'Após 12 anos de fertilizações, passei a gravidez achando que ia perder'

"Por 12 anos da minha vida, fiz uma fertilização por ano. Engravidei algumas vezes: perdi um bebê e depois perdi trigêmeos, grávida de mais de três meses. Adotei uma criança e tive que devolver depois de quatro meses que ela estava comigo. Foram anos muito difíceis.

Quando engravidei da Alice, eu tinha 37 anos e o maior sonho da minha vida era ser mãe. Mas eu tinha certeza de que ia perder, por isso fiz sexagem logo no início, para pelo menos saber o gênero da criança que eu achava que não sobreviveria.

Eu ficava triste porque não acreditava que a gestação ia terminar no parto, com filho no colo. Mas ficava tranquila ao pensar que durante o tempo que ela ficasse comigo, eu curtiria. Era diferente das outras vezes em que pensava que daria certo, mas não curtia a gravidez. A da Alice, eu curtia demais, era algo meu e dela.

Um dia, eu estava dando aulas e senti algo estranho na minha barriga. Conversei com uma colega de trabalho já prevendo o pior, mas ela apenas me explicou que provavelmente eram movimentos do feto. Eu adorei aquilo. Se ficava um pouco sem mexer, eu batia na barriga e pedia para ela fazer algum movimento e achava que ela tinha morrido. Aí mexia e eu ficava aliviada novamente.

Nós fomos muito paparicadas durante a gestação. Eu pensava: se perder esse bebê, ele vai ter recebido muito amor. Antes, eu tinha receio de falar para as pessoas e ficar conversando com barriga e parecer uma tonta. Mas dessa vez, eu sabia que, se não desse certo, eu não teria mais idade nem dinheiro para tentar de novo. Até meus alunos conversavam com Alice.

A certeza de que eu ia perdê-la era tão grande, que tudo foi diferente das outras vezes que eu mais sofri do que curti.

Mas quando chegava a época de fazer ultrassom, eu passava muito mal. Tinha diarreia e vômito. Foi assim que descobri que havia perdido os trigêmeos: no ultrassom, os corações haviam parado de bater. Até hoje eu me emociono quando me lembro daquilo que passei.

Por isso, a cada ultrassom voltava a sensação de que ali terminaria o sonho que estava vivendo.

No fim da gestação, em um desses exames, a dona da clínica veio, colocou o aparelho na minha barriga e constatou que o coração dela seguia batendo. Tentei tanto engravidar que foi como se ela fosse uma amiga e fiquei assustada dela estar ali realizando o exame. Ela me disse: "Se sua filha nascer hoje, ela vai sobreviver. Você tem o direito de ser feliz. Esse é seu bebê. Aproveite, vai dar tudo certo."

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Naquele momento, eu relaxei um pouco e acreditei 80% que estava grávida. Mas 100%, só com ela no colo. Toda vez que pensei positivo não deu certo. Foi bem quando pensei que daria errado que funcionou.

Elaine demorou muito para acreditar que sua gravidez vingaria
Elaine demorou muito para acreditar que sua gravidez vingaria Imagem: Acervo pessoal

Na época, eu dava aula de manhã, de tarde e à noite. Todo mundo na escola ficava feliz quando eu chegava bem. Tive hipoglicemia no último trimestre e passava mal quando comia. Meus colegas me ajudaram, me deitavam no chão até passar — e passava rápido.

Durante os 12 anos em que tentei engravidar, ouvi que Deus não queria que eu fosse mãe. Meu ex tinha três filhos e tomou um golpe no judô, por isso ficou infértil. Nas primeiras fertilizações, eu contava para as pessoas, achava que elas iam torcer. Mas elas diziam que eu devia parar de insistir, que não era para ser. Mas desde que nasci, o que mais queria era ser mãe. O que Deus teria para não querer que eu fosse? Em alguns momentos perdi a fé e me revoltei, mas em algum lugar dentro de mim eu tinha certeza de que funcionaria.

Mesmo quando minha gravidez evoluiu e contei para todos depois dos três meses, não foi uma felicidade igual à que vejo nas famílias. Todo mundo tinha tanto medo que não acreditava que eu seria mãe.

Lutei muito para pagar os tratamentos. Dei muitas aulas, fiz revisões, traduções e empréstimo. Também doei óvulos saudáveis e recebi ajuda financeira de mulheres que recebiam esses óvulos. Como eu era jovem, seguia com força para lutar. Eu pensava: 'você quase conseguiu, você só perdeu'. E tirava força para viver esse momento.

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No fim, eu estava insegura. Queria ter um parto normal, mas meu ex-marido não deixou pagar a enfermeira. Em um exame, percebemos que estava sem líquido. Precisei fazer cesárea no mesmo dia. Foi o dia mais feliz da minha vida. Quando Alice chorou, eu não consigo descrever. Ela é minha, minha filha, eu pensava. Foi muito mágico. A enfermeira veio fazer curativo e me aconselhou a descansar, mas eu não queria: só queria minha filha. Ela ficou comigo, mamou na hora e a enfermeira até chorou de emoção.

Passaria por tudo de novo: esse amor que eu tinha certeza de que existia e sabia que seria capaz de descobrir esse amor. Não aconselho ninguém a pensar como eu: pense que vai dar certo, porque uma hora vai mesmo."

Elaine Maia, 49 anos, professora, mãe de Alice, 12 anos

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