Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
HPV: vacinar crianças contra o vírus evita câncer e não deve ser tabu
A infecção pelo HPV (papilomavírus humano) é considerada bastante frequente. São cerca de 200 tipos diferentes que podem infectar as mucosas e a pele. Pouco mais de uma dezena destes pode gerar câncer, principalmente os tipos 16 e 18, presentes em grande parte dos casos de tumores de colo de útero.
Esta é a terceira neoplasia maligna mais frequente na população feminina e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no país. Só em 2019, foram mais 6,5 mil óbitos. De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o Brasil deve registrar 16.710 casos novos da doença em 2022.
A incidência regional deste tipo de câncer mostra sua relação com os índices socioeconômicos do país: é o mais frequente na região Norte e o segundo no Nordeste e Centro-Oeste. E estes dados se repetem globalmente. Nas nações em desenvolvimento, o registro da doença é quase duas vezes mais alto e as taxas de mortalidade são três vezes maiores do que em economias desenvolvidas.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) reconhece o problema como uma questão urgente. Como parte de uma estratégia global para erradicar o câncer de colo de útero, a OMS indica a vacinação contra o HPV como um dos pilares para a redução de mais de 90% dos novos casos e de 5 milhões de mortes relacionadas à doença em 30 anos.
A vacina contra o HPV, aplicada pelo SUS, em duas doses, com intervalo de seis meses, pode evitar não só o câncer de colo de útero mas outros tumores, como de vulva, canal anal, garganta e pênis. Meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos podem ser imunizados gratuitamente, com total segurança. A vacinação nesta faixa etária (antes do início da vida sexual) é fundamental porque, quando o indivíduo já foi infectado, a vacina não consegue retirar o vírus do organismo.
No entanto, a adesão à vacinação contra o HPV não atinge os níveis ideais no Brasil, muitas vezes por preconceito e desinformação. Cria-se um tabu, como se a imunização fosse um aval para um início precoce da vida sexual. Pelo contrário, ela garante a proteção integral de crianças e adolescentes. Em algumas regiões do país, menos de 1/3 da população na faixa etária recomendada completa o ciclo de vacinação.
Por isso, deixo aqui o meu apelo a mães, pais e responsáveis: vacinem nossas meninas e meninos contra o HPV. Essa estratégia de imunização tem a capacidade de, no médio prazo, erradicar de forma completa e inédita um câncer que causa milhares de vítimas a cada ano, que representa um risco evitável para a saúde das mulheres aqui no Brasil e em todo o mundo.
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