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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com ameaça de nova onda, ampliam-se as indicações de vacinação para mpox

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

23/06/2023 04h00

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Para aqueles que estavam se perguntando qual vai ser a epidemia do ano de 2023, já que nos anos anteriores sempre houve alguma para incomodar a humanidade, devo lembrar que não é preciso procurar um vírus novo. Os dos últimos anos ainda nos dão motivo suficiente para estarmos em alerta.

O surto mundial de mpox, por exemplo, que se iniciou na Europa em maio do ano passado e rapidamente disseminou por todos os continentes, ainda está longe de terminar. Ao longo de todo esse ano que se passou, em alguma região do planeta os casos sempre estiveram em alta.

Em anúncios recentes, tanto a OMS (Organização Mundial da Saúde) quanto o CDC (Centro de Controle de Doenças) norte-americano, expressaram preocupação com a chegada do verão no hemisfério norte pela possibilidade de uma nova onda mundial de mpox.

Essa preocupação não é só deles, mas também de todo o mundo, uma vez que um dos principais fatores que contribuiu com a disseminação mundial do mpox em 2022 foi o fluxo de turistas para a Europa entre junho e setembro.

Este cenário, com densa programação de festas e festivais com o peculiar contato próximo e sexual entre as pessoas, tende a se repetir em 2023.

Segundo a OMS, até agora foram registrados cerca de 88 mil casos da doença em 112 países desde o início do surto. Nas últimas 3 semanas, a maior parte dos novos casos se concentrou nas Américas (México e Estados Unidos), África Central (República Democrática do Congo), Europa (Inglaterra) e Ásia (China, Japão, Coreia do Sul e Tailândia). Dessas regiões, as duas últimas apresentam franca tendência de aumento dos casos no último mês.

Por outro lado, é importante lembrar que, diferente do ano passado, hoje temos em diversos países programas de vacinação contra mpox direcionados para os grupos mais vulneráveis à doença. Sabendo que, em estudos recentes, a vacinação completa foi responsável pela redução de cerca de 70% no risco de transmissão do mpox, uma cobertura vacinal adequada de grupos chave pode bloquear uma eventual nova onda de casos.

Na Europa e nos Estados Unidos recentemente foram registrados pequenos surtos com algumas dezenas de casos de mpox, sendo praticamente todos entre indivíduos com vacinação ausente ou incompleta. Tal dado reativou nessas localidades as campanhas de vacinação para homens gays e bissexuais, grupo em que ainda se concentram em torno de 85% dos casos mundialmente.

Outros fatores que levaram os países do hemisfério norte a retomarem as campanhas de vacinação contra mpox foram a detecção dos primeiros casos de reinfecção por esse vírus e as evidências de que, assim como no caso da covid-19, com o tempo a proteção vacinal pode cair.

No Brasil, felizmente ainda temos nossos casos em fase de desaceleração. Segundo dados da OMS, nos últimos 3 meses, foram registrados 60 casos de mpox em todo o país, dos quais 9 foram nas últimas 3 semanas.

Mesmo sem sinais concretos de recrudescimento da epidemia, no Brasil houve recentemente uma mudança nas recomendações de vacinação contra mpox. As doses que antes deveriam ser aplicadas apenas em pessoas vivendo com HIV com doença avançada ou Aids, na ausência desse público e sobrando doses, podem a partir de agora ser usadas para vacinar pessoas vivendo com HIV em qualquer estágio da doença e para usuários de PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV).

Essa ampliação das indicações da vacinação, apesar de ser muito bem-vinda, não significa a garantia de que haverá doses da vacina para todos os novos grupos incluídos. Afinal, o Brasil dispõe de um quantitativo limitado de doses da vacina e o grupo prioritário da campanha continua sendo a população vivendo com HIV imunodeprimida.

Se você faz parte de um dos novos grupos contemplados e se considera vulnerável ao mpox, consulte o centro de referência em imunização da sua localidade.

A utilização estratégica e criteriosa das doses da vacina disponibilizadas para o Brasil pode impedir o surgimento de uma nova onda de mpox no país.