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Blog da Lúcia Helena

Não há risco de pegar a covid-19 em um mergulho. Já na beira da piscina...

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

27/10/2020 04h00

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O calor não aguardou o verão chegar para subir os termômetros com tudo. Daí que nem as pessoas parecem estar com muita vontade de esperar a pandemia passar para caírem na piscina. Direto ao ponto: será que há algum mal em esfriarem a cabeça desse jeito? "Dentro da água, qual o risco de pegar a covid-19?", repete a minha pergunta a infectologista Eliana Bicudo, de Brasília. "Quase nenhum", assegura a médica, que é assessora técnica da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). "O cloro não dá chance para o novo coronavírus ficar por ali."

É diferente do que acontece com alguns vírus intestinais e bactérias causadoras de diarreias, que às vezes nadam de braçada em áreas de piscinas. De fato, as infecções de vias aéreas superiores têm uma transmissão extremamente baixa na água clorada.

E não é só porque os vírus causadores dessas infecções respiratórias são exterminados pelo cloro — substância tão eficiente nessa missão que a gente usa solução de hipoclorito para desinfecção de superfícies até mesmo em hospitais. Há, contudo, algo a mais: o próprio corpo, ao se movimentar imerso, vai sendo lavado o tempo inteiro pela água clorada, como se fizesse uma assepsia.

Portanto, uma vez que saltou na piscina, uma pessoa não contrai gripe nem um legítimo resfriadinho só porque alguém soltou uns espirros ou andou tossindo na raia vizinha. Tampouco é provável que pegue a covid-19, mesmo se outro nadador de final de semana esteja infectado, já o que novo coronavírus faz parte dessa turma que primeiro ataca o nariz, a garganta...

Mas, se já se animou a vestir o biquini ou o calção ao saber dessa segurança, leia mais algumas linhas. "Há uma bela diferença entre falar no risco de uma pessoa se infectar com o novo coronavírus mergulhando na água e o risco de pegar a covid-19 indo à piscina", aponta Eliana Bicudo.

Ok, reconheço, parece a mesma coisa, mas realmente não é. A médica coloca os pingos nos "is". "Dizer que você vai a uma piscina não é como contar que vai tomar um chuveiro ou entrar na banheira. Ora, em geral você se prepara para ir, combina com outros familiares e amigos, permite que seus filhos brinquem à vontade entre outras pessoas? E sabemos bem que qualquer aglomeração favorece a transmissão da doença. Que a gente não se iluda: o risco do convívio social ainda é alto", alerta. Sim, este é o banho de água fria.

Maiô, chinelo, toalha e máscara

A recomendação da médica, da SBI que ela assessora e a de todas as entidades internacionais, incluindo o CDC americano (Centers for Disease Control and Prevention) é a mesmíssima: todos estão de acordo que, para uma piscina abrir para o público na temporada do Sars-Cov 2, é preciso exigir o uso de máscaras a quem ficar na área, sejam os banhistas ou os funcionários, como o pessoal da limpeza, o salva-vidas e outros.

"Precisamos entender de uma vez por todas que hoje a máscara é a nossa principal vacina, a maneira mais eficaz de nos protegermos da transmissão", diz Eliana. Mas, atenção, nunca entre na água mascarado — basta o tecido molhar e o acessório já perdeu completamente sua função protetora.

Aliás, ele nem precisa ficar em sopa. "Se a pessoa permanecer à beira da piscina olhando os filhos, por exemplo, vai receber respingos a todo instante. Então, a máscara também vai umedecer e perder a eficácia", explica a infectologista.

Portanto, a ideia é usar a máscara, sim, mas manter alguma distância da piscina em si. Claro, vale levar mais algumas na sua sacola. Parece simples, mas Eliana Bicudo garante que esse é o detalhe de que as pessoas mais reclamam: "Elas dizem que esquenta e que não dá para ficar tomando sol de máscara", conta.

É, não dá. Ou, pelo menos, não é a marquinha que a gente sonhou ganhar no verão. Mas este é o verão da pandemia.


Distância: mergulhar na piscina é diferente de bater papo na piscina

Outra norma básica — que vale para a piscina e para tudo o quanto é canto — é a do distanciamento físico. Observe se há aquele 1,5 metro, 2 metros de distância de praxe entre a sua cadeira ou o grupo de cadeiras da sua família e as do vizinho.

Por falar em família, não custa esclarecer, o conceito aqui não é o de consanguinidade. Aqueles primos que você não vê desde o início da pandemia não deveriam ficar sob o mesmo guarda-sol das pessoas do seu núcleo. "O risco só continua baixo quando você mantém proximidade física apenas com aquelas pessoas que já vivem no mesmo domicílio", explica a doutora Eliana.

