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Qual é o risco de pegar varíola dos macacos em atividades do cotidiano?

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Imagem: iStock

De VivaBem, em São Paulo

02/08/2022 15h13

O aparecimento de lesões na pele é o sintoma mais comum da varíola dos macacos, doença causada pelo vírus monkeypox que já soma mais de 20 mil casos em todo o mundo —1.369 deles no Brasil, de acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde.

Essas feridas começam como manchas planas e avermelhadas e geralmente evoluem para bolhas mais volumosas, que depois se enchem de um líquido amarelado, formam uma "casquinha" e caem. Muito infecciosas, elas são o principal meio de transmissão da doença no surto atual.

O ânus, os genitais, o rosto, as mãos e a mucosa da boca (como a gengiva) são algumas regiões do corpo em que as bolhas podem aparecer. Antes disso, também é possível ter febre, dor de cabeça forte, inchaço nos linfonodos ("íngua"), dor nas costas e dores musculares.

Os cientistas ainda estão conduzindo estudos para saber se o vírus também pode ser transmitido quando o paciente está assintomático. Mas já se sabe que, desde o momento em que os sintomas surgem até as erupções cutâneas terem cicatrizado completamente e uma nova camada de pele se formar, existe o risco de contágio.

A transmissão da doença se dá por contato próximo com uma pessoa infectada, especialmente se há contato com essas lesões. Também é possível contrair o vírus através de secreções respiratórias, fluidos corporais, ou objetos, tecidos e superfícies utilizados pelo indivíduo contaminado. Entenda a seguir qual é o risco de pegar o monkeypox em diferentes atividades do cotidiano.

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A coceira da varíola dos macacos passa por diferentes estágios até a formação de lesões de pele
Imagem: UKHSA

Práticas sexuais aumentam o risco de contágio pelo contato íntimo e prolongado

Até o momento, a varíola dos macacos não é classificada como uma IST (infecção sexualmente transmissível), porque ainda não se sabe se os fluidos seminais e vaginais são capazes de transmitir o vírus. Mas infectologistas estão observando que o contato intenso e prolongado entre os corpos durante as práticas sexuais parece facilitar a transmissão da doença.

Um estudo do New England Journal of Medicine, que analisou as amostras de mais de 520 infecções em 16 países, de abril a junho de 2022, indica que em 95% dos casos o vírus foi transmitido através de "atividade sexual".

O alerta serve para sexo oral, anal e vaginal, além do toque de órgãos genitais (pênis, testículos, lábios e vagina) ou ânus de uma pessoa com a doença. Já que as lesões também podem estar presentes em outras regiões do corpo, como os braços e as pernas, o preservativo não é suficiente para evitar o contágio.

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Criar estigmas e preconceitos em torno da varíola dos macacos prejudica o combate à doença, dizem especialistas
Imagem: GETTY IMAGES

Autoridades sanitárias consideram importante que homens que fazem sexo com homens fiquem especialmente atentos ao risco de transmissão do monkeypox, uma vez que, atualmente, o grupo responde por grande parte dos casos registrados da doença.

No entanto, alertam que a tendência é que o patógeno se espalhe cada vez mais para outros grupos e que é preciso tomar cuidado para não criar estigmas ou preconceitos em torno do vírus, pois isso prejudica o combate ao surto, já que qualquer pessoa, independentemente de gênero e orientação sexual, corre o risco de contrair a varíola dos macacos.

Muitos países já registraram casos da doença entre crianças, por exemplo, como é o caso do Brasil.

"Como não estamos falando de uma IST, mas de um vírus em que a transmissão se dá de pessoa a pessoa por contato íntimo prolongado, a possibilidade de afetar diversas populações é muito grande, por isso essa preocupação mundial", afirma o médico infectologista Rafael Galliez, que faz parte do grupo de trabalho organizado na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) para diagnosticar casos de monkeypox e reduzir a cadeia de transmissão da doença.

"Precisamos ampliar a noção de que esse surto vem se expandindo com uma transmissão inter-humana sustentada por contato pele a pele", diz.

Beijo, massagem e esportes corpo a corpo também podem promover contato direto com as feridas

O sexo não é a única forma de entrar em contato direto com as lesões causadas pelo monkeypox.

"O contato íntimo e prolongado com as lesões também pode acontecer através de um abraço, beijo, uma sessão de massagem ou uma luta de MMA [modalidade de esporte de combate que incluem tanto golpes de combate em pé quanto técnicas de luta no chão]", exemplifica Galliez, que também é professor de doenças infecciosas na UFRJ e médico no Instituto Estadual de Infectologia São Sebastião.

Tocar em lençóis, roupas e toalhas contaminados

lençol - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Roupas, lençóis ou toalhas que foram usados por uma pessoa com monkeypox e que não foram desinfetados são uma potencial via de contágio do vírus
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Galliez cita um fato catastrófico da história da humanidade para ilustrar como o vírus também pode ser transmitido através de tecidos recém-contaminados: no século 19, colonizadores norte-americanos e ingleses entregaram mudas de roupas e lençóis de indivíduos infectados com varíola humana (que pertence à mesma família do monkeypox) aos povos indígenas, a fim de dizimá-los.

