Edmo Atique Gabriel

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Opinião

10 informações preciosas sobre o entupimento das artérias do coração

"O que os olhos não veem, o coração não sente." Esse ditado é verdadeiro até o momento em que somos informados sobre alguma doença grave que acomete nosso corpo, como um câncer ou um entupimento de artérias cardíacas. A feição muda na hora, diante das circunstâncias que virão adiante, da eventual necessidade de cirurgia e do prognóstico da doença em si.

Por não sermos máquinas, sofremos e compartilhamos essa sensação de formas distintas. Seja como for, temos de enfrentar a realidade e buscar os tratamentos mais apropriados. Mas antes disso, nada melhor e mais reconfortante do que entender minimamente sobre o que acontece em nosso corpo. Essa didática dos médicos alivia muito a ansiedade, transmite serenidade quanto às próximas etapas e cria uma relação de confiança para pessoas que estão verdadeiramente fragilizadas e aflitas.

Uma pessoa que apresenta dor no peito, de forte intensidade, irradiando para o braço esquerdo e associada com suor frio e náuseas, até provar o contrário, é fortemente suspeita de estar apresentando um infarto do coração. Geralmente, essa pessoa corre para emergência e ali se inicia um protocolo que inclui exames de sangue, eletrocardiograma e, dependendo dos resultados, evolui para um estudo específico das artérias do coração, conhecidas como artérias coronárias.

Essas artérias nascem de uma grande artéria chamada aorta e são responsáveis pela nutrição do músculo cardíaco. Este, por sua vez, só tem vitalidade e capacidade de bombeamento graças aos diversos combustíveis energéticos transportados pelas artérias coronárias. Dessa forma, é sempre preocupante quando estas artérias começam a ficar entupidas com placas de gordura, que se formam desde a nossa infância, graças a um estilo errado de alimentação, sedentarismo, obesidade, tabagismo e estresse excessivo.

Num certo momento, as pessoas com esses sintomas suspeitos receberão um laudo contendo a descrição de inúmeros entupimentos em suas artérias coronárias. Alguns termos técnicos se misturando com porcentagens de entupimentos terão de ser adequadamente interpretados e literalmente traduzidos para aquela pessoa aflita por um esclarecimento plausível.

Como cirurgião cardiovascular, vivencio diariamente essa situação de incerteza e pânico e, para melhor orientar e possivelmente acalmar, vamos fazer uma sequência de perguntas com respostas. Ao final, caso ainda fique alguma dúvida ou se alguma questão não foi esclarecida, comprometo-me a ler os comentários e responder a todas as questões. Vamos lá então:

1) Esse entupimento de artérias coronárias pode matar de forma fulminante?

Na dependência do número de entupimentos, do quanto cada artéria está entupida e também da idade da pessoa, a morte pode acontecer em poucos minutos ou horas. O infarto fulminante é mais evidente nos jovens, pois seu coração ainda não tem uma quantidade significativa de colaterais —pequenas artérias que distribuem melhor o fluxo em caso de entupimentos importantes.

2) Posso ter um infarto do coração a qualquer momento?

Em geral, existe esse risco, mas, estando com as medicações em doses otimizadas, um estilo de vida mais saudável e uma orientação médica precisa, essa possibilidade pode ser reduzida. O mais importante é a definição de qual seria a melhor estratégia de tratamento. Isso não pode demorar muito a ser implementado.

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3) Por que os diabéticos podem ter infarto do coração sem ter dor no peito?

Os diabéticos enfrentam um problema chamado neuropatia e isso representa uma perda significativa da sensibilidade à dor e à pressão. Muitas vezes, uma pessoa se queima e não percebe, machuca o pé com um prego ou agulha e não sente. Da mesma forma, não se espera que o diabético apresente uma dor torácica forte, o que logicamente pode retardar o diagnóstico de infarto do coração. Um infarto do coração numa pessoa diabética pode manifestar alguns sinais ou sintomas atípicos, como palidez na pele, sensação de frio e dor de estômago.

4) Quais remédios devo tomar?

No momento agudo do infarto, ou seja, nas primeiras horas da dor e no caminho até o hospital, podemos ingerir duas a três aspirinas, para tentar melhorar o fluxo sanguíneo em nosso coração e diminuir a formação de coágulos. Outras medidas são de valor relativo e não têm comprovação, como espirrar, tossir, beber água gelada.

Para prevenção de um infarto do coração, quando a dor é recorrente, mas não aguda, existem medicamentos protetores para o coração e que devem ser usados somente com orientação médica. Podemos citar os beta-bloqueadores (aqueles cujo nome termina com "prolol") e alguns inibidores de proteínas (aqueles cujo nome termina com "pril").

5) Quais os melhores e os piores alimentos, do ponto de vista preventivo?

