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Golpe no Tinder: 'Após dar 25 mil reais para ele investir, fui bloqueada'

Lidiane Pereira, de 26 anos, fez um BO depois de perceber que tinha tomado um golpe de 25 mil reais do namorado  - Acervo pessoal
Lidiane Pereira, de 26 anos, fez um BO depois de perceber que tinha tomado um golpe de 25 mil reais do namorado Imagem: Acervo pessoal

De Universa, São Paulo

18/06/2022 15h19

A esteticista Lidiane Pereira da Silva, 26 anos, de Goiânia, acreditava estar em um relacionamento há dois meses com Eduardo Thomas, que ela conheceu no Tinder, quando transferiu 25 mil reais para o então namorado investir em um negócio que, segundo ele, era lucro na certa: comprar iPhones nos Estados Unidos e revender no Brasil. "Ele me convenceu que eu ia lucrar de 4 a 10 mil reais. Vi ele falar com o fornecedor e fazer a compra ao meu lado", afirma, em entrevista a Universa.

Lidiane, que recentemente havia vendido seu carro, passou 25 mil reais para Eduardo. Mas quando os aparelhos nunca apareceram, percebeu que havia algum problema. Confrontou o namorado, que passou a evitar contato com ela. Então, a esteticista decidiu prestar queixa na polícia. Quando mandou o boletim de ocorrência para ele, foi bloqueada nas redes sociais e nunca mais conseguiu contato. Muito menos reaver seu dinheiro. Ela conta a história toda do golpe a seguir:

"Ele começou a fazer a minha cabeça para investir meu dinheiro"

@lidianegomesdasilva20

"Essa história aconteceu em meados de 2021. Demos match no Tinder e começamos a conversar. Falamos por duas semanas até marcarmos de nos vermos pela primeira vez. Eu estava em um barzinho com uma amiga e ele não parava de me mandar mensagem. Ele me chamou para sair antes, mas eu tinha recusado.

Nesse dia, como eu estava tranquila, o convidei para ir lá. Ele não tinha carro, então fui buscá-lo em casa. Foi quando nos vimos pessoalmente pela primeira vez.

Ficamos até tarde no bar, bebendo e conversando. Quando o levei para casa, ele me chamou para ficar, para dormir lá. Disse que não, que nem nos conhecíamos direito. Nesse dia que ele me falou que investia em iPhones. Eu até tinha amigos que tinham comprado celulares dele.

Começamos a ter um relacionamento. Eu passava o final de semana na casa dele e ele na minha. Foi então que Eduardo começou a fazer a minha cabeça para entrar no investimento com ele.

Ele sempre me falava para vender meu carro, pois como ele comprava esses aparelhos no exterior, se eu investisse uns 25 mil reais poderia ter um lucro que ia variar de 4 a 10 mil reais.

Pegava a calculadora e fazia os cálculos na minha frente, mostrando o quanto valia a pena. Eduardo afirmava que não investia porque não tinha o dinheiro, mas que tinha um valor para receber.

Eu não tinha esse dinheiro todo na minha conta. E como meu carro só estava me dando despesa, pensei: 'por que não vendê-lo para fazer um investimento?', afinal, carro só dá gasto.

As pessoas achavam que eu estava com ele só por ser bonitão, mas eu também fiquei interessada no negócio. Após a venda do meu veículo, em setembro de 2021, transferi para ele 25 mil reais.

"Depois que fiz a transferência, só nos vimos mais duas vezes"

Eu estava ao lado dele, no apartamento dele, quando Eduardo fez a compra e conversou com o fornecedor. Eu era a namorada dele, dormia com ele na casa dele. Ouvi ele comprando 15 iPhones 8 Plus. Agora tínhamos que esperar 30 dias para eles chegarem e para que pudéssemos revender e ter lucro. Ele me falou, inclusive, que me passaria o código de rastreio da compra no dia seguinte. Nunca vi esse código.

Ainda tinha sobrado cerca de 20 mil reais da venda do meu carro e ele queria me convencer a usar todo o dinheiro nessa história. Até a minha mãe ele quis envolver nisso. Mas não usei todo o dinheiro.

Depois que fiz a transferência, só nos vimos mais duas vezes. Passei o feriado com ele e, na semana seguinte, quando perguntei se era pra eu ir lá ou se ele viria até minha casa, Eduardo falou que eu não precisava me deslocar, que iria me encontrar. Mas não foi. Percebi que ele estava me enrolando.

Já estava próximo da data que chegaria os aparelhos e até então eu não tinha visto o tal código de rastreio.

Falei para ele que, se não me desse notícias de onde estavam os celulares, eu iria até a delegacia fazer um boletim de ocorrência. E foi o que eu fiz: fui lá e contei toda a minha história.

Como tínhamos um relacionamento, meu caso foi para a Delegacia da Mulher. Me mandaram para uma psicóloga e me falaram que fui vítima de violência psicológica. Colheram meu depoimento e das testemunhas.

Com o BO ele nem se importou, mas quando foi aberto um inquérito e coloquei a história em um jornal da minha cidade, ele entrou em contato comigo pedindo para que eu retirasse a denúncia, dizendo que ia devolver meu dinheiro.

Falou que iria me pagar antes de chegar o dia de eu prestar depoimento. Mesmo eu cobrando, nada aconteceu. A última vez que nos falamos foi antes de eu entrar na sala de depoimento. Depois disso, ele me bloqueou em todas as redes sociais.

Golpista segue impune

Até hoje ele não foi intimado pela polícia. Ele não tem nada no nome dele, nem carteira de motorista. Nem a vacina da Covid-19 ele não quis tomar para não precisar atualizar o endereço dele no sistema do governo.

A única maneira de acompanhá-lo é pelas redes sociais, que seguem ativas. Ele morou em uma república por um tempo e, quando vi no Instagram uma pessoa que tinha marcado ele em uma foto, entrei em contato e contei tudo. Pedi para que não o expulsassem para que eu pudesse ir lá com a justiça. Mas o colocaram pra fora na mesma noite. Aí, perdi o rastro dele novo.

Eu cheguei a conversar com algumas pessoas que também caíram no golpe dele e também fizeram boletim de ocorrência. Na ficha dele na polícia tem registros de casos de estelionato. Até no irmão ele deu um golpe de 8 mil reais. Quando eu falava com a mãe dele por telefone, ela nem sabia onde ele morava. Perguntava pra mim essas informações.

Eu tive depressão, ansiedade e transtorno de adaptação, que é quando algum fato que acontece em nossas vidas abala muito o emocional. Fiquei sem trabalhar, foi horrível. É algo que vou carregar para o resto da vida.

Sei até do caso de uma menina que ele ficou uma vez que tentou convencer, com a mesma história, a sacar os 20 mil reais que ela tinha na conta do FGTS para fazer esse investimento em iPhones. No meu caso, tenho prints e áudios com provas de tudo. Em um áudio que ele me mandou, falava sobre colocar os '24 mil reais para girar'.

Ele continua postando nas redes sociais em bares chiques e ostentando. Eu sou bloqueada, mas conheço pessoas que o seguem e sabem da história que me mandam prints. Meu maior desejo é que ele não se dê bem com esses golpes. Ele continua fazendo vítimas", Lidiane Pereira da Silva, 26 anos, esteticista, Goiânia (GO)

A reportagem tentou encontrar algum meio de comunicação com Eduardo Thomas, mas não conseguiu contato. O espaço fica aberto se ele quiser se manifestar.