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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Brasil passou a ser sonho de consumo para teste de vacina, diz Kalache

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

12/06/2020 15h38

Em entrevista ao vivo nesta sexta-feira (12) com Gabriela Ingrid, repórter de VivaBem, o médico gerontólogo e epidemiologista Alexandre Kalache opinou sobre a vida pós-pandemia, os impactos aos idosos e o curso das vacinas em teste contra a covid-19.

Para o médico, começar a flexibilização justamente quando novos casos e números de mortes estão em ascensão no país é uma incoerência. "O Brasil passou a ser sonho de consumo para testarem a vacina, já que é muito melhor testar onde as coisas estão acontecendo. Não tenho orgulho de dizer isso, mas é um laboratório vivo. Se eu fosse um CEO de uma empresa dessas, pensaria que o Brasil é um campo fértil", afirma.

Embora haja mais de 100 vacinas em testes, o epidemiologista reforça que o processo é lento. "Temos que torcer para que dê certo logo, mas o tempo médio é de seis, oito, até 10 anos. Já estamos correndo, mas não vai ser rápido, não", opina.

Na opinião de Kalache, a pandemia não acaba no momento que a vacina surgir. "Não sabemos como o vírus vai se comportar, se haverá mutações e se uma mesma vacina vai dar certo por muito tempo. É um vírus traiçoeiro e tem gente que não desenvolve anticorpos. Será que uma vacina será mais sofisticada do que o vírus para conferir essa imunidade em longo prazo?", questiona.

Laboratórios de outros países podem não dar prioridade de vacina ao Brasil

O médico aponta, ainda, que pela situação não controlada do país, não é certo que o Brasil esteja na lista dos primeiros a receber doses que venham do exterior. "Será que os laboratórios vão dar prioridade a um país que não está levando a sério a pandemia? Ou será que os maiores esforços não serão em países onde se espera que as autoridades sanitárias sejam ouvidas?", indaga.

A nacionalização da vacina, nesse ponto, seria de extrema importância. "Temos instituições incríveis, como Butantan e Fio Cruz. Mas elas têm pouco apoio público para continuar na tradição sanitária. Você não faz isso sem investir e investir em material humano. Nós sabemos que os cientistas têm capacidade. Mas se as autoridades que nos governam não têm capacidade de interpretar a ciência, não dá para esperar que os laboratórios de outros países sejam 'bonzinhos' com o Brasil", conclui.

Produção: Diego Henrique de Carvalho