Edmo Atique Gabriel

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Opinião

Terapia de reposição hormonal em mulheres pode aumentar risco de demência?

A chegada da menopausa, com seus desmembramentos hormonais, mudanças físicas e emocionais, é um desafio para as mulheres.

A reposição hormonal é um tratamento que contribui para reduzir diversos sintomas dessa fase da vida, como as ondas de calor, a diminuição da libido e as alterações de humor. No entanto, ela precisa ser feita de forma individualizada e orientada por um profissional da saúde, pois traz riscos cardiovasculares, hepáticos e oncológicos que não podem ser subestimados.

E precisamos ficar atentos a mitos e tabus que cercam os assuntos.

Reposição hormonal x demência

Recentemente, um grande estudo dinamarquês apontou uma associação entre o uso da reposição hormonal na menopausa e o desenvolvimento da doença de Alzheimer e outros tipos de demência. A pesquisa mostrou que, na categoria de alto risco, estariam mulheres que iniciam a terapia com menos de 55 anos e as mulheres que fazem o tratamento por um período considerado curto.

O aumento de risco global para o desenvolvimento da demência foi estimado pelos pesquisadores em aproximadamente 24%.

Claramente, os resultados desse estudo obrigaram outros centros de pesquisa a buscar um maior aprofundamento sobre o eventual impacto da terapia de reposição e o desenvolvimento de Alzheimer e outros tipos de demência.

Uma nova tendência tem sido defendida, dessa vez por pesquisadores norte-americanos da Universidade Weill Cornell. Estes focaram seus estudos nos sintomas que a menopausa pode acarretar na vida de uma mulher, como os fogachos, insônia, depressão e uma diversidade de alterações emocionais.

Os pesquisadores norte-americanos perceberam que, nas mulheres na menopausa com sintomas acentuados, foram encontradas algumas lesões no cérebro e também acúmulo de alguns tipos de proteínas, condições possivelmente mais relacionadas ao desenvolvimento das demências.

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Nesse estudo, a quantidade e a frequência de fogachos noturnos, associados com sudorese intensa e sobressaltos no sono, são apontadas como fatores extremamente preocupantes e impactantes para o desenvolvimento das demências. Esse ponto se torna de suma importância, pois, dentre tantos sintomas relacionados à menopausa, os fogachos, por serem muito frequentes, costumam ser os mais subestimados.

Para completar o cenário de tantas polêmicas, em 2021, foi realizado por um outro grupo de pesquisadores, com bastante nível científico, um estudo envolvendo 380 mil mulheres que já estavam na menopausa e tendo sintomas relacionados a esta fase. Nesse grupo, o impacto global da terapia de reposição hormonal foi considerado positivo, com declínio das taxas de demência, ou seja, um posicionamento completamente oposto às observações apresentadas pelos outros estudos discutidos anteriormente.

Diante então desta divisão de posições, como fica esta questão de uma eventual associação entre reposição hormonal na menopausa e risco elevado para demência?

Nada melhor do que apresentar algumas fragilidades destas pesquisas, reafirmando a necessidade de continuar investigando e manter a terapia de reposição hormonal como algo viável quando bem individualizada e com riscos bem avaliados. São 3 fragilidades que merecem uma profunda reflexão:

Fragilidade 1

As pessoas, no caso as mulheres na menopausa, podem apresentar predisposição genética para uma série de condições e doenças. Obviamente que o peso dos fatores genéticos pode ser difícil de medir, mas jamais pode ficar de fora de qualquer análise de risco. Testes genéticos podem ser uma possível solução e tornar menos abstrata a força dos fatores hereditários.

Fragilidade 2

Como existem inúmeros tipos de reposição hormonal, cada qual com sua composição e distribuição de doses, não há segurança absoluta para afirmar qual seria ou quais seriam as formulações de maior risco. Portanto, existe uma lacuna que precisa de maior investigação e correlação.

Fragilidade 3

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Não existe uma uniformidade no momento em que as mulheres na menopausa devem procurar ajuda medicamentosa para seus sintomas. Algumas mulheres, mesmo com sintomas acentuados, buscam alternativas não medicamentosas e mais tardiamente optam por uma terapia de reposição hormonal.

Existem, por outro lado, mulheres que mais precocemente iniciam a terapia hormonal, pois entendem ser essa a forma mais eficaz de contenção dos sintomas tão indesejáveis. Assim sendo, fica a dúvida: as mulheres podem desenvolver demência por ficarem muito tempo expostas aos sintomas ou o uso precoce da terapia hormonal desencadeou a doença? Não temos essa resposta ainda.

Portanto, como mensagens principais, tendo como base grandes estudos relacionados ao tema em questão, a terapia de reposição hormonal na menopausa deve continuar sendo utilizada e indicada com critérios individualizados.

O acompanhamento de uma eventual correlação entre terapia de reposição hormonal e o surgimento de demência precisa continuar sendo pauta frequente dos debates até um desfecho mais conclusivo.

As pesquisas podem até gerar dúvidas em um primeiro momento, mas são essenciais para escolha das melhores formulações e definição de uma análise risco sólida quanto a terapia de reposição hormonal.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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