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Quando filhos estão liberados para frequentar academia e fazer musculação?

Gustavo, de 15 anos, desde pequeno acompanha mãe Carol Dias, de 38 anos, durante as práticas dela. O menino ficava encantado pelos exercícios e passou a querer frequentar o lugar.  - arquivo pessoal
Gustavo, de 15 anos, desde pequeno acompanha mãe Carol Dias, de 38 anos, durante as práticas dela. O menino ficava encantado pelos exercícios e passou a querer frequentar o lugar. Imagem: arquivo pessoal

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa, em São Paulo

05/11/2022 04h00

Encarar esteira, anilhas, supino e leg press faz parte do combo de quem busca uma vida mais saudável e lota academias. Aí surge a dúvida: crianças e adolescentes também podem participar das aulas e fazer musculação? A resposta resumida é: depende.

Segundo o pediatra Nelson Douglas Ejzenbaum, membro da Academia Americana de Pediatria, os 12 anos já são um bom momento para o ingresso na academia, desde que esse pré-adolescente tenha suporte de equipe capacitada para se exercitar. "O uso de aparelhos e de pesos e o tipo de exercício, por exemplo, devem ser guiados por um profissional em educação física que sabe, de acordo com a idade, peso e desenvolvimento da criança, o que pode ou não ser usado", destaca o médico.

Mas existem contraindicações, principalmente com relação ao desenvolvimento dessa faixa etária e eventuais restrições. O pediatra ressalta que problemas posturais, neuromusculares ou qualquer outra condição de ordem física ou motora devem ser avaliados por um especialista anteriormente, entendendo a quais exercícios aquele adolescente poderá se dedicar.

Quando o exemplo vem de casa

Além de frequentar academia porque os amigos também vão ou, então, até por um desejo de socializar, existem crianças que pegam gosto pela academia desde cedo, justamente por virem os adultos da casa tão focados nos treinos e perceberem os benefícios dessa dedicação ao corpo e à saúde.

Esse é o caso de Gustavo, de 15 anos, que desde pequeno já acompanhava a mãe Carol Dias, de 38 anos, durante as práticas dela. Mesmo que só de espectador, o menino ficava encantado pelos exercícios e passou a querer frequentar o lugar.

"O Gu começou a treinar na academia com 14 anos, muito pelo meu exemplo, que treino assiduamente há mais de 8 anos. Ele sempre falou que queria fazer academia, então, esperamos a liberação médica para ele poder frequentar os treinos de musculação", conta a advogada catarinense, de São José.

Contudo, nem sempre o garoto foi fã dos esportes. A educação física da escola não era uma de suas aulas preferidas. Acabou sendo matriculado na natação para tratar condições respiratórias e foi aí que surgiu o gosto pelas atividades começou. No caso da musculação, atende orientação médica.

"Ele foi ao cardiologista e num ortopedista especialista de coluna. O Gustavo tem 34 graus de escoliose e a academia foi uma indicação médica. Ele precisa do fortalecimento muscular para não ter de usar colete ou operar", relata Carol.

Mãe e filho tentam encontrar momentos para treinar juntos, conciliando trabalho e escola. Disso, só têm surgido benefícios, conforme elenca a advogada. "No caso específico dele, é a saúde em primeiro lugar, seguida da melhora na disposição e concentração nos estudos. Sem contar na autoconfiança que vem desenvolvendo a cada evolução que conquista", diz.

Musculação para adolescentes

Embora existam diversas possibilidades na academia, a musculação é sempre uma das preferidas dos jovens - como no caso de Gustavo. Isso se dá, principalmente, pela importância dada à imagem na adolescência. Mas, antes de se jogar nos pesinhos, é importante ter noção do que vai encarar, inclusive o que é, de fato, a musculação.

"Define-se por exercícios múltiplos em que são exploradas as variáveis de treinamento, como sobrecarga, amplitude e tempo de contração. Dividimos os grupos musculares a serem trabalhados de acordo com o nível de cada pessoa", explica o educador físico Rafael D'Avila.

O preparador destaca os benefícios conquistados com a prática, como ganho de força, resistência, emagrecimento, definição muscular e aumento de volume muscular, entre outros. Ele lembra ainda que os objetivos com a musculação devem ser tratados individualmente, com definição de treinos a partir de metas pessoais.

Para Rafael, as vantagens podem ser ainda maiores para o público mais novo? "Ajuda a melhorar a autoestima da criança e do adolescente, incentiva a prática esportiva e as atividades coletivas, favorece uma boa comunicação, melhora a qualidade de vida e desperta o olhar para uma vida mais saudável", acrescenta.

Sempre com acompanhamento

Vale ressaltar que, além da liberação médica, os jovens precisam de supervisão profissional durante a prática - afinal, apenas pessoas qualificadas podem instruir sobre o modo correto de cada exercício, definir os treinos mais indicados e observar a evolução e o desempenho.

Com todo esse suporte, o educador físico explica que, a partir dos 16 anos, alguns princípios de treinamento de força podem ser incluídos na rotina da academia do adolescente, desde que sem exageros, para evitar problemas.

Autoimagem e sobrecarga

Se por trás da musculação pode existir uma preocupação excessiva com a própria imagem, é necessário os pais atentarem quais os motivos que levam o filho a querer malhar, bem como em eventuais e possíveis exageros.

"Quando necessário, também pode haver auxílio de um psicólogo, nos casos em que a não aceitação do seu biotipo acaba prejudicando e fazendo a criança ou adolescente exagerar e até buscar artifícios, como dietas exageradas", diz o preparador.

É recomendado que a família e os profissionais se mantenham atentos aos sinais capazes de indicar exageros, assim como cobranças individuais e, principalmente, sobrecarga nos treinos - que podem trazer impactos à saúde física.

Além da musculação

Se a musculação não for a principal escolha de um adolescente ou, então, ele descobrir após algum tempo de prática que não gostou da proposta, existem outras possibilidades na academia.

"As atividades físicas para os mais novos devem ser agradáveis e apropriadas ao crescimento e desenvolvimento, levando em consideração aspectos lúdicos também. Podem incluir caminhada, artes marciais, esportes e até o fortalecimento dos músculos e ossos", considera a fisioterapeuta Vanda Pereira, coordenadora do curso de Fisioterapia da Estácio Curitiba.

Com relação aos resultados esperados ao matricular o filho na academia, a profissional diz que, em primeiro lugar, pode-se esperar que um novo hábito - bastante positivo - seja desenvolvido a partir dos exercícios. Por isso, acima de tudo, é necessário haver um respeito pelos gostos e adaptação daquele jovem.

Da mesma forma, não se pode ignorar a existência de riscos em qualquer prática. Isso porque, segundo Vanda, mesmo não havendo contraindicações para alguns exercícios, ainda é possível haver perigos, sobretudo quando não são feitos corretamente.

A fisioterapeuta reforça alguns cuidados que os pais devem ter ao matricular os filhos na academia:

  • Encorajar a realização de atividades adequadas com as habilidades e interesses das crianças;
  • Observar se o crescimento e o desenvolvimento hormonal está de acordo com o que seria o adequado;
  • Acompanhar a dieta;
  • Garantir condições de exercício seguras;
  • Ficar atento ao aparecimento de dores, transtornos alimentares, distúrbios do sono e ansiedade;
  • Evitar cargas elevadas sobre a coluna;
  • Priorizar movimentos e habilidades naturais, conforme o desenvolvimento psicomotor da criança, no lugar de exercícios muito elaborados;
  • Considerar aspectos emocionais, quando a realização da atividade envolve questões competitivas, por exemplo.