'Minha bebê precisava ser operada no útero, mas o problema sumiu'

"Em 2013, perdi um bebê com dois meses de gestação. Fiquei muito triste, deprimida e foi um processo muito difícil. Tinha 38 anos e achei que não poderia engravidar outra vez, por isso tentei ficar em paz. Não queria brigar com Deus, então rezava pedindo para que acontecesse a vontade dele. Não quis fazer tratamento, só finalizei o ciclo e fiquei com aquele vazio. Eu não tinha certeza se seria ou não mãe.

Em setembro daquele ano, tive uma suspeita de gravidez e antes mesmo de atrasar a menstruação já estava comprando o exame. Deu positivo, bem clarinho. Na semana seguinte, fiz de novo e deu positivo outra vez. Nem consegui dormir. Fui ao médico no dia seguinte e ele já marcou um ultrassom, pois, caso se confirmasse a gravidez, precisaria de acompanhamento para evitar um novo aborto.

Em quatro dias, fui fazer o exame e pedi para meu marido me esperar na sala de espera. Não queria que ele visse minha decepção, caso eu não estivesse grávida. Na sala, o médico me disse: 'Parabéns, você está grávida!'. Eu fiquei muito feliz. Alguns segundos depois, ele disse outra vez: 'Parabéns, você está grávida!'. Eu pensei: já sei, fiz o teste, já entendi e respondi que sabia. Mas ele respondeu: 'Parabéns duas vezes porque são gêmeos, você está grávida de dois'.

Eu sentei na maca. Estava com sete semanas, batimentos cardíacos normais dos dois bebês. Uma gestação de risco pela idade, pelo aborto, pelos gêmeos. Saí dali e contei para o meu marido que sim, estava grávida e eram dois! Decidimos não contar para ninguém até que tudo ficasse bem.

Descobrimos que eram duas meninas e estávamos felizes, cheios de planos, escolhendo os nomes e montando o quarto. A preocupação era evitar o parto prematuro — aquele misto de alegria e preocupação com um amor imenso. Felicidade e muita expectativa sonhando acordada com Lívia e Giuliana.

Com 24 semanas, fiz um ultrassom morfológico e percebi que havia alguma questão quando o médico perguntou se eu tinha algum especialista em medicina fetal. Descobri que uma das meninas tinha um derrame pleural que juntava líquido no pulmão e não deixava o órgão se desenvolver. A felicidade virou preocupação. Só fé e amor pra manter a gente em pé.

Quando encontrei um especialista, ele olhou na minha cara e disse: 'essa menina vai nascer e vai morrer'. A explicação era que o pulmão não se desenvolveria, a criança não respiraria e perderia a vida após o parto ou mesmo na barriga. E seria perigoso para a outra criança se ela morresse no útero. O único jeito de evitar seria fazer uma punção para retirar o líquido, que implicaria uma série de riscos: entre eles, parto prematuro e atingir o outro bebê. O médico disse também que eu poderia cuidar só da outra. Achei aquilo um absurdo e falei que queria ter as duas.

Ele disse que entendia, que também era pai. É uma sensação de impotência muito grande. Você tem o filho na barriga e só pode ter fé e dar amor. Foi o que eu fiz: rezei.

Eliana na gestação: mantendo pensamento positivo
Eliana na gestação: mantendo pensamento positivo Imagem: Acerbo pessoal
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Procurei outro médico e ele achou absurda a maneira como o primeiro havia me tratado. Ele achava que não era o momento de fazer a punção, porque o líquido poderia regredir. O importante era fazer ultrassom toda semana para acompanhar a gravidez bem de perto. Foi o que eu fiz. E conversava com elas na barriga, dizendo que as duas eram importantes para mim.

Até que, em um dos ultrassons, o médico me disse que não havia derrame em nenhum dos fetos. Foi um milagre: o problema regrediu de maneira que parecia que nunca havia acontecido nada. A partir daí, era escolher onde fazer o parto das meninas.

Quando eu ficava muito preocupada, meu marido beijava minha barriga e elas se mexiam. Aí eu respirava aliviada. O que eu pensava para ter força era ter fé: se havia chegado até ali, que eu tivesse minhas filhas saudáveis comigo. Acredito nisso: mãe de joelho no chão rezando e o filho em pé.

O parto teria que ser cesárea, pois havia uma questão na minha placenta e risco de hemorragia. Na 33ª semana, houve resistência no cordão umbilical da Lívia. Os médicos perguntaram se eu queria fazer um exame para detectar alguma síndrome, mas por que eu colocaria as meninas em risco se isso não ia evitar nada? Eu só queria minhas filhas comigo.

Gestação de risco é essa sensação sempre: você quer que passe rápido, mas quer ter chance de lutar dia a dia para ter o melhor para elas. Minha barriga estava enorme, eu tinha dificuldade de respirar porque comprimia meu tórax e mal andava. Levantar e deitar, só com ajuda. Mas eu não acreditava que tinha chegado até ali e agradecia por isso.

As meninas nasceram com 35 semanas e quatro dias. Na sala de parto, eu travei de medo. Giuliana nasceu primeiro, Lívia depois. A equipe toda estava preocupada e, quando ela chorou, todos se emocionaram. Giuliana tinha 2.650kg e Lívia, 2.190kg. Ambas ficaram em observação, mas não tinham absolutamente nada no pulmão. 'Coisas boas acontecem', disse o médico.

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Se tivesse que fazer uma escolha, seria essa: passaria tudo de novo por elas. São meus verdadeiros milagres. A força que só mães têm, do afeto, da fé e a medicina avançada e ciência fazem tudo dar certo. Nunca saí do consultório com dúvida, fiz muita pergunta. Filhos são bênçãos em nossas vidas e é nisso que a gente tem que acreditar."

Eliana Sansalone, 40 anos, é publicitária e mãe de Giuliana Regina e Lívia Maria, de 9 anos

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