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Varíola dos macacos: quais os sintomas? Tem cura? Como é a transmissão?

Varíola do macaco: veja os sintomas e como pega a doença, entre outras dúvidas - iStock
Varíola do macaco: veja os sintomas e como pega a doença, entre outras dúvidas Imagem: iStock

Bárbara Therrie

Colaboração para VivaBem

26/05/2022 04h00Atualizada em 04/08/2022 13h26

O Brasil já teve a primeira morte causada pela varíola dos macacos. Com mais de mil casos no país, o Ministério da Saúde trata a varíola dos macacos como surto, primeiro estágio da evolução de contágio, antes de epidemia e pandemia. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a doença é considerada uma emergência global.

A varíola dos macacos tem causado alerta na comunidade científica e gerado perguntas entre a população. Quais são os sintomas? Como é a transmissão? Ela pode matar? Tem vacina?

A seguir, infectologistas tiram dúvidas sobre o assunto que tem gerado preocupação em médicos e cientistas pelo mundo com o surto de casos fora da África, algo raro para a doença que costumava se limitar ao continente.

Varíola dos macacos: sintomas, transmissão e mais

O que é a varíola dos macacos?

É uma zoonose viral, isto é, uma doença infecciosa que passa de animais para humanos, causada pelo vírus de mesmo nome (varíola dos macacos). Este vírus é membro da família de Orthopoxvirus, a mesma do vírus da varíola, doença já erradicada entre os seres humanos.

Onde surgiu a varíola dos macacos?

A varíola dos macacos foi identificada pela primeira vez em 1958 entre macacos de laboratório. O primeiro caso em humanos foi notificado em 1970, na República Democrática do Congo, e desde então a doença tem sido detectada em países nas regiões central e ocidental da África, sendo considerada endêmica lá, ou seja, com incidência relativamente constante ao longo dos anos.

Somente em 2003 a doença foi registrada fora daquele continente —naquele ano, ocorreu um surto nos Estados Unidos entre pessoas que tinham como animal de estimação cão-da-pradaria (um tipo de roedor) e que haviam tido contato próximo com um grupo de animais importados da África. Não se sabe se os macacos são a espécie onde este vírus surgiu precisamente.

Por que surgiram muitos novos casos da varíola dos macacos?

Uma investigação epidemiológica está em andamento para tentar explicar o motivo do surgimento dos surtos atuais. Existem algumas hipóteses, entre elas:

  • O vírus sofreu uma mutação, o que tornou sua capacidade de transmissão muito mais eficiente;
  • A diminuição na proteção gerada pela vacina contra varíola desde que os programas de vacinação foram suspensos há cerca de 40 anos;
  • Um nicho populacional novo propício para a disseminação.

Quais os sintomas da varíola dos macacos?

A doença começa com febre, fadiga, dor de cabeça, dores musculares, ou seja, sintomas inespecíficos e semelhantes a um resfriado ou gripe. Em geral, de a 1 a 5 dias após o início da febre, aparecem as lesões cutâneas (na pele), que são chamadas de exantema ou rash cutâneo (manchas vermelhas). Essas lesões aparecem inicialmente na face, espalhando para outras partes do corpo.

Elas vêm acompanhadas de prurido (coceira) e aumento dos gânglios cervicais, inguinais e uma erupção formada por pápulas (calombos), que mudam e evoluem para diferentes estágios: vesículas, pústulas, úlcera, lesão madura com casca e lesão sem casca com pele, completando o processo de cicatrização. Vale ressaltar que uma pessoa é contagiosa até que todas as cascas caiam —as casquinhas contêm material viral infeccioso— e que a pele esteja completamente cicatrizada.

Os casos atuais têm apresentado alguns elementos atípicos, como a ausência dos sintomas de mal-estar iniciando o quadro clínico, e também manifestações como edema peniano e dor intensa na região do reto.

Quais medidas diminuem risco de infecção e transmissão?

