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'Equipe suspeitava', diz delegada sobre estupro cometido por anestesista

Enfermeiras desconfiaram de quantidade de sedativos usada pelo anestesista Giovanni Quintella Bezerra - Reprodução
Enfermeiras desconfiaram de quantidade de sedativos usada pelo anestesista Giovanni Quintella Bezerra Imagem: Reprodução

Marcela Lemos

Colaboração para Universa, no Rio de Janeiro

11/07/2022 11h42Atualizada em 11/07/2022 13h02

Após ser preso em flagrante por estupro de vulnerável, o médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, 32, será investigado por ter feito possíveis outras vítimas. Segundo a delegada Bárbara Lomba, responsável pela prisão, o médico trabalha em outras unidades de saúde, e será apurado se há relatos de novos crimes. Quatro pessoas da equipe médica já foram ouvidas e o pai da criança foi comunicado sobre o estupro - a vítima ainda não tomou conhecimento, segundo a delegada.

A delegada afirmou que a sedação total de outras pacientes grávidas levantou suspeitas na equipe, o que os motivou a colocarem um celular em um armário do centro cirúrgico, que era onde ele costumava ficar.

"Não há dúvidas em relação ao crime que foi praticado. Essa equipe vinha suspeitando dos procedimentos que o médico vinha adotando em outras cirurgias. Principalmente a sedação desnecessária e a tentativa de dificultar a visão de outros médicos de uma parte do corpo da vítima, onde ele atuava, do pescoço para cima".

Antes de ser flagrado, o anestesista já havia participado de outras duas cirurgias e apresentado o comportamento suspeito. "Eles notaram o mesmo procedimento nessas duas cirurgias e então resolveram que na terceira iriam tentar gravar essas imagens", disse Bárbara.

À TV Globo, a delegada acrescentou: "É importantíssimo destacar a atuação da equipe de enfermagem, cidadãos exemplares, que notaram em outras cirurgias o movimento do corpo desse médico, o autor do crime, e, para que houvesse uma prova, posicionaram um telefone celular de uma forma que não se visse, para verificar se realmente era aquilo que estava acontecendo, o que eles estavam pensando. O criminoso ministrava alguma droga para sedar para conseguir cometer o crime."

Na unidade, ele preferiu ficar em silêncio e não deu declarações. O advogado Hugo Novais, que o representará, afirmou que se pronunciará em breve.

Entenda o caso

Giovanni Quintella Bezerra foi preso em flagrante na madrugada de hoje, pelo crime de estupro. Um vídeo gravado com um celular escondido na sala de cirurgia do Hospital da Mulher, em Vilar dos Teles, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, mostra o profissional colocando o pênis na boca da paciente, que está dopada para o nascimento do bebê.

Nas imagens gravadas, a mulher aparece deitada e inconsciente durante o parto. Do lado direito do lençol, sempre usado em cesarianas, o médico aparece colocando o pênis para fora e introduzindo o órgão da boca da mulher. O ato dura dez minutos. Do outro lado do lençol, a menos de um metro de distância, está a equipe médica trabalhando no nascimento do bebê.

A reportagem teve acesso às imagens, mas optou por não publicar imagens do crime, para preservar a vítima.

Por meio de nota, a Fundação Saúde do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Saúde afirmaram que repudiam veementemente a conduta do médico e "estão à disposição da polícia colaborando com a investigação". A Secretaria informou ainda que "será aberta uma sindicância interna para tomar as medidas administrativas, além de notificação ao Cremerj".

Em nota, a SES disse também que a equipe do Hospital da Mulher está prestando apoio à vítima e a sua família.

"Esse comportamento, além de merecer nosso repúdio, constitui-se em crime, que deve ser punido de acordo com a legislação em vigor".

Procurado, o Cremerj informou que recebeu as denúncias e abriu um procedimento cautelar para a suspensão imediata do médico dada a gravidade das imagens. "O Cremerj instaurará, após procedimento cautelar, um processo disciplinar de cassação", afirmou o presidente do conselho, Clovis Munhoz.

A violência sexual contra a mulher no Brasil

No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.

Como denunciar violência sexual

Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.

Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.

Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.