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Várias agulhas e vírus vivo: como são as vacinas contra varíola dos macacos

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Imagem: iStock

De VivaBem, em São Paulo

24/07/2022 12h15

Após a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretar que a varíola dos macacos é um emergência global, nesse sábado (23), o Ministério da Saúde afirmou que o Brasil está preparado para enfrentar a doença —que tem quase 700 casos registrados no país— e já articula a compra de vacinas para imunizar a população.

Em sua coluna no VivaBem, o infectologista e coordenador do Centro de Pesquisas Clínicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) Rico Vasconcelos explicou que duas vacinas desenvolvidas para combater a varíola humana —doença considerada erradicada pela OMS em 1980— mostraram-se capazes de induzir a produção de anticorpos que protegem contra a varíola dos macacos e já estão sendo usadas em alguns países. Entenda a seguir como essas vacinas funcionam.

ACAM2000

Vendida pela Sanofi para a Emergent, em 2017, e já aprovada nos EUA para a prevenção da varíola dos macacos, é uma versão moderna da vacina que foi aplicada nos anos 1970 e ajudou a erradicar a varíola humana.

Tecnologia Contém um vírus vivo chamado vaccinia, que segundo Rico Vasconcelos é do mesmo gênero que o smallpox (causador da varíola humana) e o monkeypox (causador da varíola dos macacos). Depois de aplicado na pessoa, o vaccinia se replica no organismo sem causar doença, mas induzindo a produção de uma resposta imune protetora contra os três vírus.

Dose única e múltiplas agulhas A vacina é aplicada uma única vez e não usa a seringa "convencional" que estamos acostumados a ver. "A ACAM2000 é administrada com a utilização de um dispositivo com múltiplas agulhas que perfuram a pele do braço diversas vezes para inocular o vírus", explicou Vasconcelos.

Mas não fique com medo das agulhas, elas são minúsculas. A aplicação é semelhante à da vacina BCG (contra tuberculose), que todos os bebês do Brasil recebem ao nascer e deixa aquela cicatriz característica no braço por toda a vida.

Tempo para proteção Quatro semanas após a aplicação.

Reações adversas De acordo com o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA), a aplicação pode provocar efeitos comuns de qualquer vacina, como dor, inchaço e vermelhidão no local da injeção, irritação na pele e febre. Também pode haver inchaço dos linfonodos —órgãos presentes em várias regiões do corpo, como pescoço, axilas e virilhas.

Contraindicações Por ser uma vacina de vírus vivo, a ACAM2000 não é indicada para indivíduos imunossuprimidos (com doenças congênitas, que passaram por transplante ou em tratamento de câncer, por exemplo), pois há risco de provocar quadros clínicos mais graves.

O CDC não recomenda que o imunizante seja usado em gestantes, bebês com menos de 1 ano e pessoas com doença cardíaca, doença ocular tratada com esteróides tópicos, distúrbios de imunodeficiência congênita ou adquirida, incluindo aqueles que tomam medicamentos imunossupressores, pessoas vivendo com HIV (independentemente do estado imunológico) e com histórico de dermatite atópica ou eczema.

Jynneos

Também conhecida como Imvamune ou Imvanex, é produzida pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic. A vacina já é aplicada nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Alemanha para conter o surto atual de varíola dos macacos.

Tecnologia A Jynneos contém mesmo vírus vaccinia utilizado na ACAM2000, mas ele é enfraquecido em laboratório para se tornar incapaz de causar doença grave, inclusive em imunossuprimidos. Por isso, nos EUA, o CDC autoriza o uso da vacina em pessoas com 18 anos ou mais com certas deficiências ou condições imunológicas, como HIV e dermatite atópica.

Duas doses e seringa comum A aplicação da vacina é subcutânea —método "habitual", com a seringa de uma agulha— e requer duas doses, a segunda quatro semanas após a primeira.

Tempo para proteção Duas semanas após a aplicação da segunda dose.

Reações adversas Pode haver efeitos comuns em qualquer vacinação, como dor, inchaço e vermelhidão no local da aplicação.

Contraindicações: Segundo do CDC, pessoas com alergia grave à proteína do ovo ou qualquer componente da vacina (gentamicina, ciprofloxacina) não devem receber a Jynneos. O órgão americano diz que não há dados de pesquisa sobre o uso do imunizante em pessoas grávidas ou amamentando, mas estudos em animais não mostram evidências de danos reprodutivos. Portanto, a vacina não é contraindicada para gestantes e lactantes.

Quem deve tomar?

A OMS ainda não recomenda a vacinação em massa da população contra a varíola dos macacos —por não haver doses suficientes.

Nos EUA, o infectologista Rico Vasconcelos diz que a vacinação é recomendada para profissionais da saúde que podem entrar em contato com o vírus ao atender pacientes ou no laboratório e para homens gays e bissexuais que moram onde há maior circulação do vírus e que tivessem critérios de maior vulnerabilidade a ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), tais como maior número de parcerias sexuais e antecedente de ISTs.

"Essas vacinas, em geral, são aplicadas antes de uma infecção, para proteger a pessoa do vírus. Mas podem também ser utilizadas como Profilaxia Pós-Exposição para proteger as pessoas que tiveram contato próximo com uma pessoa diagnosticada com a doença", explicou Vasconcelos em sua coluna.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, a vacina ACAM2000 é da Emergent atualmente e não mais da Sanofi. O texto foi alterado.