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Edmo Atique Gabriel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Complicações cardiovasculares em acidentes como o de Rodrigo Mussi

Reprodução/CET
Imagem: Reprodução/CET

Colunista do VivaBem

09/04/2022 04h00

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Em acidentes automobilísticos, geralmente temos uma combinação de fatores que acabam produzindo o evento. Pode haver falha humana, seja por abuso na velocidade, seja por perda de concentração, como também a falha estrutural, como um pneu que fura ou uma pane elétrica.

Em qualquer contexto, existe um conceito extremamente importante quando queremos dimensionar a gravidade do acidente. Esse conceito é conhecido como a cinemática do trauma, que representa, em palavras mais simples, como foi o movimento de um corpo ou um objeto durante o acidente.

Esse movimento vai depender de alguns fatores como a velocidade do veículo, a energia do impacto do carro com outro objeto e algumas condições de segurança muitas vezes subestimadas, como o uso do cinto de segurança.

A cinemática de um acidente automobilístico nos ensina uma máxima: se uma pessoa foi ejetada ou lançada brutalmente para fora do veículo, após o impacto, devemos assumir que o acidente foi realmente grave e que existe um considerável risco de morte para a vítima.

Além disso, quanto maior a distância entre o ponto de impacto e o local que a vítima lançada para fora do carro foi encontrada, mais violento e trauma e o risco de morte.

Impactos cardiovasculares

O acidente automobilístico que acometeu Rodrigo Mussi reflete exatamente o que foi descrito anteriormente. O impacto foi violento, o ex-BBB não usava cinto de segurança e acabou sendo lançado brutalmente para fora do veículo.

Em um acidente automobilístico assim, o carro vinha em movimento e sua tendência natural era manter este movimento. Porém, quando uma interrupção súbita ocorre (a batida), dizemos que houve uma desaceleração súbita e com grande liberação de energia. Esse evento é diferente de uma freada suave e controlada e, por este motivo, pode ser letal para nossos órgãos.

Rodrigo Mussi foi vítima de uma brutal desaceleração seguida de ejeção de seu corpo para fora do veículo. Sem fazer qualquer tipo de exame clínico ou exames de imagem, pode-se afirmar que o acidente foi muito grave, que houve lesão estrutural de muitos órgãos e que existe risco de morte.

Não vou falar aqui de traumas que Mussi pode ter sofrido, pois não o avaliei. Mas, sim, mostrar do ponto de vista cardiovascular quais problemas você pode ter em um grave acidente, para reforçar a importância de seguir todas as orientações de segurança ao dirigir.

  • 1) Fraturas de costelas

O lançamento do corpo de Rodrigo, que estava no banco de trás, sem a estabilidade dada pelo cinto de segurança, pode provocar lesão direta no tórax, fratura de costelas seguida de perfuração dos pulmões. A lesão pulmonar, além de comprometer a função respiratória, pode gerar instabilidade dos parâmetros cardiovasculares, como queda de pressão arterial e restrição dos batimentos cardíacos.

  • 2) Contusão cardíaca

Este desprendimento de energia sobre o tórax, frontalmente, pode gerar uma onda de impacto tão violenta a ponto de lesionar a membrana que protege o coração e o próprio músculo cardíaco. Como consequência, a pessoa pode conviver, por tempo indeterminado, com dor torácica e episódios de arritmia cardíaca.

  • 3) "Explosão " de vasos sanguíneos

O trauma direto no tórax pode ocasionar o rompimento ou "explosão" de vasos sanguíneos de médio e grande calibre, culminando com graves hemorragias internas. A pessoa começa a ficar pálida e gradativamente vai perdendo a consciência.

  • 4) "Descolamento" de vasos sanguíneos

O temido mecanismo da desacelaração súbita pode provocar o "descolamento " de vasos sanguíneos em relação aos seus pontos naturais de fixação dentro do corpo. Esta ocorrência talvez seja a mais grave de todas, pois pode resultar em hemorragia profusa e risco de morte em poucas horas.

  • 5) Infarto agudo do miocárdio

Em algumas situações, a onda de impacto pode não somente se propagar sobre o músculo cardíaco, como também atingir as artérias coronárias, responsáveis pelo fluxo sanguíneo do próprio coração. Uma vez lesadas, o sangue transportado por estas artérias extravasa, não irrigando adequadamente o músculo cardíaco. Como resultado final, pode ocorrer um infarto naquele segmento do coração, devido a ausência de fluxo sanguíneo adequado.

Digo tudo isso para reforçar que acidentes automobilísticos com a ejeção da pessoa para fora do veículo podem representar gravidade considerável e taxas de sobrevida reduzidas. Além do desafio que cerca o trauma craniano (lesão cerebral), existe a possibilidade de ocorrerem lesões cardiovasculares, muitas delas letais.

Usar cinto de segurança, dirigir com velocidade controlada, evitar bebidas alcoólicas quando for dirigir, ter autocrítica quanto ao nível de exaustão são medidas essenciais para prevenir acidentes de grande porte e potencialmente fatais.

Espero que Rodrigo Mussi e outros tantos brasileiros que estejam tentando se recuperar de acidentes automobilísticos possam suportar e não sucumbir às graves lesões. De qualquer forma, fica a mensagem —um acidente automobilístico pode, dentre tantas coisas, comprometer nossa saúde cardiovascular e de muitas outras partes do corpo.