Profissional relata intimidação ao se aproximar de anestesista: 'Ríspido'
Marcela Lemos
Colaboração para Universa, no Rio de Janeiro
12/07/2022 18h29
Uma profissional de enfermagem que integrou a equipe do anestesista Giovanni Quintella Bezerra, 32 anos, preso por estupro na madrugada de segunda (11), relatou hoje em depoimento à Polícia Civil que chegou a sofrer sutis intimidações por parte do médico quando ela se aproximava da posição dele no centro cirúrgico.
A delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, e responsável pelo inquérito, contou que a profissional começou a desconfiar de atitudes incomuns do médico e foi tratada de forma ríspida por ele.
"Ele se sentiu incomodado e inclusive passou a olhar de forma intimidadora, começou a tratá-la rispidamente, dando a entender que ela não deveria estar na sala, fazia pressão para que ela se sentisse incomodada (...) Na verdade, a intenção pareceu colocar uma barreira para que as pessoas desistissem [de se aproximar]. Isso é imposição de poder abusivo."
De acordo com os depoimentos, as suspeitas sobre ele começaram um mês atrás no Hospital da Mulher Heloneida Studart.
Ao todo, seis casos de abuso estão sendo investigados. Entre eles, o episódio que resultou no vídeo obtido pela equipe de enfermagem, o caso de outras duas pacientes que fizeram cesarianas no mesmo dia na unidade e também mais três casos de mulheres que procuraram a delegacia para relatar a adoção de procedimentos incomuns durante o parto, como a sedação total da paciente.
A previsão da DEAM (Delegacia de Atendimento à Mulher) de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, é concluir o inquérito sobre o estupro da paciente flagrado em vídeo, no prazo de dez dias. Os demais casos suspeitos continuarão a ser apurados.
Ainda segundo a delegada Bárbara Lomba, se provada as sedações reiteradas das pacientes e desnecessárias, o profissional poderá ainda responder por outros crimes, além de estupro.
Bárbara destacou que há indicativos deque o anestesista agia sempre da mesma forma -por meio da sedação das mulheres.
Os dados de todas as pacientes atendidas por ele já foram requisitados ao hospital. Ainda não há informações sobre o número de cirurgias feitas pelo anestesista.
Giovanni Quintella ainda não tem defesa constituída. O advogado Hugo Novais declinou o caso no fim da tarde de segunda (11). O anestesista foi preso em flagrante pelo crime de estupro de vulnerável.
Entenda o caso
Giovanni Quintella Bezerra, de 32 anos, foi preso em flagrante na madrugada de segunda-feira (11) pelo crime de estupro de vulnerável.
Um vídeo gravado com um celular escondido na sala de cirurgia do Hospital da Mulher, em Vilar dos Teles, em São João de Meriti (RJ), mostra o profissional colocando o pênis na boca da paciente, que está dopada para o nascimento do bebê.
O vídeo foi gravado e entregue à polícia por enfermeiras da unidade, que desconfiaram da quantidade de sedativo usado pelo anestesista em outras ocasiões e da movimentação dele próximo à paciente, segundo a Polícia Civil.
Nas imagens gravadas, a mulher aparece deitada e inconsciente durante o parto. Do lado direito do lençol, sempre usado em cesarianas, o médico aparece colocando o pênis para fora e introduzindo o órgão da boca da mulher. O ato dura dez minutos. Do outro lado do lençol, a menos de um metro de distância, está a equipe médica trabalhando no nascimento do bebê.
A reportagem teve acesso às imagens, mas optou por não publicá-las para preservar a vítima.
O pai da criança foi comunicado sobre o crime e, até a saída da polícia da unidade de saúde, a vítima ainda não havia tomado conhecimento do estupro.
Antes de ser flagrado, o anestesista já havia participado de outras duas cirurgias e apresentado o comportamento suspeito.
Universa tentou contato com a defesa do médico, o advogado Hugo Novais, por telefone e por mensagem de aplicativo, mas ele apenas afirmou que se pronunciará em breve. A reportagem será atualizada assim que haja uma manifestação.
O crime de estupro de vulnerável tem pena prevista de 8 a 15 anos de prisão.