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Por que cloroquina é segura para certas doenças, mas talvez não para covid

John Phillips/Getty Images
Imagem: John Phillips/Getty Images

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

28/05/2020 11h00

Enquanto a cloroquina e a hidroxicloroquina ainda estão em fase de testes para serem classificadas ou não como drogas eficazes e seguras para combater a covid-19, dúvidas surgiram entre muitos: por que os remédios não podem ser usados agora se já existem e são vendidos há várias décadas? Por que eles ainda não são considerados seguros para a doença causada pelo novo coronavírus se já são usados para outras comorbidades?

Para entender as questões que ainda impedem o uso generalizado dos medicamentos na pandemia, VivaBem conversou com Rachel Riera, reumatologista e pesquisadora do Hospital Sírio-Libanês (SP), e André Ramos, reumatologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Os especialistas são enfáticos ao dizer que ainda não podemos descartar completamente o uso da droga para tratar a doença. Embora grande parte dos estudos apontem a falta de eficácia, tanto as pesquisas que sugerem benefícios quanto as que repreendem o tratamento com os medicamentos não são consideradas perfeitas aos olhos da ciência por questões como métodos científicos utilizados, quantidade de pacientes envolvidos e falta de revisão das publicações.

De acordo com Ramos, o potencial da substância já atraiu (e ainda atrai) pesquisadores de diversas comorbidades. "Já foi investigada para HIV, influenza... Do ponto de vista de efeitos in vitro, ela tem uma gama de ações na célula, e isso indica que teoricamente poderia ser utilizada para várias doenças. Só que esses benefícios teóricos precisam de provas clínicas, que não se sustentam para qualquer quadro após estudos meticulosos."

Drogas são usadas para pacientes com perfis diferentes

Hoje, elas são mais utilizadas por pessoas que sofrem de doenças reumatológicas, como lúpus e artrite reumatoide. "Para essas doenças, todos os medicamentos têm efeitos adversos. Mas quando pesamos os benefícios e os riscos desses eventos adversos para esse grupo de pessoas especificamente, muitas vezes os benefícios vencem", indica Riera.

De acordo com a médica, os pacientes não costumam ter outras comorbidades que possam interferir com o remédio —se existe, os casos são avaliados individualmente. "No caso de quem tem covid-19, ainda precisamos entender como o remédio funciona na presença do vírus. O que nos parece, pelos trabalhos científicos, é que a cloroquina aumenta o risco de eventos adversos e por isso é essencial que os médicos vigiem de perto aqueles que estão fazendo o uso."

Além disso, as doenças reumatológicas são quadros crônicos, o que significa que os pacientes fazem acompanhamento médico constante. "Se ocorrer algum problema, o profissional de saúde poderá perceber rapidamente e ajustar a dose ou interromper o medicamento", aponta.

"Se um remédio valesse para tudo, não precisaríamos de órgãos reguladores"

Para Riera, a premissa que se uma droga é valida para uma doença, ela é valida para todas é a contramão da ciência. "Se fosse assim, órgãos reguladores como a Anvisa e a norte-americana FDA não pediriam validação para outras doenças."

Os medicamentos, resume a médica, podem ter efeitos diferentes de acordo com o organismo e a doença que cada paciente apresenta. "O medicamento não deve ser usado por que ele é eficaz ou é seguro, deve ser um combo. Se isso não fosse verdade, não teríamos tantos estudos sobre medicamentos em andamento", conclui.