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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Escoliose nem sempre causa dor. Saiba reconhecer esse desvio de coluna

A escoliose é caracterizada por alteração no alinhamento dos ombros e do quadril - iStock
A escoliose é caracterizada por alteração no alinhamento dos ombros e do quadril Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para o VivaBem

12/11/2019 04h00

Resumo da notícia

  • A escoliose é a rotação ou desvio da coluna que faz com que ela apresente uma curva lateral
  • Quando está presente, pode-se observar a alteração do alinhamento dos ombros e quadris, além de assimetria nas mamas em meninas
  • Em 80% dos casos, as causas são desconhecidas e, por isso, ela é descrita como escoliose idiopática
  • Os tipos de tratamento variam de acordo com a gravidade do problema e vão desde o acompanhamento médico periódico, até cirurgias

Muitas pessoas guardam nas suas memórias de infância uma típica exortação materna —olha a postura, meu filho! Porém, para parte dessas crianças, alinhar os ombros, os quadris e se manter ereto era uma tarefa impossível. Isso porque o desalinho poderia ter como causa uma curvatura lateral anômala da coluna vertebral. A esse problema se dá o nome de escoliose.

A condição afeta de 2% a 3% da população em geral, e é mais prevalente entre as meninas, que ainda têm 8 vezes mais chances de a curvatura progredir, especialmente na adolescência. A situação poderá ser tão grave que a indicação cirúrgica será a única solução. Os dados são da Fundação Nacional para a Escoliose, dos Estados Unidos.

Entre os médicos, o maior desafio dessa enfermidade é que, na maioria das vezes, não se conhece a causa de seu aparecimento. Apesar disso, nem toda escoliose é patológica, ou seja, pode ser definida como uma doença. Em muitos casos, a conduta médica pode ser apenas observar e acompanhar a evolução.

Entenda o problema

A sua coluna foi projetada para estar alinhada ao seu próprio eixo. Quando ocorre uma rotação ou o desvio desse ponto observa-se uma curvatura, ou seja, a coluna pende para um lado, de forma que, quando a pessoa é observada de costas, há um desnivelamento dos ombros. A depender da extensão desse desnível ou a origem do problema, a escoliose será considerada patológica ou não.

Possíveis causas

Em 80% dos casos, a origem da escoliose é desconhecida e os médicos se referem a ela como idiopática. A escoliose é assim classificada:

  • Infantil - acontece até os 3 anos de idade e é rara;
  • Juvenil - de 3 até 10 anos - corresponde de 20% a 30% dos casos;
  • Do adolescente - mais comum em 80% dos casos, a partir dos 10 anos de idade. Nessa faixa etária, as meninas são mais afetadas;
  • Do adulto - geralmente presente na infância ou na adolescência, só foi detectada após os 18 anos.

Outras causas possíveis

  • Escoliose congênita: a pessoa nasce com o problema, cuja causa poderá decorrer da má formação de uma vértebra, por exemplo;
  • Doenças neurológicas: como a paralisia cerebral, poliomelite ou mielomeningocele.

E atenção: a escoliose não tem como causa carregar mochilas escolares ou objetos pesados apenas de um dos lados do corpo, ou mesmo práticas esportivas, postura incorreta ao dormir, e até ficar muito tempo em pé ou sentado. Contudo, isso não significa que não é preciso ter cuidado com a postura e o excesso de peso.

A escoliose pode ser hereditária?

De acordo com Fernando Herrero, professor da divisão de cirurgia de coluna do Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), cerca de 3 em cada 10 pessoas com escoliose idiopática têm histórico familiar.

"Os principais estudos sobre a origem da escoliose apontam para um componente hereditário, o que se confirma pela maior ocorrência dela entre irmãos gêmeos", diz o médico. "Além disso, aproximadamente 1 em cada 3 crianças, cujos pais tenham escoliose, desenvolverão o problema", completa.

Como identificar os sintomas

Geralmente, a escoliose leve não apresenta sintomas. De 20% a 30% das pessoas poderão sentir dor nas costas. No entanto, os sinais mais comuns são os indicados abaixo:

  • Diferença na altura dos ombros;
  • Assimetria nas mamas das meninas;
  • Presença de gibosidade nas costas (saliência);
  • Cabeça não centralizada;
  • Escápula mais alta e possivelmente mais proeminente de um lado;
  • Espaços alterados entre os braços e o tronco;
  • Um lado do quadril mais proeminente.

A hora certa de procurar um médico

Na maioria das vezes, a identificação da escoliose se dá por meio de triagem feita nas escolas pelos professores de educação física, ou mesmo em casa, quando os pais notam o desalinhamento do ombro ao vestir as crianças. Ao perceber algum dos sinais acima, procure um especialista.

Qual é o médico mais indicado?

