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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vacinação contra mpox enfim começa no Brasil e sem equívocos nas indicações

Athit Perawongmetha/Reuters
Imagem: Athit Perawongmetha/Reuters

Colunista de VivaBem

10/03/2023 04h00

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Já perdi a conta de quantas vezes escrevi nessa coluna sobre o surto mundial de mpox, antes chamada varíola dos macacos e depois monkeypox. Em todas as vezes apontei a demora do Ministério da Saúde brasileiro para operacionalizar uma campanha de vacinação contra esse vírus que já infectou globalmente mais de 86 mil pessoas, causando a morte de 108 delas.

Finalmente poderei virar o disco. Essa semana foi divulgado o Informe Técnico que orienta como e para quem será feita essa vacinação no país. A boa notícia é que nenhum dos equívocos previamente anunciados nas indicações dessa vacina estão no documento, aumentando as chances de a campanha atingir mais rapidamente seus objetivos.

Para entender do que estou falando é preciso saber um pouco mais sobre essa doença que rodou o mundo desde maio de 2022. Diferentemente do mpox endêmico africano, conhecido pela medicina desde a década de 1970, o surto atual causa uma doença mais leve e menos letal na quase totalidade dos casos.

No entanto, o aprendizado acumulado do último ano deixa claro que em apenas um subgrupo os casos graves da doença são mais frequentes podendo levar suas vítimas à morte: as pessoas com Aids.

Aqui, tenha cuidado para não confundir termos e conceitos. HIV é o nome daquele vírus identificado no início da década de 1980 e Aids é o nome da doença causada por ele quando não diagnosticado e tratado.

Depois do desenvolvimento do tratamento antirretroviral, é perfeitamente possível e até tecnicamente fácil manter uma pessoa vivendo com o seu HIV controlado, com saúde e sem nenhum risco de transmissão dele por via sexual.

Entretanto uma vez que existem no Brasil pessoas com HIV ainda não diagnosticadas e indivíduos que apesar do diagnóstico não se vincularam ao tratamento adequado, infelizmente ainda temos um número significativo de pessoas com Aids no país.

Até agora foram registrados 15 óbitos por mpox, nos colocando em segundo lugar no ranking de países com mais mortes pela doença. Entre esses casos, praticamente todos eram indivíduos com Aids.

Com a chegada ao Brasil do primeiro lote de 50 mil doses da vacina contra o mpox no ano passado, todos esperávamos que as pessoas com Aids fossem as primeiras a serem imunizadas. Na contramão da evidência científica, o então ministro da saúde Marcelo Queiroga anunciou que as doses seriam aplicadas em profissionais da saúde, um grupo que já passa dos 6 milhões de pessoas no país e em que não houve nenhuma morte.

Felizmente, o plano de vacinação lançado essa semana entende a necessidade da otimização de um quantitativo restrito de doses e prioriza a imunização para as pessoas com Aids (pessoas que vivem com HIV com a contagem de Linfócitos CD4 menor que 200 cél/mm3), com o objetivo de reduzir o risco da ocorrência de formas graves e óbitos pela doença.

A vacina é indicada para homens cisgênero, travestis e mulheres transexuais maiores de 18 anos, grupos em que se concentram mais de 90% dos casos até agora no país, e será aplicada em esquema com duas doses com o intervalo de 28 dias. Além deles, técnicos de laboratórios que trabalham diretamente com mpox também devem se vacinar.

O plano de imunização prevê também a aplicação de uma dose da vacina como profilaxia pós-exposição (PEP) para indivíduos que tiveram contato próximo ou exposição direta a uma pessoa com mpox confirmado preferencialmente nos últimos 4 dias.

Qualquer pessoa que esteja dentro das indicações de vacinação deve procurar o profissional que a acompanha ou o serviço de referência em imunizações da sua localidade.

Com o lançamento do plano de vacinação para mpox, o Ministério da Saúde mostra que é perfeitamente possível e recomendável que se use o conhecimento científico acumulado para a formulação de políticas de saúde pública.