss, neuropsicóloga e mestre em psicologia do desenvolvimento pela USP (Universidade de São Paulo).

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Crianças que têm bom relacionamento com avós desenvolvem habilidades emocionais e a segurança
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Desejo pode ser saudável, ou não

Há ainda a questão do interesse amoroso e sexual. Para além das afinidades e admiração pela experiência que o outro adquiriu com os anos, a atração também pode acontecer por atrativos físicos. O envelhecimento e as mudanças biológicas associadas à sexualidade não impossibilitam relações saudáveis entre idosos e adultos jovens, cuja identificação com um parceiro de idade mais distante também pode estar relacionada a uma carência, ou um apego.

"Para o psicanalista francês Jacques Lacan, a falta mantém o sujeito desejante, então, a partir da constituição de cada um e de suas vivências, existem pessoas que podem buscar diferentes formas de viver o amor mesmo no campo erótico e tudo bem", diz Freitas.

Só não é saudável um relacionamento mantido por necessidade extrema de dependência do parceiro, baixa autoestima, ou atração patológica. A gerontofilia, por exemplo, é um distúrbio psíquico caracterizado pela preferência por práticas sexuais perigosas e abusivas com idosos, que acabam vulneráveis a indivíduos muito mais novos que eles, com tendências sádicas e até mesmo violentas e que não conseguem ter relações com pessoas de faixa etária próxima à sua. Por isso, para diferenciar o assédio da relação saudável, é preciso observar suas motivações.

No que se refere a crianças...

O convívio e as brincadeiras entre elas são fundamentais para o desenvolvimento de traços importantes de sua personalidade, tais como solidariedade, empatia, senso de pertencimento, além da compreensão de limites nas trocas com seus semelhantes e identificações. Mas quando se relacionam melhor com adultos, ou preferem brincar sozinhas e possuem uma inteligência que destaca, podem ser que tenham Síndrome de Asperger, um autismo leve.

Além disso, quando passam muito mais tempo com adultos, crianças podem confundir os papéis e, se seu cuidado for deficitário, mudar de comportamento. "Como estratégia de autopreservação, a criança pode abandonar a sua espontaneidade e o brincar para dar uma resposta ao ambiente, se comportando como alguém que cuida de si mesmo e que se assemelha a um adulto. Esse processo pode gerar impactos na vida futura, como sentimento de falta de confiança no meio", alerta Aline Aparecida da Silva, psicóloga responsável pela gestão do programa de saúde mental da Clínica Personal, da Central Nacional Unimed.

Por outro lado, a convivência com adultos (pais, avós, tios, professores, vizinhos) também é necessária e saudável para a criança, com a ressalva de que é preciso supervisão quando se trata de interações com desconhecidos. Pessoas mais velhas ajudam a ampliar o repertório e o vocabulário dos pequenos, sendo que com os avós ainda desenvolvem habilidades emocionais e a segurança. "A criança aprende a dialogar, transitar entre as idades e se adaptar com bastante facilidade. É uma troca mútua de conhecimento entre gerações", diz Yuri Busin, psicólogo e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio), em São Paulo.