Existem pelo menos oito medidas que diminuem o risco de infecção ou ao menos evitam a transmissão do vírus para outras pessoas. Veja abaixo:

  1. Ficar atento aos sintomas e buscar atendimento médico;
  2. Evitar o contato próximo com pessoas infectadas ou com suspeita de infecção: nada de toque, beijo ou sexo;
  3. Limitar o número de parceiros sexuais;
  4. Evitar compartilhamento de objetos, incluindo roupas de cama e toalhas;
  5. Não estigmatizar a doença: qualquer pessoa pode contrair o vírus;
  6. Usar máscaras;
  7. Cobrir braços e pernas em aglomerações;
  8. Higienizar as mãos.

Como é a transmissão da varíola dos macacos?

A varíola dos macacos não se espalha facilmente entre as pessoas —a proximidade é fator necessário para o contágio. Sendo assim, a doença ocorre quando o indivíduo tem contato muito próximo e direto com um animal infectado (acredita-se que os roedores sejam o principal reservatório animal para os humanos) ou com outros indivíduos infectados por meio das secreções das lesões de pele e mucosas ou gotículas do sistema respiratório.

A transmissão pode ocorrer também pelo contato com objetos contaminados com fluídos das lesões do paciente infectado —isso inclui contato a pele ou material que teve contato com a pele, por exemplo as toalhas ou lençóis usados por alguém doente.

Qual o risco de pegar a doença em atividades do cotidiano?

A transmissão da doença se dá por contato próximo com uma pessoa infectada, especialmente se há contato com essas lesões. Entenda a seguir qual é o risco de pegar o monkeypox em diferentes atividades do cotidiano:

  • Práticas sexuais aumentam o risco de contágio pelo contato íntimo e prolongado;
  • Beijo, massagem e esportes corpo a corpo apresentam risco, pois podem promover contato direto com as feridas;
  • Tocar em lençóis, roupas e toalhas contaminados: potencial via de contágio;
  • Risco é baixo em conversas casuais;
  • É improvável se contaminar ao tocar em maçanetas ou experimentando roupas;
  • No transporte público ou no avião, risco depende de contato direto com lesões;
  • Em aglomerações, risco pode ser maior.

Qual o tempo de incubação do vírus?

O tempo de incubação —intervalo entre o contato com uma pessoa infectada e o aparecimento do primeiro sintoma— é entre 5 e 21 dias.

Como é feito o diagnóstico da varíola dos macacos?

O diagnóstico clínico, baseado em sinais, sintomas e história, pode ser facilmente confundido com outras condições, como catapora ou molusco contagioso.

O diagnóstico definitivo requer teste de laboratório específico, o PCR (RT-PCR e o qPCR), que detecta o vírus nas lesões de pele. É possível fazer o teste nas redes púbica e privada —sendo que pelo SUS (Sistema Único de Saúde) pode levar mais tempo, de 72 horas até 7 dias.

Como funciona o teste para diagnosticar a doença?

Para diagnosticar a doença, o exame utilizado é bastante conhecido por causa da pandemia da covid-19: o PCR (RT-PCR ou qPCR). No entanto, a coleta difere da que acontece para detectar o novo coronavírus, que usa secreções das narinas e da garganta. Na varíola dos macacos, a avaliação se baseia no material genético presente nas lesões características da doença. Por isso, o exame torna-se incômodo porque as lesões doem. Então, qualquer contato que exista nelas pode causar dor.

O melhor momento para testar é quando as vesículas (lesões na pele) se formam, porque há maior presença de vírus nas secreções. Mas isso não significa que a detecção seja impossível no início da doença, por exemplo. E na cicatrização, inclusive, a casquinha também é encaminhada para o laboratório.

Qual o tratamento para a varíola dos macacos?

A varíola dos macacos tende a ser leve e, geralmente, os pacientes se recuperam em algumas semanas sem tratamento específico, apenas com repouso, muita hidratação oral, medicações para diminuir o prurido e controle de sintomas como febre ou dor.

Existem medicamentos antivirais, como o tecovirimat e o cidofovir, que podem ser usados em pessoas sob risco de complicações, mas que não são facilmente disponíveis comercialmente.

Até quando a pessoa transmite a doença?

O período de maior transmissão se dá quando surgem as lesões de pele. As feridas podem levar até 40 dias para secarem completamente e, depois disso, da cicatrização total, a pessoa deixa de transmitir.

