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Saúde

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Remédios que Bolsonaro tomou contra covid-19 não têm eficácia comprovada

Priscila Carvalho

Do VivaBem, em São Paulo

07/07/2020 14h37

O presidente Jair Bolsonaro testou positivo para covid-19. Os resultados dos exames saíram nesta terça-feira (7). Em entrevista à TV Brasil, o chefe do executivo disse que se sente bem e iniciou os tratamentos com hidroxicloroquina e azitromicina.

Começou domingo, com uma certa indisposição, se agravou na segunda-feira, com cansaço, indisposição e febre de 38 graus. Equipe médica decidiu dar hidroxicloroquina e azitromicina. Como acordo muito durante a noite, depois da meia-noite senti uma melhora, às 5 da manhã tomei a segunda dose e estou me sentindo bem, disse Bolsonaro.

Embora o presidente tenha começado o tratamento com esses medicamentos, as drogas não têm a eficácia comprovada cientificamente e ainda podem provocar diversos efeitos colaterais.

A tão falada hidroxicloroquina

No caso da hidroxicloroquina, o remédio é amplamente usado no combate a doenças como lúpus e artrite reumatoide, mas não há comprovação de sua eficácia e segurança contra a covid-19. Além disso, os especialistas reforçam que o remédio não deve ser usado em casa, sem acompanhamento de um profissional de saúde, justamente por oferecer riscos à saúde.

No mês de junho, a FDA, agência que regulamenta uso de medicamentos nos Estados Unidos, revogou o uso do medicamento de forma oral para tratamento da covid-19.

Segundo Vivian Avelino-Silva, médica infectologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), os efeitos colaterais são diversos: distúrbios de visão, irritação gastrointestinal, alterações cardiovasculares e neurológicas, cefaleia, fadiga, nervosismo, quem tem psoríase ou porfiria pode ter ataque agudo da doença, prurido, queda de cabelo e exantema cutânea.

A especialista reforça ainda que a droga pode gerar toxicidade e os riscos são maiores para problemas de saúde, como doenças do coração. Um dos efeitos colaterais mais citados pelos médicos é arritmia (alteração no ritmo das batidas cardíacas).

"A própria infecção pelo Sars-CoV-2 já coloca o coração em risco em uma boa porcentagem de pacientes, provocando entre outros males uma inflamação no músculo cardíaco", aponta o cardiologista Martino Martinelli, professor da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

É importante ressaltar que a droga não deve ser usada como profilaxia. A hidroxicloroquina é contraindicada para pacientes que apresentam:

  • Retinopatias preexistentes
  • Alérgicos a cloroquina (raro)
  • Diagnóstico de porfiria, miastenia gravis ou arritmia
  • Pacientes em uso de digoxina, amiodarona, verapamil ou metoprolol
  • Hipersensibilidade conhecida aos derivados da 4-aminoquinolina
  • Menos de seis anos de idade

E a azitromicina?

A azitromina é um medicamento que faz parte do grupo de antibióticos com efeito antibacteriano e também vem sendo usada como tratamento da covid-19.

Embora a droga, associada à hidroxicloroquina, seja um dos medicamentos usados em estudos relacionados ao coronavírus, o remédio também não tem eficácia comprovada contra o vírus.

Em comunicados recentes, a própria Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) já comentou. "Azitromicina é um antibiótico e, portanto, não ataca vírus. Os antibióticos são indicados apenas contra bactérias", escreveu.

Como é um antibiótico, esse medicamento só pode ser vendido sob prescrição médica e a receita deve ser retida para controle de seu consumo.

O remédio é recomendado em casos de doenças como bronquite, pneumonia, sinusite, faringite, inflamação, infecções de pele e tecidos moles, otite e IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis).

Como a droga ainda não tem nenhum respaldo científico no tratamento contra a covid-19, tomar o medicamento sem prescrição médica pode elevar os riscos de efeito colateral. O uso indiscriminado pode provocar dor de cabeça, náusea, vômito, diarreia, fezes amolecidas, desconforto abdominal e aparecimento de icterícia, entre outros.

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) reforça que uso dessas substâncias não tem qualquer respaldo científico. Em nota, a entidade afirma que até o momento, os principais estudos clínicos, que são os randomizados com grupo controle, não demonstraram benefício do uso da cloroquina, nem da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes hospitalizados com covid-19 grave.

O órgão esclareceu ainda que a associação da hidroxicloroquina com o antibiótico azitromicina foi descrita em estudos observacionais e não trouxe benefícios clínicos. "O potencial benefício clínico do efeito "antiinflamatório ou imunomodulador¨ da azitromicina em pacientes com covid-19 ainda está por ser comprovado."