'Fiz transição capilar quando engravidei, e minha bebê veio de cabelo liso'

"Quando a rotina de Nuno, meu primeiro filho, estava toda organizada, quisemos ter outro bebê. Ele já tinha 2 anos. Mesmo tendo planejado, descobrir uma gravidez é sempre um susto: como é que vão ser as coisas agora? Mas depois dessa surpresa, veio a alegria.

Lógico que a segunda gestação é um pouco mais cansativa, porque eu já tinha um filho. Sentia que deveria provar que, apesar de estar grávida, conseguia fazer as mesmas coisas de antes — é uma autocobrança de mostrar que não tem limitações. Por outro lado, gerar uma vida dá muita força ao pensar que seu organismo pode formar outra pessoa.

Na primeira gravidez, tive muito medo de contar para as pessoas no trabalho, onde eu havia acabado de começar quando fiz o teste e deu positivo, que em breve sairia de licença-maternidade. Estava insegura demais, mas depois de três meses falei para a minha gestora, que foi muito compreensiva. Me senti totalmente acolhida.

Já vi mulheres serem demitidas de lugares onde trabalhei assim que voltam da licença-maternidade e isso sempre nos deixa com um pé atrás. Tinha medo também de ser subestimada, acharem que eu não era mais capaz de fazer as coisas. A proximidade das pessoas ficou diferente — é natural que os amigos mudem e comecemos a nos relacionar mais com quem tem filho. Isso impacta a vida social.

Quando engravidei pela segunda vez, já sabia o que ia acontecer. Eu tinha expectativas mais claras. No trabalho, contei sem grandes medos e fui novamente acolhida. Mas todo mundo me dizia que as coisas seriam mais fáceis, que eu saberia amamentar mais rapidamente e que o parto seria um escorregão de tão simples. Não foi bem assim. O parto do Nuno foi relativamente rápido: foram quatro horas e meia ao todo. Entrei no hospital às 5h40 e já estava com o bebê no colo às 8h08.

Grávida da Laura, eu tive que fazer repouso por algumas semanas para que ela se desenvolvesse mais. Não foi fácil diminuir o ritmo de trabalho e esperar a criança nascer sem estar com a cabeça ocupada. Ansiosa e ociosa, o trabalho de parto demorou para ritmar. Durou as mesmas quatro horas e meia, mas, para mim, conhecer a dor do parto não foi algo bom. Como eu sabia como ia doer, tensionei e não deixei fluir. Amamentá-la também não foi fácil. Na primeira, é a novidade que gera expectativa, mas na segunda, o freio da boca dela causava muita dor.

Outra coisa que fugiu à expectativa: cresci em uma família de cabelo liso, em que o meu cabelo enrolado era diferente de todos. Ouvi a vida toda que meu cabelo era difícil de lidar e sempre fiz escova. Aos 17 anos, alisei o cabelo e não deixei mais os cachos. Como cresci em uma casa em que eu não me reconhecia, precisava que minha filha se reconhecesse no cabelo crespo. Resolvi fazer a transição, parar com a química e só ficar escovando o cabelo durante esse processo.

Quando ela nasceu, careca, eu continuei escovando. Até que uma amiga me aconselhou a parar de escovar — fiquei feliz de ser um bom exemplo para ela, e já estava toda cacheada. Mas a vida com filhos é diferente do que a gente espera: Laura tem cabelo liso escorrido e é loira. Eu continuo cacheada mesmo assim!

Fico orgulhosa de ter meus filhos e ter feito um bom trabalho. A insegurança faz parte, mas a maternidade é muito mágica e desperta coisas que não imaginamos e só se comprovam na prática. Eu digo que, em todas as decisões, é importante confiar no instinto. Sempre vamos saber o que deve ser feito para nossos filhos. E, claro, é importante pedir ajuda e se deixar ser ajudada, especialmente pelo parceiro, que tem papel tão importante quanto o da mulher. Se o pai da criança fizer coisas diferentes das que a mãe faria, não quer dizer que está errado. Confiar é importante."

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Larissa Silva, 32 anos, relações públicas, é mãe de Nuno e Laura

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