Quem corre mais risco ao se infectar pela varíola dos macacos?

De acordo com os médicos, alguns grupos mais vulneráveis precisam redobrar os cuidados, como as grávidas, crianças e pessoas imunussuprimidas.

Doença pode ser mais grave em crianças e grávidas?

Embora os dois grupos sejam considerados de risco por causa da imunidade (entenda melhor aqui), não é possível afirmar que a varíola dos macacos será mais grave entre eles, principalmente porque não há tantos casos registrados ainda.

Como funciona o medicamento contra varíola dos macacos?

No Brasil, o antiviral tecovirimat será usado inicialmente em casos graves da varíola dos macacos. A medicação atua evitando a capacidade de replicação do vírus e já é usado em outros tipos de varíolas.Ele está disponível para aplicação intravenosa e em comprimidos. Nesta última forma, a recomendação é tomá-lo após a refeição, para aumentar a absorção.

A varíola dos macacos tem cura?

Sim, como na maioria das viroses agudas, o próprio sistema imunológico é capaz de eliminar o vírus e o paciente ficar completamente curado, sem intervenção alguma. No entanto, é essencial controlar e quebrar as cadeias de transmissão por meio da identificação de casos, com orientação de isolamento, a fim de se reduzir o número total de infectados.

A vacina da varíola humana protege contra a varíola dos macacos?

Sim, estudos apontam que a vacinação prévia contra varíola pode ser eficaz contra a varíola de macacos em até 85% —isso ocorre porque ambos os vírus pertencem à mesma família e, portanto, existe um grau de proteção cruzada devido à homologia genética entre eles. Entretanto, como a varíola humana foi erradicada há mais de 40 anos, atualmente não há vacinas disponíveis para o público em geral.

Existe uma vacina para a varíola dos macacos?

Sim. Também conhecida como Imvamune ou Imvanex, o imunizante Jynneos é produzido pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic. A vacina já é aplicada nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Alemanha para conter o surto atual de varíola dos macacos.

A tecnologia utiliza o vírus vaccinia, que pertence à mesma família do smallpox (o causador da varíola humana) e do monkeypox, enfraquecido em laboratório para se tornar incapaz de causar doença grave. A aplicação é subcutânea —método "habitual", com a seringa de uma agulha— e requer duas doses, a segunda quatro semanas após a primeira.

Qual a diferença entre a varíola dos macacos e a varíola humana?

As duas doenças têm sintomas semelhantes, porém a varíola dos macacos parece ser mais leve e menos contagiosa do que a versão humana. A varíola humana foi um flagelo de grandes proporções, com mortalidade em 30% dos casos de infecção —ela foi erradicada em 1980.

Varíola dos macacos pode matar?

Pode, mas o risco é baixo. Existem dois grupos distintos do vírus da varíola de macacos circulando no mundo, agrupados com base em suas características genéticas: um predominantemente em países da África Central —com taxa de fatalidade de cerca de 10%—, e outro circulando na África Ocidental, com taxa bem menor, de 1%. A vigilância genômica ainda incipiente mostra que o vírus em circulação fora do continente africano é o menos letal.

Complicações podem ocorrer, principalmente infecções bacterianas secundárias da pele ou dos pulmões, que podem evoluir para sepse e morte ou disseminação do vírus para o sistema nervoso central, gerando um quadro de inflamação cerebral grave chamado encefalite, que pode ter sequelas sérias ou levar ao óbito.

Além disso, como toda doença viral aguda, a depender do estado imunológico do paciente e das condições e acesso à assistência médica adequada, alguns casos podem levar à morte.

Fonte: Ana Luíza Gibertoni Cruz, médica infectologista da UK Health Security Agency e pesquisadora no Departamento de Saúde Populacional da Universidade de Oxford, na Inglaterra; José David Urbaez Brito, médico infectologista, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia

Errata: este conteúdo foi atualizado
A reportagem afirmava em um trecho que não havia casos da doença registrados no Brasil. Os dados foram atualizados no dia 23/07 e as informações corrigidas.