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Rico Vasconcelos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pessoas que vivem com HIV, não se esqueçam da 4ª dose da vacina de covid-19

Lennart Preiss/AFP
Imagem: Lennart Preiss/AFP

Colunista do UOL

28/01/2022 04h00

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A interação da covid-19 com as diferentes comorbidades é algo complexo, mas nos últimos meses a divulgação dos resultados de dois estudos nos trouxe uma compreensão um pouco melhor sobre a dinâmica da epidemia de coronavírus e sobre a covid-19 entre indivíduos com alguma alteração na sua imunidade, especialmente as pessoas que vivem com HIV.

No primeiro deles, do início do dezembro, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, acompanharam mais de 100 mil pessoas entre janeiro e setembro de 2021. Entre os resultados, foi demonstrado que, ainda que pequeno, o risco de um indivíduo pegar covid-19 no período de 7 meses depois de completar a sua vacinação foi 41% maior para pessoas que viviam com HIV, quando comparadas com pessoas soronegativas.

E esse risco não teve nenhuma associação com a contagem mais baixa de linfócitos CD4 (menor imunidade) e nem mesmo à presença de carga viral para o HIV detectável (falha na adesão à terapia antirretroviral).

No outro estudo, publicado no final de dezembro, pesquisadores da mesma universidade analisaram dados de um número bem maior de pessoas. Foram mais de 660 mil participantes acompanhados entre dezembro de 2020 e setembro de 2021.

A análise dos dados também encontrou que pessoas que viviam com HIV tiveram maiores riscos (33% a mais) de se infectarem com o coronavírus nos 6 meses após completarem a sua vacinação.

É importante lembrar que os dois trabalhos em questão coletaram seus dados em um período anterior à chegada da variante ômicron, entretanto ambos apontam de forma semelhante a vulnerabilidade desse grupo populacional e alertam para a importância das doses de reforço da vacina contra o coronavírus para se otimizar as defesas das pessoas que vivem com HIV.

No Brasil, a recomendação de doses adicionais de vacina contra covid-19 para pessoas imunossuprimidas já foi incorporada ao plano de imunização em setembro do ano passado, mas na prática médica percebo entre os meus pacientes que existe uma nota técnica, publicada pelo Ministério da Saúde poucos dias antes do Natal, que ainda é desconhecida por muita gente.

Nessa nota técnica, além de ampliar a indicação de uma dose de reforço (a terceira) da vacina de covid-19 4 meses depois da segunda dose para todos os brasileiros com mais de 18 anos de idade, existe também a recomendação de mais uma dose de reforço (a quarta) da vacina para pessoas imunossuprimidas, 4 meses depois da terceira dose.

Recapitulando para quem se perdeu: pessoas imunossuprimidas têm mais risco de pegarem covid-19 mesmo depois de vacinadas, assim, depois do esquema inicial com 2 doses, devem tomar uma terceira dose 28 dias depois da segunda, e uma quarta dose 4 meses depois da terceira.

Segundo a nota técnica, entram na categoria "imunossuprimidos", além de pessoas que vivem com HIV/Aids, aqueles que fazem hemodiálise, que fazem uso de medicações que reduzem de forma significativa a imunidade, que fazem quimioterapia para câncer e pessoas transplantadas de órgão sólido ou de medula óssea.

Se você tem dúvidas se faz parte ou não desse grupo, converse com o profissional da saúde que faz o seu acompanhamento. E fique atento às datas, pois pode ser que o dia da sua quarta dose já tenha passado sem que tenha notado.

Se em 2020, no início da pandemia de covid-19, a ciência tinha mais incertezas do que respostas para as dúvidas sobre essa nova doença, hoje dispomos de muito mais conhecimento e ferramentas de prevenção. Para se beneficiar delas e não se confundir com as recomendações (que mudam o tempo todo), mantenha-se atento ao calendário de vacinação do seu município. Vacinas salvam!