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Isis Valverde se prepara para viver Ângela Diniz: 'Encontro força na dor'

A atriz Isis Valverde, que vai interpretar Ângela Diniz em filme de Hugo Prata - Divulgação
A atriz Isis Valverde, que vai interpretar Ângela Diniz em filme de Hugo Prata Imagem: Divulgação

Baárbara Martinez

Colaboração para Universa, em São Paulo

30/11/2022 04h00

Aos 35 anos, Isis Valverde reavaliou muitas questões em sua vida. Após ter perdido o pai, Rubens Valverde, de infarto, ter se tornado mãe de Rael, 4 anos, se separado de André Resende, finalizado seu contrato fixo com a TV Globo e ter se mudado para Los Angeles (EUA), a atriz encara as grandes mudanças como um combustível.

Embalando essa nova etapa, ela trabalha em seu mais recente projeto, um filme brasileiro que vai retratar a história de Ângela Diniz. Dirigido por Hugo Prata, o longa abordará capítulos da vida da socialite, assassinada por seu companheiro, Raul Fernando do Amaral Street, com quatro tiros. A morte dela, em 1976, mobilizou o movimento feminista, que rejeitou o veredicto de que Doca Street teria matado Ângela baseado na tese de legítima defesa da honra, que costumava ser bem aceita nos tribunais brasileiros na época (1979).

Ciente da importância dessa história, Isis conta que se entregou a uma preparação intensa. "Precisamos, sim, falar sobre violência doméstica, feminicídio, e discutir o machismo estrutural, que faz o algoz de vítima, se ele for um homem", comenta a atriz, em entrevista exclusiva a Universa.

Embaixadora do sabonete Francis, ela conta ainda o que faz para trabalhar o autocuidado —e como isso tem feito com que ela olhe para si de outra maneira.

Universa - O que você faz para se manter equilibrada e se conectar consigo mesma?
Isis Valverde - Faço ioga e muita análise (risos). A análise não é só para quem tem um grande problema, porque todo mundo tem algum, nem que seja mínimo. Se for parar para pensar, a vida é resolver problema. A diferença é o modo como você encara tudo isso. Levantar da cama é resolver algo, o que você vai tomar de café da manhã é outra questão, levar o filho para a escola já é outra. Tem que trabalhar, ser genial no que faz, sem esquecer ainda de cuidar de você. Tudo é uma função. Tudo depende de como você olha as coisas.

Você costuma postar nas redes sociais fotos e vídeos fazendo exercícios. Podemos dizer que o exercício tem um papel fundamental em sua vida?
Sim, fazer exercício é estar em movimento, o que é um processo para eu ficar calma. Tomar banho para mim também garante isso. Quando trabalho o dia todo, fico exausta, ligo o chuveiro no máximo, deixo a fumaça aparecer no ambiente, coloco um banquinho na frente da água, sento, e sinto a água caindo no corpo, principalmente nas costas. Um banho de banheira, um chuveiro forte, isso me acalma.

Você se considera ansiosa?
A ansiedade está sempre aí, mas tento manter a equalização. É fácil? Não, mas a gente tenta. Se você desistir, aí que você não vai conseguir. A minha busca é sempre essa, de dar o meu melhor. Aí, quando chegamos no final, pensamos: 'Olha, gente, caminhei bem, hein, caí aqui, tropiquei ali, mas cheguei viva'.

Falando em caminhada, você mudou a sua saindo do país. Como tem sido esse processo?
Minha vida deu um giro, foi me levando a esse caminho. Já tinha pensado nessa jornada. Acho que nada tem que ser um tropeção, às vezes até tem, mas tem que tomar cuidado. Eu sou meio impulsiva e a vida costuma ser maior que a gente, mas eu meio que me programei para todas essas mudanças. Já tinha programado minha vinda para fora antes da pandemia.

A pandemia dificultou algum dos seus projetos?
Meu pai faleceu, perdi muita gente que eu amava, muita gente. O ano de 2021 foi muito difícil. Foi um ano com perdas e eu sou muito ligada a pessoas da minha família, pessoas que eu amo. Então, foi algo muito forte e impactante. Ao mesmo tempo, esses episódios me deram muita força. Eu encontro força na dor, às vezes. Quando dói, é a hora que fico mais forte. Além disso, meu filho é onde encontro forças. Acho que tudo se encaminhou, depois de dois meses tudo voltou a fluir. Agora sofro só com personagem.

Podemos dizer que a maternidade foi um divisor de águas?

isis - Divulgação - Divulgação
Isis Valverde fala sobre os momentos desafiadores que viveu: 'Quando dói, é a hora que fico mais forte'
Imagem: Divulgação

Foi, sim. A maternidade me mudou de muitas maneiras. Este processo me traz muitas novas camadas. Eu não deixei de ser quem eu era, mas passei a ter um entendimento diferente para várias questões. A maternidade mudou a forma de me ver no mundo, me trouxe uma responsabilidade diferente. Afinal, sou responsável por uma pessoa que depende de mim para tudo. Me fez buscar outras maneiras de estar no mundo e de acomodar tudo em mim, porque além de mãe, sou mulher, atriz, escritora. Sou muitas coisas! Sou todas as versões que habitam em mim.

Você comentou que sofre com personagem. Agora, você vai dar vida a Ângela Diniz no cinema. Como está sendo esse trabalho?
Minha história com o diretor Hugo Prata aconteceu de uma forma muito natural. Ele até brinca que a primeira vez que me conheceu eu estava atrasada. Cheguei no teste toda atrasada e com um look totalmente nada a ver com a personagem (risos). Hugo fala que mesmo assim entreguei um p*** de um teste. O filme chegou assim para mim.

Qual a importância de fazer essa personagem?
Minha mãe sabe a história da Ângela, minha avó também. Foi algo que impactou gerações. Ela faz parte da nossa história como mulher, dentro dessa sociedade machista em que a gente vive e numa época em que era até permitido matar. A morte dela acabou com essa lei de violência contra a mulher. É cada mulher que faz um pedacinho, que constrói nossa sociedade. Ângela é uma mulher à frente de seu tempo. Uma mulher diferenciada. Ela merece nosso olhar.

Quando o filme será lançado?
Como as gravações já começaram, o lançamento do longa deve ser no próximo ano. Antes das gravações, tive uma preparação muito intensa, porque esse assunto mexe muito comigo, enquanto mulher. Vejo esse filme como algo muito atual. A discussão ainda está em voga.

Falando sobre mulheres que merecem o nosso olhar: além do talento na profissão, muitas pessoas falam sobre a sua beleza. Como você se sente em relação a isso?
Não sei se eu sou uma pessoa com essa autoestima. Eu gosto do que vejo quando me olho no espelho. Me amo do jeito que sou. No passado, falavam que eu era linda, mas faltava peito. Agora, está todo mundo tirando as próteses de silicone. É surreal isso! Não me acho essa cocada toda, agradeço que as pessoas gostem do meu trabalho, gostem de mim. Quem não gosta de ser elogiada, né?

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi publicado, o pai de Isis Valverde, Rubens Valverde, morreu de infarto, não de covid. O texto foi alterado.