Este ponto é crucial para quem pretende diminuir o risco de infarto do coração. Alimentos cremosos, com gordura visível, ultraprocessados, frituras, doces e massas podem aumentar a formação de placas de gorduras dentro das artérias. Por outro lado, carnes brancas, proteínas vegetais, grãos, verduras, frutas, alimentos com farinha integral, mel, açúcar não refinado são muito importantes para longevidade de nossas artérias coronárias.

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Imagem: iStock

6) Quando devo passar por uma angioplastia e implante de "stent"?

Em geral, devemos pensar da seguinte forma: na fase aguda do infarto, quando a dor é intensa, além de ingerir algumas aspirinas, devemos rapidamente realizar um cateterismo para identificar qual artéria que está gravemente entupida e, portanto, seria a "culpada" pelo infarto.

Precisamos entender que uma pessoa pode apresentar múltiplos entupimentos arteriais, sendo que um deles é o grande vilão daquele momento agudo. Durante o cateterismo, identifica-se o entupimento "culpado" e procede-se com a dilatação de tal artéria (angioplastia) e implante de uma mola metálica para mantê-la aberta (seria o "stent"). Realizar uma cirurgia de ponte de safena/mamária na fase aguda do infarto não costuma ser a opção primordial.

7) Quando a cirurgia de ponte de safena/mamária e a melhor opção?

A cirurgia de ponte de safena/mamária geralmente é cogitada e planejada após 15 a 20 dias da fase aguda do infarto. Nesse período, o processo agudo do infarto já "esfriou", os entupimentos arteriais já estão estabelecidos, o nível de dor torácica já está mais controlado e o músculo cardíaco está menos inflamado.

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Alguns critérios são considerados para indicar essa cirurgia:

presença de múltiplos entupimentos acima de 70%;

presença de entupimento único acima de 70% em artéria localizada na região frontal do coração;

presença de entupimento acima de 70% no tronco de artérias do lado esquerdo do coração;

presença de entupimentos acima de 70% na origem de artérias calibrosas.

Cada caso obviamente precisa ser adequadamente individualizado.

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8) Como será minha vida após um infarto do coração?

Vai depender muito da extensão ou tamanho do infarto e das condições clínicas gerais. Quando o infarto é pequeno, ou seja, acomete 10 a 20% do músculo cardíaco, geralmente a pessoa consegue manter um estilo de vida saudável e muito próximo da vida normal. Acima de 30% e imaginando que essa pessoa possa ter outros problemas de saúde (pulmonares, circulatórios), a qualidade de vida fica mais comprometida.

A prática regular de esportes, a disposição para o trabalho e viagens tal como uma vida sexual ativa são quesitos da vida diária que podem ser afetados por um infarto de maior magnitude. Isso sem falar de algumas sequelas de um infarto grande, como arritmias cardíacas, problemas nas válvulas cardíacas e insuficiência cardíaca.

9) Como será minha recuperação, após passar por uma angioplastia ou cirurgia no coração?

Após uma angioplastia e implante de "stent", o período de recuperação no hospital costuma ser curto, aproximadamente um a dois dias, seguido de repouso em casa por mais dez a 15 dias. Após uma cirurgia de ponte de safena/mamária, a recuperação no hospital costuma ser de cinco a dez dias, seguida de um a dois meses de repouso em casa.

Não fiquem impressionados com a diferença de dias ou meses, o mais importante é o critério de indicação para angioplastia ou cirurgia e, sobretudo, quais das terapias poderá manter o coração viável por mais tempo. Dizer que uma angioplastia é melhor que uma cirurgia, simplesmente porque o período de hospitalização da primeira costuma ser menor, não é uma norma a ser seguida. Como já dito, cada caso precisa ser individualizado. Ouça seu médico de confiança e, quando necessário, avalie pelo menos duas opiniões de profissionais gabaritados.

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10) Posso sobreviver a um segundo ou terceiro infarto do coração?

Sim, isso é possível, mas logicamente não é uma regra. Reinfartar muito próximo à ocorrência do primeiro infarto costuma ser grave e potencialmente fatal. Além disso, em cada infarto ocorre perda de uma parte do músculo cardíaco; logo, muitos infartos podem deteriorar a função cardíaca, exigindo um transplante cardíaco ou levando à morte por falência cardíaca progressiva. Quando a pessoa apresenta alguns infartos do coração, todos de pequena extensão, ela pode sobreviver sim, mas não é seguro correr esse risco.

Bom pessoal, agora quero saber de vocês sobre possíveis dúvidas e experiências já vividas sobre essa questão do entupimento das artérias coronárias e o risco de infarto do coração e suas consequências. Como dicas, sugiro fazer um check-up e sempre fazer uma autocrítica em relação aos seus hábitos e estilo de vida. Os mais jovens precisam estar atentos quanto ao maior risco de infarto fulminante, os diabéticos precisam saber que seu corpo responde de maneira diferente a algumas doenças, e as pessoas em geral precisam investir mais em prevenção e proatividade.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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