Hidroterapia de cólon: procedimento é controverso, mas tem benefícios
Nota da edição: a hidroterapia de cólon, ou hidrocolonterapia, não tem comprovação científica de seus benefícios. A opinião da autora não reflete a opinião do UOL.
O assunto polêmico da vez é a hidrocolonterapia, banalizada pela má informação e disseminação de opinião pessoal, sem respaldo profissional.
A hidroterapia de cólon, ou hidrocolonterapia, é um procedimento que não é tão novo assim, conhecido em algumas abordagens terapêuticas alterativas, os enemas de água ou café já são defendidos por alguns —e odiados por outros.
Vamos falar de fatos: a hidrocolonterapia não tem respaldo científico. Por bem ou por mal, para ter embasamento científico, qualquer terapia, medicamento, suplemento, tratamento, deve ter comprovação após análises sistemáticas robustas. Para que isso aconteça, pesquisadores devem reunir grandes números de estudos que envolvam essa hipótese, e no caso da hidrocolonterapia, isso não é possível, já que não se tem dados positivos o suficiente para alegar grande aplicação.
Saindo do respaldo cientifico, vamos para a prática:
A hidroterapia de cólon funciona como uma "lavagem" do intestino grosso de um paciente que, por motivos específicos e patológicos, está constipado.
A ideia de limpar o cólon remonta à antiguidade, quando várias culturas acreditavam na importância da purificação interna para manter a saúde. Civilizações antigas, como os egípcios e gregos, praticavam enemas como uma forma de tratamento médico.
O procedimento mostrado pela Andressa Santanna nesta semana basicamente é feito através da inserção de água pelo reto. E qual a minha ressalva como profissional da saúde (e quem lê minhas matérias já sabe para que lado da história eu estou indo: avaliação de profissional)? A linguagem que ela usou, assim como tantos outros artistas e influenciadores digitais usam, causa mais desinformação e burburinhos, do que ajuda de fato a sociedade. Muitas vezes, é um desserviço, algumas pessoas fazem pelo "ibope" que tais matérias causam, outras, são puramente sem intenção.
Para não causar mais desconhecimento ou desinformação, separei as principais informações sobre a técnica, que, apesar de eu mostrar a importância de termos respaldo científico na aplicação de técnicas dessa classe, não invalida todos os resultados que, há décadas, temos conhecimento e que acabam trazendo, sim, muitos benefícios para os casos específicos, que eu cito abaixo.
Como é feito:
- Preparação do paciente: antes do procedimento, o paciente geralmente é instruído a esvaziar completamente o cólon por meio de uma dieta específica, que pode incluir restrições alimentares e o uso de laxativos. Isso é feito para facilitar o acesso ao cólon durante a terapia.
- Posicionamento do paciente: o paciente é posicionado de lado ou de costas, geralmente em uma maca especial projetada para a hidrocolonterapia.
- Inserção do tubo: um tubo flexível, geralmente conectado a um dispositivo que controla o fluxo de água, é delicadamente inserido no reto do paciente. Esse tubo é conectado a um sistema de fornecimento de água.
- Administração da água: a água é então lentamente introduzida no cólon. O terapeuta pode controlar a temperatura e a pressão da água para garantir que o paciente esteja confortável. À medida que a água entra no cólon, ela é absorvida e ajuda a amolecer as fezes.
- Liberação de resíduos: à medida que a água entra no cólon, os resíduos e fezes são liberados através do mesmo tubo. Isso é geralmente feito de forma intermitente ao longo da sessão.
- Repetição do processo: o processo de introdução de água, liberação de resíduos e repetição pode ocorrer várias vezes durante uma sessão de hidrocolonterapia.
- Finalização do procedimento: após a conclusão do procedimento, o tubo é removido.
Lembrando que o intestino grosso é responsável pela absorção de até 90% de água. A constipação crônica do paciente é uma condição multifatorial que pode ser beneficiada com a hidrocolonterapia momentaneamente. Mas o método não resolverá a causa, ou as causas, da constipação.
A constipação é responsável pelo aumento do desequilíbrio da microbiota intestinal, aumento de bactérias pró-inflamatórias, disbiose com perfil ou enterótipo específico que propicia o surgimento ou intensificação de síndrome do intestino irritável, síndrome do intestino permeável e, como consequência, um desequilíbrio maior que implica em diversos sistemas do corpo humano, entre os eixos intestino-cérebro, intestino-pâncreas, intestino-rins, entre outros eixos. Além disso, a constipação é também um marcador de alerta para canceres, em especial o câncer de intestino.
Tratar a constipação é um tratamento longo, requer uma abordagem dietoterápica, exames aprofundados para escaneamento de mutações genéticas para câncer, alimentação e suplementação adequada, analisar distúrbios do nervo vago (responsável pelas respostas diretas entre o cérebro e intestino), exames como a manometria anorretal que auxiliam a avaliar força ou fraqueza muscular na motilidade intestinal.
E sim, por fim, pode ser incluída a terapia com enema, ou hidrocolonterapia, com o objetivo de melhorar rapidamente a qualidade de vida do paciente, em paralelo realizando o tratamento para a constipação, e não somente limpando o intestino mecanicamente.
Fale com um médico especialista, como o proctologista, antes de realizar qualquer enema ou terapia alternativa para sua constipação.
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