Como, em geral, a escoliose pode ser notada já na infância, por vezes, o primeiro médico a examinar a criança será o pediatra ou o clínico geral.

Contudo, ela deverá ser encaminhada para um ortopedista que terá melhores condições de avaliar o grau da angulação da escoliose, identificar a causa, se houver, além de seus possíveis desdobramentos, conforme o potencial de crescimento do paciente.

Como é feito o diagnóstico

Ele é clínico, isto é, decorre do exame físico e de uma conversa com o médico. Este avaliará as possíveis alterações da coluna, o que inclui o chamado Teste de Adams que verifica a presença de gibosidade.

Eduardo Murilo Novak, presidente da SBOT-PR (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia da Regional do Paraná), explica que é essencial que se faça uma radiografia da coluna. "O exame não só confirma o diagnóstico, como permite medir a angulação —a técnica se chama ângulo de Cobb— e ainda possibilita calcular o seu potencial agravamento. Quanto mais cedo fizermos o diagnóstico, mais fácil será a correção e controle do desvio", fala o especialista.

Como é feito o tratamento

A gravidade da curva (ela é medida em graus) vai orientar o médico na decisão da melhor forma de tratamento. A idade é outro fator a influenciar a estratégia terapêutica. A depender da idade do paciente, o potencial crescimento orientará o caminho a seguir.

Quando a alteração é pequena (menos que 20 graus), e o crescimento já chegou no seu limite, a indicação é o acompanhamento semestral para observar eventual piora. A radiografia deve ser feita uma vez a cada ano.

Já nos casos graves, quando a curvatura é de 25 a 50 graus (e até acima desses limites), a cirurgia é a única forma de corrigir a escoliose. A intervenção é conhecida como artrodese da coluna e pode até ser feita em mais de uma fase, com abertura da parte da frente e de trás do tronco para a introdução de hastes e parafusos que garantam o alinhamento da coluna.

Usar colete é sempre necessário?

O colete será a solução nos casos em que se deseja evitar a progressão da escoliose. Ele é utilizado na presença das seguintes características:

  • Curva moderada: (25 a 40 graus);
  • Curva progressiva: quando ocorre uma progressão periódica da curvatura, o que dependerá da idade, do gênero e da maturação do esqueleto da pessoa;
  • Crescimento em curso: a idade do paciente revela se ele continuará a crescer.

Se eu fizer só fisioterapia vai resolver?

"Grandes curvaturas podem causar dor, diferença no tamanho das pernas e alteração na forma de caminhar, além de desencadear problemas respiratórios, cardiovasculares e até digestivos", esclarece Hildemberg Santiago, professor adjunto do curso de fisioterapia do ISB-UFAM (Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas). Portanto, a fisioterapia é aliada ao orientar práticas de realinhamento postural, o que melhora a respiração e o equilíbrio.

Apesar disso, todos os especialistas consultados nesta matéria advertem: há pouca evidência científica sobre os benefícios da fisioterapia para interromper o avanço da escoliose, em especial durante o período de crescimento. Importante saber que após essa fase do desenvolvimento é raro que a escoliose progrida rapidamente.

Antes de aderir a qualquer tipo de tratamento que promete corrigir a escoliose, "colocar a coluna no lugar" por meio de massagem ou tração etc, sem o uso do colete, consulte um médico de sua confiança.

O que acontece se você não tratar a escoliose?

Caso o tratamento não seja realizado ou ele ocorra de forma inadequada, a consequência é a progressão da curva da coluna. A idade e a gravidade dela são os dois fatores que determinam a possibilidade de progressão da escoliose. Por exemplo, crianças menores de 10 anos de idade, com curvas acima de 35 graus, provavelmente irão piorar sem o devido tratamento, principalmente se forem meninas.

Dá para prevenir?

Não é possível evitar que a escoliose apareça. Mas dá para prevenir a progressão da curvatura. Daí a importância do diagnóstico precoce. Quanto mais cedo for o diagnóstico, maiores serão as chances de ter um bom resultado.

Fontes: Eduardo Murilo Novak, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia da Regional do Paraná, e professor dos cursos de Medicina da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Fernando Herrero, docente da divisão de cirurgia de coluna do Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e cirurgião de coluna do Grupo de Ortopedia do Hospital Sírio Libânes - Unidade de Brasília; Hildemberg Santiago, professor adjunto do curso de Fisioterapia do ISB da UFAM (Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas). Revisão técnica: Eduardo Murilo Novak.

Referências: NSF (National Scoliosis Foundation); Romano M, Minozzi S ET alli. Exercises for adolescent idiopathic scoliosis: a Cochrane systematic review. Spine. 2013; Hildberg Agostinho da Rocha Santiago. A influência da escoliose idiopática do adolescente e do seu tratamento cirúrgico sobre o equilíbrio semi-estático. Dissert. Mestrado. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. 2015.