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Estudo mostra relação entre alimentos orgânicos e a redução do câncer

sanjeri/IStock
Imagem: sanjeri/IStock

Roni Caryn Rabin

Do New York Times

03/11/2018 09h38

As pessoas que compram alimentos orgânicos geralmente estão convencidas de que eles são melhores para a saúde e estão dispostas a pagar mais caro por isso. Até hoje, no entanto, não havia evidências dos benefícios de comer alimentos orgânicos.

Agora, um novo estudo francês que acompanhou 70 mil adultos, a maioria deles do sexo feminino, durante cinco anos, relatou que os consumidores mais frequentes de alimentos orgânicos tinham 25 por cento menos cânceres do que aqueles que nunca comiam orgânicos. Os que ingeriam mais frutas, verduras, laticínios, carne e outros alimentos orgânicos tiveram uma queda particularmente acentuada na incidência de linfomas e uma redução significativa nos casos de câncer de mama na pós-menopausa.

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A magnitude da proteção surpreendeu os autores do estudo. "Esperávamos encontrar uma redução, mas esse resultado é muito mais significativo", afirmou Julia Baudry, principal autora do estudo e pesquisadora do Centro de Pesquisa em Epidemiologia e Estatística Sorbonne Paris Cité, do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França. Ela afirmou que o estudo não prova que a alimentação orgânica causa uma redução nos cânceres, mas sugere fortemente que "uma dieta com base orgânica pode contribuir para reduzir o risco de câncer".

O estudo, publicado na recentemente na JAMA Internal Medicine, foi pago inteiramente por fundos públicos e governamentais.

Especialistas em nutrição da Universidade de Harvard, que escreveram um comentário acompanhando o estudo, expressaram cautela, no entanto, criticando a falha dos pesquisadores em testar os níveis de resíduos de pesticidas nos participantes, a fim de validar a quantidade dessa exposição. Eles pediram mais estudos de longo prazo financiados pelo governo para confirmar os resultados.

"Do ponto de vista prático, os resultados ainda são preliminares e não são suficientes para alterar as recomendações dietéticas sobre a prevenção do câncer", disse o doutor Frank B. Hu, autor do comentário e presidente do departamento de nutrição da Escola de Saúde Pública T.H. Chan de Harvard.

Ele explicou que, se a ideia é prevenir o câncer, é mais importante para os americanos simplesmente comer mais frutas e vegetais, mesmo que o produto não seja orgânico. A Sociedade Americana de Câncer recomenda fazer uma dieta saudável com muitas frutas e vegetais, grãos integrais em vez de refinados e quantidades limitadas de carne vermelha, carne processada e açúcares.

Hu pediu que órgãos governamentais como os Institutos Nacionais de Saúde e o Departamento de Agricultura financiassem pesquisas para avaliar os efeitos de uma dieta orgânica, dizendo que há "razões científicas suficientemente fortes e uma grande necessidade do ponto de vista da saúde pública".

O único estudo além desse de grandes proporções que perguntou aos participantes sobre o consumo de alimentos orgânicos com referência ao câncer foi uma pesquisa britânica de 2014.

Embora tenha encontrado um risco significativamente menor de linfoma não-Hodgkin entre mulheres que disseram que, em geral ou sempre, comiam alimentos orgânicos, também encontrou uma taxa maior de câncer de mama nos consumidores orgânicos – e nenhuma redução geral no risco de câncer.

Os autores desse estudo, conhecido como Million Women, disseram na época que mulheres mais ricas e mais instruídas, tinham maior probabilidade de comprar alimentos orgânicos, mas também possuíam fatores de risco que aumentam a probabilidade de ter câncer de mama, como menos filhos e maior consumo de álcool.

O mercado de alimentos orgânicos cresceu nos últimos anos, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. As vendas de comidas orgânicas aumentaram para US$45,2 bilhões no ano passado nos Estados Unidos, de acordo com uma pesquisa de 2018 da Associação Comercial Orgânica.

Para que os alimentos sejam certificados como orgânicos pelo Departamento de Agricultura, devem ser cultivados sem o uso da maioria dos fertilizantes e pesticidas sintéticos e não podem conter organismos geneticamente modificados. A carne precisa ser produzida criando animais alimentados com produtos orgânicos, sem o uso de hormônios ou antibióticos. Esses itens agora representam 5,5 por cento de todos os alimentos vendidos em lojas de varejo, de acordo com o grupo de comércio orgânico.

Um representante da Aliança para a Alimentação e Agricultura, grupo que procura acalmar as preocupações do público sobre os pesticidas, disse que os consumidores não devem se preocupar com os riscos de ter câncer por consumir frutas e vegetais cultivados convencionalmente.

"Décadas de estudos nutricionais revisados amplamente e conduzidos usando produtos cultivados de modo convencional mostraram que ter uma dieta rica em frutas e vegetais previne doenças como o câncer e leva a uma vida mais longa", disse Teresa Thorne, diretora executiva da Aliança, por e-mail.

Para o estudo recente, os pesquisadores recrutaram 68.946 voluntários que tinham 44 anos, em média, quando o estudo começou. A grande maioria, 78 por cento, era formada por mulheres.

Os participantes forneceram informações detalhadas sobre a frequência com que consumiram 16 tipos diferentes de orgânicos. Os pesquisadores perguntaram sobre uma ampla gama de alimentos, incluindo frutas, vegetais, laticínios e produtos de soja, carne, peixe e ovos, assim como grãos e legumes, pão e cereais, farinha, óleos e condimentos, vinho, café e chás, biscoitos, chocolate, açúcar e até mesmo suplementos dietéticos.

Os voluntários do estudo forneceram três registros de 24 horas de sua ingestão, incluindo o tamanho das porções, durante um período de duas semanas.

A informação era muito mais detalhada do que a fornecida pelos participantes do estudo britânico Million Women, que responderam a uma única pergunta sobre a frequência com que se alimentavam com orgânicos.

Os participantes do estudo francês também forneceram informações sobre seu estado geral de saúde, sua ocupação, educação, renda e outros detalhes, como se tinham ou não o hábito de fumar.

Como as pessoas que comem alimentos orgânicos tendem a ser mais conscientes da saúde e podem se beneficiar de outros comportamentos saudáveis, e também tendem a ter rendimentos mais altos e mais anos de educação do que aqueles que não comem orgânicos, os pesquisadores fizeram ajustes para explicar as diferenças nessas características, bem como fatores como atividade física, tabagismo, consumo de álcool, histórico familiar de câncer e peso.

Mesmo após esses ajustes, os consumidores mais frequentes de alimentos orgânicos apresentaram 76 por cento menos ocorrências de linfomas, 86 por cento menos de linfomas não Hodgkin e 34 por cento de redução dos cânceres de mama que se desenvolvem após a menopausa.

As reduções nos linfomas podem não ser tão surpreendentes. Estudos epidemiológicos têm encontrado consistentemente maior incidência de alguns linfomas entre pessoas como agricultores e trabalhadores rurais que estão expostos a certos pesticidas por causa do trabalho que realizam.

A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer classificou dois pesticidas comumente usados na agricultura – o malatião e o diazinon –, bem como o herbicida glifosato como prováveis carcinógenos humanos e ligou os três produtos ao linfoma não-Hodgkin.

Uma razão pela qual uma dieta orgânica pode reduzir o risco de câncer de mama é que muitos pesticidas causam desequilíbrios endócrinos e imitam a função estrogênica, e os hormônios desempenham um papel causal na doença.

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