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REPORTAGEM

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De diabética, cardíaca e transplantada a fisiculturista aos 64 anos

Reprodução/Instagram/@dolphinine
Imagem: Reprodução/Instagram/@dolphinine

Colunista do UOL

17/12/2021 04h00

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Diabética desde a infância, transplante de rins e pâncreas aos 34, ponte de safena no coração aos 48, retirada da tireoide aos 50. Praticante de atividade física leve aos 62. Atleta profissional de competição de fisiculturismo aos 64. Julia Olson é um fenômeno de sobrevivência. A professora de artes americana decidiu, em plena pandemia, fazer uma transformação física para comemorar os 30 anos de transplante (que ela considera seu segundo nascimento) e acabou levando tão a sério que se tornou atleta fitness.

Quando eu contei a história dela no Instagram (me siga lá também @silviaruiz_ageless) muita gente achou que a fosse falsa porque acham que seria impossível uma transformação dessas nessa idade. Mas Julia é bem real e me contou sobre sua trajetória numa conversa esta semana.

Ela diz que foi justamente a convivência com doenças graves desde a infância que a fez ver o corpo como uma potência. Aos 34 anos ela realizou um transplante de pâncreas e rins que a curou da diabetes. Recentemente, foi obrigada a fazer uma cirurgia para colocar três pontes de safena no coração, que estava debilitado pelos anos de diabetes. "Foi difícil retomar a vida depois da cirurgia cardíaca, tive que me empurrar. Sempre me alimentei bem e fiz um pouco de exercício, mas chegou um momento há dois anos em que decidi intensificar porque eu queria me sentir bem e forte", diz Julia.

Ela procurou um nutricionista e um treinador para definir a dieta ideal e a rotina de atividade física. A combinação foi de exercícios aeróbios (corrida e caminhada) e musculação. Aos poucos foi ganhando músculos e perdendo gordura, até que seu treinador sugeriu: "Por que você não entra numa competição?'.

"Eu não sabia nada sobre essas competições, sou uma professora de artes. E disse a ele: 'quem vai querer ver uma mulher de 64 anos de biquíni? Você está brincando? Mas meu corpo continuou mudando e eu resolvi apostar."

Rotina rígida de treino e dieta

Obviamente não se chega ao nível competitivo (Julia disputa a categoria master, para maiores de 50 anos) sem seguir à risca o plano de treino e dieta. "No começo eu tinha um dia mais livre, para comer como quisesse, mas, para chegar na competição, não poderia mais furar. Foram meses treino de cinco a seis dias por semana. Uma hora de cardio e mais uma hora e meia a duas de musculação", conta Julia. Detalhe: Julia passou a maior parte da jornada treinando em casa, em plena pandemia, já que as academias estavam fechadas. "A maior parte do meu treino foi feita com pesos livres que eu comprei e elásticos. Só mais recentemente pudemos passar a frequentar a academia."

A dieta de Julia é toda baseada em macronutrientes calculados para os objetivos dela. Porções de proteínas (carnes, peixes e ovos), carboidratos (batata, arroz etc.) e gorduras (azeite) são pesados em cada refeição, e ela come somente o que cabe na cota do dia, que ela registra em um aplicativo chamado My Macros. "Mas para quem foi diabética a vida toda, ter uma dieta restrita não era novidade. Eu estava acostumada a me privar de muita coisa." Nada de álcool, nada açúcar. "Hoje mesmo vou sair para jantar com meu marido. Eu sei o que posso ou não comer. Eu sei o que meu corpo precisa, e isso me ajuda a decidir. De vez em quando posso comer um chocolate, e está tudo bem."

Sem ajuda de anabolizantes

Julia, coluna Ageless - Reprodução/Instagram/@dolphinine - Reprodução/Instagram/@dolphinine
Imagem: Reprodução/Instagram/@dolphinine

Engana-se quem pensa que Julia recorreu aos famosos anabolizantes, comuns no meio do fisiculturismo, para ajudar a chegar no corpo atlético. "Uso medicação para evitar que meu corpo rejeite os órgãos transplantados, não posso usar nenhum tipo de suplemento ou hormônio. Uso apenas um suplemento de vitaminas e outro de Ômega 3 e de vez em quando um pouco de creatina. É tudo que eu tomo." Julia conta que mesmo na menopausa, por volta dos 50 anos, não pôde fazer reposição hormonal e teve que conviver com ondas de calor por conta dessa condição de saúde.

Inspiração

É claro que a maioria de nós não vai ter disposição ou vontade de adotar o estilo de vida de atleta como a Julia. Mas acho inspirador para a gente ver que, dentro das nossas possibilidades, sempre é tempo de começar, sempre dá para evoluir. Para tirar aquele pensamento "eu nunca consegui, eu não tenho mais jeito, estou velha para isso".

Nosso corpo sempre vai reagir bem se a gente oferecer nutrientes, comida saudável, atividade física (depois dos 45, musculação é fundamental, já falamos aqui). Cuidados com a mente, como meditação, e o combate ao stress também são transformadores. Importante dizer que não é sobre estética, é sobre saúde. Sobre a gente se sentir forte, potente e disposta para viver a segunda metade da nossa vida com um corpo que acompanhe nossa cabeça e nossa alma. "Eu sei que nem todo mundo vai querer minha rotina, mas por muito menos já terão benefícios para uma vida melhor." É isso, Julia!

Errata: este conteúdo foi atualizado
O coração da atleta estava debilitado pelo diabetes, não pelo uso de insulina, como o texto apontava anteriormente. A informação foi corrigida.