Tocar em objetos, tecidos (roupas, lençóis ou toalhas) e brinquedos sexuais que foram usados por uma pessoa com monkeypox e que não foram desinfetados é uma potencial via de contágio do vírus. Isso porque o pus e as crostas das lesões podem estar presentes nessas superfícies.

Risco é baixo em conversas casuais

O CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA) informa que os cientistas ainda estão estudando o quão comum é a transmissão do monkeypox por vias respiratórias (saliva, por exemplo), ou se há alguma etapa da infecção em que uma pessoa com sintomas pode ter maior probabilidade de espalhar o vírus por essa via.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o que se sabe até agora é que a transmissão por partículas respiratórias geralmente requer contato pessoal prolongado, o que coloca em maior risco os profissionais de saúde, membros da família e outros contatos próximos de casos ativos.

"Não basta trocar uma palavra com a pessoa, por isso a gente fala em contato íntimo e prolongado. No caso do monkeypox, o tempo também é um fator importante", explica Galliez.

Apesar de o risco de infecção do monkeypox por vias respiratórias ser considerado baixo se comparado a outras patologias, como é o caso da covid-19, os especialistas consideram que os cuidados com grupos de maior risco para o desenvolvimento da doença, como imunossuprimidos, grávidas e crianças, devem ser intensificados.

Nesta segunda-feira (1), uma nota técnica do Ministério da Saúde recomenda que grávidas, puérperas e lactantes mantenham o uso de máscaras devido ao surto da doença, além de se afastarem de pessoas com sintomas e usar preservativo em todas as relações sexuais.

É improvável se contaminar ao tocar em maçanetas ou experimentando roupas

"Por causa da pandemia de covid-19, as pessoas estão preocupadas se podem pegar a doença ao tocar no corrimão ou em maçanetas, mas não é isso que estamos vendo com o monkeypox e não há evidência de que essas superfícies sejam um mecanismo importante de transmissão da doença", afirma Álvaro Costa, infectologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Segundo o médico, também é improvável que o contágio aconteça ao experimentar uma roupa que foi anteriormente provada por uma pessoa infectada, em uma loja, por exemplo. Isso porque o indivíduo contaminado certamente não esfregou a peça nas próprias lesões, como faria com sua toalha de banho, e o tempo em que essa veste permaneceu em seu corpo foi curto (diferente do lençol onde a pessoa dorme, por exemplo).

No transporte público ou no avião, risco depende de contato direto com lesões

Nesta semana, viralizou no Twitter a publicação de um médico que estava no metrô de Madri, na Espanha, e se deparou com um passageiro com sinais nas pernas característicos da varíola dos macacos. O homem estava de bermuda e, portanto, com as lesões expostas. "Quantas pessoas ele pode deixar doentes??? Não faço ideia", afirmou Arturo Henriques no relato. "Agora eu vou no metrô tentando me equilibrar, sem tocar em nada, e muito menos me sentar".

Segundo Costa, do HC-FMUSP, o maior risco de contrair a doença em casos como esse não seria ao tocar nos assentos ou corrimões do metrô por onde o passageiro passou, mas, sim, ao encostar em suas lesões. Por isso, usar calças e camisetas de manga comprida pode ser uma forma de reduzir o risco de contágio pelo monkeypox no transporte público, diz o especialista.

"Estamos falando de uma doença de contato pele a pele, e de pele que esteja descoberta. O risco de transmissão de uma pessoa com lesões, mas que está com a pele coberta, teoricamente é muito pequeno", diferencia o médico.

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Risco de contrair monkeypox pode ser maior em eventos lotados, onde contato pele a pele é comum
Imagem: Henrique Augusto

Em aglomerações, risco pode ser maior

O mesmo raciocínio é válido para eventos lotados, como shows, baladas e boates, onde o contato pele a pele é maior e as pessoas também costumam tirar a camisa, por exemplo, expondo diversas áreas do corpo. Além de cobrir os braços e as pernas, nesses espaços também é recomendável não compartilhar garrafas de água ou cigarros.

"Além disso, precisamos lembrar que esses espaços ainda oferecem o risco de transmissão da covid-19, porque a pandemia não acabou", lembra Galliez.

Transmissão vertical é possível

Segundo a OMS, a transmissão também pode ocorrer através da placenta da mãe para o feto (o que pode levar à varíola congênita) ou durante o contato próximo durante e após o nascimento.

Partículas de aerossol e contato com animais

No continente africano, onde a doença é endêmica, há evidências de infecção por meio de mordidas ou ingestão da carne de alguns animais, como roedores. Por ora, no entanto, isso não foi identificado em nenhum outro lugar do mundo.

Além disso, ao contrário da covid-19, cuja transmissão por aerossol é uma via de contágio muito significativa, especialistas afirmam que não há evidências que sugiram que o monkeypox esteja no ar.

"Na maioria absoluta dos casos, a transmissão acontece pele a pele, ao encostar ou esfregar nas lesões. Ou em pessoas que moram na mesma casa", resume Costa.