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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Do alho ao ozônio: os tratamentos sem comprovação para combater a covid-19

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

08/08/2020 12h10

Durante o curso da pandemia causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), que já dura cinco meses no Brasil, você provavelmente ouviu falar de dezenas de possíveis tratamentos, sejam eles para prevenir a entrada do vírus nas células ou combater a covid-19, quando a doença já está afetando o organismo.

Embora alguns sejam dignos da esperança da população — como as seis vacinas em criação que já estão no último estágio dos estudos — outros preocupam por serem divulgados (e até distribuídos) sem comprovação científica ou indicação de organizações e órgãos de saúde confiáveis. Abaixo, listamos alguns dos protocolos que, até o momento, não devem ser adotados contra a covid-19:

Consumo de alho evita a contaminação

De acordo com a OMS, embora seja um alimento saudável, não há nenhuma evidência científica comprovando que seu consumo — em qualquer quantidade — pode proteger as pessoas do novo coronavírus.

"A imunidade é formada por um conjunto de fatores que atuam na defesa do corpo contra uma série de doenças, vírus e bactérias. Não podemos elencar um alimento ou uma vitamina para resolver um problema de saúde", diz Hélio Bacha.

Aplicação de ozônio

Volnei Morastoni (MDB), prefeito de Itajaí, município em Santa Catarina, anunciou que a cidade fará parte de um estudo para utilizar a ozonioterapia por via retal no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus.

A falta de comprovação científica do método causou polêmica após o anúncio do político, uma vez que o CFM (Conselho Federal de Medicina) proíbe aos médicos a prescrição de ozonioterapia em consultórios e hospitais. A exceção pode acontecer em caso de participação de pacientes em estudos de caráter experimental, com base em protocolos clínicos e critérios definidos pela Conep (Conselho Nacional de Ética e Pesquisa), como é o caso do estudo em Itajaí.

Embora o Conep tenha autorizado três estudos para investigar a relação do ozônio com a covid-19, não há comprovação de que o método funcione.

Uma das pesquisas, protocolada em abril, concluiu que faltam "estudos clínicos em humanos que demonstrem o efeito de tratamento com ozônio naqueles infectados por coronavírus".

"O efeito da ozonioterapia em humanos infectados por coronavírus é desconhecido e não deve ser recomendado como prática clínica ou fora do contexto de estudos clínicos", concluiu o estudo submetido pela Sobom (Sociedade Brasileira de Ozonioterapia Médica).*

Shots de imunidade

Assim como é o caso da recomendação do consumo de alho, não é necessário buscar por muito tempo para encontrar conteúdos nas redes sociais que sugerem usar chás, própolis e outros ingredientes naturais para turbinar a imunidade e se prevenir contra o novo coronavírus.

Uma receita em especial, conhecida como "shot da imunidade", ganhou popularidade no Instagram. A mistura incluía própolis, cravo-da índia e canela, e prometia aumentar a proteção do organismo.

Em relação ao própolis, especialistas apontam que o composto reforça, sim, a imunidade, cura infecções respiratórias e feridas na pele. Porém, não há registros de que ele cure ou previna o coronavírus.

Segundo Paulo Olzon, infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a substância não age contra a doença e ainda pode causar desconfortos gastrointestinais. "Se consumido em excesso, ele pode trazer grandes problemas. Se trata apenas de fake news", explica.*

Remédio homeopático

Em abril, as unidades de saúde de Itajaí distribuíram 50 mil doses de um medicamento homeopático que prometia aumentar a imunidade da população. Elaborado à base de cânfora, o remédio foi entregue, gratuitamente, em frascos individuais para uso em dose única.

Assim como os shots da imunidade citados acima, não há confirmação de que a mistura tenha qualquer efeito para prevenir ou tratar a covid-19, e pode, ainda, oferecer uma falsa sensação de proteção à população.

Kit anti-covid

Kit covid distribuído pela Unimed Brusque - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

As prefeituras de alguns municípios brasileiros e até operadoras de saúde, como a Unimed Brusque (unidade no estado de Santa Catarina) e a rede Prevent Senior ofereceram "kits covid-19" para a população ou profissionais da saúde nos últimos meses. Com algumas diferenças entre eles, os kits geralmente continham hidroxicloroquina, o antibiótico azitromicina, o vermífugo ivermectina, um remédio para enjoo, um anti-inflamatório, um anticoagulante, algum remédio para dor e febre, vitamina C e zinco.

De acordo com a Unimed, que distribuiu a caixa apenas para profissionais de saúde que trabalham na operadora, ela oferece "oportunidade da profilaxia" (medicina preventiva). O envio, no entanto, é considerado controverso, já que não há evidências científicas que o uso de qualquer um desses remédios ou vitaminas possa proteger alguém contra o coronavírus ou tratar a doença causada por ele. Dependendo de quem toma os medicamentos, como pessoas que já possuem comorbidades, também há risco de efeitos adversos.

Tratamento com desinfetante e uso de raios ultravioletas

Em abril, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu a injeção de desinfetante e o uso de raios ultravioletas (pelo calor que emitem) como forma de "limpar os pulmões" e eliminar o novo coronavírus. A reação da comunidade médica e científica norte-americana e internacional foi uníssona e disse que as declarações de Trump são "perigosas e irresponsáveis". Membros da indústria de produção de desinfetantes também se manifestaram contrários à ideia.

"Não queremos que pessoas tentem resolver sozinhas qualquer problema. E não, eu nunca recomendaria a ingestão de desinfetante", destacou Stephen Hahn, comissário da Administração de Remédios e Alimentos (FDA), órgão federal responsável pela regulação dos medicamentos nos EUA, na época.

*Com informações das reportagens de Wanderley Preite Sobrinho e Priscila Carvalho