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Cantora troca gospel por funk depois de vencer depressão e conhecer Anitta

Arte/Uol
Imagem: Arte/Uol

Do Rio de Janeiro

24/05/2023 04h00

A capixaba de Vitória (ES) Stefani Cristina, 19, tinha 4 anos quando pediu ao pastor da igreja que frequentava para cantar uma música de Cassiane, uma das mais conhecidas cantoras gospel do país. Depois disso, não parou. Aos 10, gravou álbum e passou a fazer shows por igrejas e festivais. Na adolescência, conheceu as músicas de Anitta e, após uma depressão profunda que culminou numa tentativa de suicídio, passou a se inspirar na carioca de olho numa carreira internacional. Nunca, porém, abandonou a igreja.

"Ainda converso com Deus", ela diz a Universa, por chamada de vídeo.

Eis sua história:

Da feira para a TV

"Meus pais vendem peixe numa vila de pescadores, em Jesus de Nazaré (ES), e só consegui lançar meu primeiro álbum porque eles trabalharam dobrado. Passei a vender o CD na feira. Aos 12, em 2016, fui descoberta pela produção de um programa de TV e a partir dali minha carreira deslanchou.
Cheguei a fazer quatro apresentações por dia, em lugares distantes uns dos outros. Na maioria das vezes, me deslocava de ônibus, porque tinha pouco dinheiro e as igrejas não pagavam o transporte. Falavam que [o trabalho] era pela obra de Deus."

"Ouvi que eu deveria ter morrido"

"Até os 14 anos, me inspirava em grandes cantoras gospel como Cassiane, Lauriete e Priscila Alcântara. Mas, quando a Anitta estourou, me apaixonei. Estava com 16 e me apresentava na escola com músicas dela. Também curtia artistas internacionais como Bruno Mars, mas até então não pensava em sair do gospel.

Logo depois, enfrentei uma depressão profunda por problemas amorosos e relacionados ao meu corpo. Tentei suicídio. Com 18, passei três meses internada em uma clínica psiquiátrica, dopada por remédios.

Quando saí, decidi me lançar no funk. Gravei a primeira música, 'Portas', e recebi uma enxurrada de críticas pesadas. Falavam que eu estava me rebaixando. Diziam que eu tinha inventado uma depressão como desculpa para sair do gospel. Ouvi que eu deveria ter morrido. Mas não desisti."

Stefani - Divulgação/Reprodução - Divulgação/Reprodução
Imagem: Divulgação/Reprodução

"Meu problema nunca foi a igreja"

"Uma vez, estava na igreja e o pastor começou a dizer, no culto, que havia irmão que cantava para ganhar dinheiro e precisava se arrepender. Foi claramente uma indireta para mim.

Meu problema nunca foi a igreja. Falo com Deus todos os dias, peço ajuda, agradeço pelas oportunidades. Deus é meu maior aliado e sempre vou conversar com Ele. Mas, para os evangélicos, se você sai da igreja, é sinal de que esqueceu Deus.

Ainda vou à igreja. Só saí da depressão por Deus e pela minha família, que esteve comigo. Tenho muito medo de voltar para aquela situação."

"Só uma pessoa da igreja me ajudou a sair da depressão"

"Minha depressão não tinha a ver com a mudança na carreira. Comecei a me sentir triste, como se vivesse uma decepção por algo que não aconteceu.

Quis descontar a angústia em algo. Foi quando comecei a me machucar. Minha irmã tinha acabado de se curar de uma depressão, mas meu quadro foi pior porque cheguei perto da morte. Contei tudo para ela.

Minha família esteve ao meu lado o tempo todo. Meus pais pararam de trabalhar para me apoiar. Mas, na igreja, só uma pessoa me ajudou — minha ex-sogra. Ela ficou comigo no hospital."

Stefani - Divulgação/Reprodução - Divulgação/Reprodução
Imagem: Divulgação/Reprodução

Cantando para três pessoas

"Aos 13, participei de um evento gospel com grandes cantoras, como Fernanda Brum. Mas, como não era conhecida, a produção me encaixou na abertura. Tinha cem pessoas na plateia. Gostei da experiência.

Mas também já cantei para três pessoas — e uma era minha mãe. Mesmo assim, ela ficou me filmando com o olho brilhando e isso me fez ter a certeza de que ela é a única pessoa que estará sempre comigo.

Em 2022, já no funk, ouvi, do camarim, o público gritar meu nome. É uma sensação louca."

"Quero o Grammy"

"Hoje penso grande e quero conquistar vários públicos. Aprendi espanhol e inglês porque quero ter carreira internacional, além de atrelar meu nome a marcas. Vou estudar administração para ser dona da minha carreira.

Penso em fazer grandes parcerias, com artistas de vários segmentos, como a Anitta. Atualmente não existe artista como ela. Fico horas ouvindo suas palestras para aprender. Ainda vou chegar ao Grammy."