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Para transar e fotografar: arquiteta projeta suítes de motel instagramáveis

A arquiteta Fabiola Fera na suíte Super Luxo do motel Classe A, em São Paulo - Divulgação
A arquiteta Fabiola Fera na suíte Super Luxo do motel Classe A, em São Paulo Imagem: Divulgação

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

28/07/2022 04h00

Os motéis sempre fizeram parte do imaginário da arquiteta paulistana Fabiola Fera, 48 anos: ela cresceu em uma região de São Paulo com grande concentração de estabelecimentos do tipo e, mais tarde, jovem adulta, costumava recorrer a eles porque a família não era muito permissiva em relação a dormir em casa com o namorado. O que ela não sabia, até então, é que faria carreira justamente projetando estes espaços —desde 2010, ela já assinou mais de 150 em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Miami, nos Estados Unidos.

Fabiola começou no início da última década, período em que os motéis passavam por transformações: deixavam de se "esconder" para virar espaços descolados, quase objetos de desejo. A arquiteta —que ainda é uma das poucas mulheres projetando motéis no Brasil— impulsionou esse movimento, criando suítes com cenários bem instagramáveis. A ideia era que "as pessoas tirassem foto nesses cenários e dessem check-in no motel, sem vergonha de serem vistas ali".

Além disso, ao identificar que o público dos motéis era majoritariamente formado por casais em relacionamento estável e quem escolhia a suíte era quase sempre a mulher, ela ajudou a derrubar o conceito antiquado de que os motéis eram espaços para o público masculino, e passou a substituir quartos com uma estética "agressiva" —com muito vermelho e preto, algema e chicote— por espaços mais lúdicos, com experiências de descompressão, que deixam à vontade tanto homens quanto mulheres.

Nova geração de motéis

Quando começou, Fabíola encontrou uma nova geração de donos de motéis, muitos deles herdeiros dos estabelecimentos dos pais e que estavam dispostos a mudar um pouco a imagem do setor.

Fabiola - Divulgação - Divulgação
O quarto céu, do motel Lush, projetado por Fabiola Fera
Imagem: Divulgação

"Antigamente, uma pessoa nunca falava que era dona de um motel. Com o sexo sendo discutido e os tabus diminuindo, as novas gerações da motelaria entraram no mercado querendo ter orgulho do trabalho que fazem, da experiência que oferecem", percebe.

A proposta que Fabiola começou a desenvolver partiu especialmente de dois dados: a maior parte do faturamento dos motéis vem de casais fixos e quem escolhe a hospedagem é quase sempre a mulher. "Com essas informações, essa visão antiquada, de que o segmento é uma coisa mais masculina, caiu por terra".

Ela achava a estética dos motéis, em geral, um tanto agressiva: "Você entrava e já via a imagem de uma mulher nua na parede, uma linguagem toda voltada para o masculino porque, até então, havia uma cultura de que a satisfação sexual era um assunto masculino. Tudo que falava de sexo, falava com o homem. Era como se o motel fosse um lugar aonde ele levava uma presa".

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A arquiteta Fabiola Fera, 48 anos
Imagem: Divulgação

Ao mesmo tempo, os estabelecimentos que tentavam mudar essa imagem optavam por uma espécie de apartamento decorado, muito elegante, mas frio, impessoal, sem muito apelo à sexualidade, lembra a arquiteta. "Tem motéis que não têm nada de agressivo, mas parecem uma clínica".

Suítes instagramáveis e erótico 'fora do comum'

A solução foi recorrer ao lúdico e à psicologia das cores e das formas para garantir que as suítes de motel fossem um lugar de "descompressão" para os casais e que, tanto o homem quanto a mulher, se sentissem à vontade no local —sua criações usam de cores vibrantes e luzes néon, por exemplo, mas tudo "fora daquele senso comum do que é erótico, aquela estética vermelha e preta, chicote e algema".

"Tentei propor uma linguagem estética que fosse libertadora, que fizesse as pessoas se sentirem à vontade, mais confiantes. A ideia é que o casal, mas especialmente a mulher, não se sinta intimidada pelo motel, mas curiosa", fala.

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Suíte projetada por Fabiola Fera no motel Lush, em São Paulo
Imagem: Divulgação

Entre os motéis mais conhecidos projetados por Fabiola estão o Lush e o Classe A, ambos na zona leste de São Paulo.

Neles, merecem destaque a suíte Céu, do Lush, toda revestida com estampa de nuvens e espelhos, com nicho ideal para tirar foto; e a Super Luxo, do Classe A, com uma área externa toda em tons de rosa, inclusive banheira e piscina, e parte da letra da música "A cor é rosa", do cantor Silva, adesivada na parede.

"Começou aquela onda de todo mundo dar check-in em todo lugar [no Instagram], e meu sonho era que as pessoas tirassem fotos nesses cenários e dessem check-in no motel, no sentido de não terem vergonha de serem vistas ali —a ideia era que, aos poucos, as suítes fossem virando objeto de desejo", fala Fabiola.