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'Toque genital não era o foco': como funciona terapia para chegar a orgasmo

Sessão custa em torno de R$ 500 e promete ajudar mulheres a descobrirem novas maneiras de sentir prazer, e não necessariamente por meio do sexo - Lyara Vidal/Arte UOL
Sessão custa em torno de R$ 500 e promete ajudar mulheres a descobrirem novas maneiras de sentir prazer, e não necessariamente por meio do sexo
Imagem: Lyara Vidal/Arte UOL

Larissa Darc

Colaboração para Universa, em São Paulo

06/02/2023 04h00


Minhas mãos estavam suando quando a terapeuta orgástica me pediu para tirar a roupa. Apesar de ser bem resolvida com minha sexualidade, me despir foi especialmente difícil. Existe um certo pudor enraizado que é difícil de ser esquecido.

Obviamente, não era a primeira vez que fazia isso na frente de outra pessoa. A diferença é que, desta vez, pretendia sentir prazer sem estar fazendo sexo com alguém. Tinha chegado até ali para descobrir como funciona a terapia orgástica.

Uma hora antes, calcei pantufas na porta de uma casa em São Paulo totalmente dedicada ao bem-estar feminino. Tomei um chá, sentei de frente para um jardim e aguardei a minha vez de ser chamada. O dia estava calmo, esbarrei apenas com uma cliente que tinha acabado de ser atendida. Ao contrário de espaços fetichistas e baladas eróticas, não havia correntes, chicotes ou fotos sugestivas.

No horário marcado, a terapeuta, de uniforme, me chamou para o andar de cima do espaço. Psicóloga e mestre em educação sexual por formação, a mulher de 28 anos pediu que eu sentasse de frente para ela, como em uma sessão de terapia convencional. Não havia misticismo ou crenças envolvidas, como acontece em outras modalidades com esse tipo de atendimento. Também não existiu qualquer tensão sexual.

A profissional perguntou como era a relação com o meu corpo e com o sexo. Falei durante meia hora sobre inseguranças em relação a minha aparência e disse que, diferentemente de algumas pessoas que procuram esse serviço, aos 25 anos, eu nunca tive problemas para ter orgasmos —um estudo divulgado em 2017 pelo Prosex (Projeto de Sexualidade), na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) concluiu que metade das brasileiras nunca chegaram lá.

Já ouvi relatos de quem foi casada a vida inteira e teve o primeiro orgasmo em sessões como essas —que custam, me média, R$ 500. Outras desbravadoras continuavam com dificuldades para chegar no ápice. Soube de casais que reclamam de alguma disfunção, ou desconhecimento, e que recorreram ao método para conseguir ter uma vida sexual mais satisfatória.

Cotovelo também é zona erógena

Havia um espaçoso colchão de casal colocado no chão, um som tocando músicas calmas e uma venda para colocar nos olhos. A terapeuta usava máscara, luva e materiais descartáveis, além de um vibrador bullet e uma "varinha mágica".

Diferentemente do que eu imaginava, o toque genital não foi o foco. A ideia era ficar deitada enquanto sentia todas as partes do corpo sendo exploradas —foi bem parecido com uma massagem. É estranho pensar que, mesmo após algumas experiências, não sabia qual era a sensação de receber carinhos em áreas que não são explicitamente erógenas, como cotovelo ou dedos dos pés. Também não imaginava que vibradores poderiam servir como massageadores para braços e pernas.

Fui incentivada a soltar sons, me mover de jeitos que não fossem exatamente atraentes, como esticar pernas e braços, para me desligar da ideia de que deveria seduzir ou satisfazer outra pessoa com meus movimentos.

Exatamente por já saber do que gostava, foi difícil experimentar outras maneiras de toques sem conduzir a outra pessoa para a receita de bolo que já sei que funciona. "Como você vai descobrir novas formas de prazer se faz sempre a mesma coisa?", questionou a terapeuta quando pedi que ela fizesse de outro jeito.

Durante a sessão, que durou duas horas, existiu um momento em que senti as mãos percorrerem os meus cabelos e me preparei para que eles fossem puxados. "O seu corpo tem memória. Ele lembra que você viveu momentos prazerosos após alguém segurar os fios com mais força. É por isso que você ficou frustrada ao perceber que era só um carinho", explicou a profissional.

"Puxão de cabelo me lembrou de beijo longo de pessoa que amei"

A terapia orgástica me fez pensar sobre a minha reação a cada toque, apontando sobre como construí meu repertório sexual ao longo das relações. Segurar as mãos pode remeter a um momento de segurança, enquanto um carinho no rosto pode ser associado a alguma pessoa que já passou pela sua vida.

Em alguns casos, o puxão de cabelo significa violência. Já na minha memória afetiva, o gesto pode ser associado a beijos longos que recebi de pessoas que amei.

Mesmo após ficar em silêncio durante a maior parte do atendimento, na conversa após a parte manual do atendimento, discutimos, de maneira prática, sobre a forma que eu lidava com o meu corpo e sobre a ideia que tenho de prazer. Também analisamos possíveis caminhos para que eu possa explorar ainda mais possibilidades, sem tentar controlar tanto a situação.

Para o meu alívio, não falamos sobre vibrações, energias ou teorias religiosas, como acontece em atendimentos focados em outras formas de conexão. Não há problema nenhum em abordagens místicas, no entanto, para mim, uma experimentadora sem ligação com espiritualidade, elas não funcionam.

A experiência varia de atendimento para atendimento, e tem quem diga que sentiu a vida mudar depois de conhecer o método. Não passei por grandes transformações na forma em que me toco ou me relaciono, mas fiquei mais consciente sobre a maneira como recebo interações de outras pessoas.

No caminho para casa, passei o dedo na dobra do antebraço e lembrei que, agora, sei como é receber um toque naquela região. Tinha adicionado mais uma recordação ao meu corpo. Não era uma memória sexual ou afetiva. Depois que tomei coragem para tirar a roupa, aprendi mais uma forma de sentir prazer. E nem tinha transado com alguém.