A médica reconhece: "É difícil conseguir que as crianças mantenham esse distanciamento todo. Mas pelo menos a meninada tende a ficar a maior parte do tempo brincando dentro da água. E na água, como já disse, o risco é mínimo, até porque elas ficam se movimentando".

Bem lembrado: dentro na piscina, sem máscara, não foque só o distanciamento. Ficar em movimento, promovendo a tal lavagem do corpo, é interessante. Porque aviso: não há água com cloro que evite a transmissão entre adultos, se um deles estiver infectado, formando uma rodinha de bate-papo na piscina rasa, com água pela cintura.

Evite piscinas cobertas

"Com ou sem máscara, o risco aumenta bastante se você estiver em um ambiente fechado", lembra a infectologista. E, no caso específico, isso não tem apenas a ver com a história de que quanto menos ventilado o local, menos seguro. A umidade também conta.

"Se você está sob um céu ensolarado e onde o ar circule, as gotículas presentes no ambiente, as quais podem estar carregadas do novo coronavírus — e pousadas em cadeiras, mesinhas, o que for —, terminam evaporando depressa.", descreve a doutora Eliana. "O vírus então desidrata. Fica mais difícil a sua sobrevivência." Em lugares fechados e úmidos, porém, não dá para apostar tanto nisso.

Higienize tudo

É esperado que a equipe que trabalha no local — seja a piscina de um clube ou a de um prédio — higienize cadeiras e guarda-sóis depois de cada uso e não só no início e no final do dia. Nem sempre é o que ocorre. "Por isso, cada um deve colaborar e se responsabilizar pela própria saúde", opina a médica.

Ela aconselha firmemente que você peça álcool e pano descartável — materiais que devem ficar disponíveis nessas áreas de lazer — para caprichar na limpeza antes de se acomodar.

"Faça isso com mais capricho ainda se a cadeira estiver em uma área mais sombreada, por causa daquela história da menor evaporação", observa a infectologista. Ah, oriente as crianças para que não compartilhem óculos de natação, snorkel, boias e brinquedos — não custa, certo?


A melhor hora para fazer esse programa

Simples: "É quando existir menos aglomeração", diz a doutora Eliana. Nesse raciocínio, embora ir à piscina seja tentador em dias de muito sol, a tendência é que muito mais gente tenha a mesma ideia. Então, pense duas vezes.

"No caso de condomínios, pode ser uma boa decisão estabelecer horários para evitar que muitas pessoas resolvam dar um mergulho ao mesmo tempo", sugere a médica, dando como exemplo o que fizeram onde ela própria mora, em Brasília. "A cada duas horas, determinou-se que grupos de moradores podem aproveitar o espaço da piscina", conta. "Claro que quem ficou com o horário do meio-dia às 2 da tarde reclama do sol forte e quem está liberado de manhãzinha se queixa por ter de acordar cedo. Agradar todo mundo é difícil, mas nessa fase a prioridade deve ser a segurança." Como se diz por aí, fica a dica.

E a água do mar?

Tudo o que vale para a piscina deveria valer para as praias também. Mas, no caso delas, só contamos com o bom senso para evitar aglomerações e pena que o sol pareça já ter derretido o cérebro de muita gente.

Obviamente, fica impossível estabelecer horário de entrada e saída ou uma lotação máxima nas cadeiras, como os clubes estão — ou deveriam estar — fazendo. Mas todo o resto está valendo, como a distância física entre pessoas que não moram juntas. E, acima de tudo, o uso de máscaras antes e depois de entrar na água.

Por falar em água, a natureza não fez o mar com cloro. Nem por isso a água salgada dá sopa para o novo coronavírus. Ela também dificulta à beça a sua transmissão — assim como, outra vez, a de qualquer agente infeccioso das vias aéreas superiores. O mecanismo é que é diverso. "A dificuldade para a transmissão vem do fato de ela ser hipertônica", explica a médica.

É como aquele soro, ligeiramente salgado, que você pinga no nariz quando ele está inchado e obstruído. "O cloreto de sódio faz as células da mucosa perderem líquido para o meio. Elas então murcham e o nariz desincha", descreve a infectologista.

Com a água do mar, acontece a mesma coisa. E, segundo a médica, essa desidratação temporária das células da mucosa — bem mais intensa do que a promovida por um soro nasal, que é menos salgado —, não vai favorecer a entrada e a multiplicação do novo coronavírus.

Portanto, sim, o calor está aí. E você pode até querer dar um mergulho. Desde que com cuidado e longe de lugares lotados, tudo bem — a vida talvez esteja mesmo precisando desse refresco.