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6 traumas familiares sensíveis em 'This is Us' que não esqueceremos

This is Us - Reprodução
This is Us Imagem: Reprodução

Nathália Geraldo

De Universa

07/01/2022 04h00

Se você segurou as lágrimas ou deixou que elas rolassem em pelo menos um episódio de "This Is Us", série que estreou a sexta e última temporada nesta quinta-feira (7) no catálogo do Star+, no Brasil, e originalmente transmitida pela TV norte-americana NBC, sabe que a vida da família Pearson carrega uma tonelada de aprendizados sobre relações e transformações por que cada indivíduo pode passar ao longo da vida. A série, que começou em 2016, é assistida por mais de 10 milhões de fãs semanalmente nos EUA.

Na infância e na adolescência de Kevin (Justin Hartley), Kate (Chrissy Metz) e Randall (Sterling K. Brown) e no dia a dia do casal Rebecca (Mandy Moore) e Jack (Milo Ventimiglia) à frente do desenvolvimento dos filhos, os personagens deram voz a muitos traumas familiares. Questões sensíveis, como adoção, racismo, gordofobia, alcoolismo, síndrome da impostora, gravidez, se misturaram a choradeira e sorrisos— deles e do público. A convite de Universa, a psicóloga e pesquisadora feminista Bianca Mayumi, que acompanha "This Is Us", analisou 6 traumas e questões familiares que os Pearson ensinaram aos telespectadores até aqui, ou seja, até a quinta temporada.

O papel do "herói" é uma cilada

Sabe aquela impressão romantizada de que pai tem que ser herói e mãe precisa lidar com tudo com sorriso no rosto? "This Is Us" deu a lição de que tentar manter a "perfeição" é um caminho direto para se cobrar além do que pode cumprir. Crianças, aponta a psicóloga, também reproduzem essa lógica, tentando se esforçar ao máximo para que dores, traumas e inseguranças não venham à tona. Libertar-se disso é se livrar de uma angústia pelo que não é possível alcançar.

"Na trama é possível ver que muito do que foi colocado para eles, como dores, traumas e inseguranças, vinha da vontade de serem pessoas boas, mas com autocobrança no que se propunham a fazer. Rebecca no amor que dava aos filhos, Randall, na forma com que dava conta de tudo, Kevin em relação a sua fama e Kate, para ser a pessoa amada por todos e que queria mostrar que estava bem", analisa.

Quando vemos o crescimento dos personagens, enxergamos que o momento em que eles paravam de se violar era também o momento em que as próprias exigências pela excelência, que é ilusória e angustiante, sumiam.

Comparação e vontade de agradar podem levar a abusos

Kate vive na adolescência o hábito de se comparar aos irmãos e à mãe, além de observar durante a vida toda as dinâmicas familiares para tentar não desagradar ninguém.

Resultado: a descoberta do amor-próprio e do amor nas relações foi mais dolorosa para ela, que também não se encaixava por viver em uma sociedade gordofóbica, apesar de ser muito incentivada no núcleo familiar a não ter vergonha de si mesma.

Segundo Bianca, o conceito de "amor" foi deturpado por ela. A ponto de ter vivido um relacionamento abusivo com o primeiro namorado. "Embora ele a protegesse, isso era feito de forma que adoecia e abusiva."

Uma pessoa com dependência em álcool tem questões profundas

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Kevin, de 'This is Us'
Imagem: Divulgação

"O problema familiar que se evidenciou muito na trajetória do Kevin está relacionado, como para muitas pessoas, ao alcoolismo. A doença deveria ser vista como raiz de suas questões, entre elas, a autoconfiança prejudicada.

Durante boa parte da série, Kevin se sente na obrigação de se moldar ao que outras pessoas querem, seja na sua relação com o pai, Jack, seja em relação ao trabalho ou na própria relação com a parceira Madison", pontua.

O racismo fora e dentro de casa é um problema de todos

Nos episódios em que Randall conta (e encontra) sua história sobre a família biológica, o público vê como o silenciamento sobre as questões raciais e a identidade do personagem o transformaram em alguém distante de suas próprias verdades. "This Is Us" mostrou cenas em que ele foi discriminado racialmente, em diferentes fases da vida. Mas, para Bianca, o trunfo é os roteiristas terem tocado no tema de forma com que mesmo quem não tem tanta sensibilidade a ele pudesse entender a dor de Randall.

randall - Divulgação - Divulgação
Randall (Sterling K. Brown) e Beth (Susan Kelechi Watson), na série
Imagem: Divulgação

"Porém, precisamos entender que não é necessário vínculo para ter empatia, para sermos antirracistas. Não precisamos ser filhos de alguém, primos de alguém ou amigos de alguém negro, uma vez que esse problema é estrutural, social e temos que nos responsabilizar para mobilizar essa estrutura, se prontificando a escutar, acolher, estar ali presente.

É promover um local seguro, de respeito e acolhimento para essa pessoa que está sofrendo racismo ou qualquer outra discriminação.

Envelhecer não é um fardo

Rebecca é uma mãe ativa, cuidadora e que tenta equilibrar mil pratinhos na criação dos filhos. À medida que envelhece, as dificuldades de memória e locomoção dela viram questões para a família. Todos se preocupam com como lidar com suas "fraquezas".

A série, no entanto, mostra diferentes perspectivas para o envelhecimento da personagem: enquanto Randall, Kate e Kevin depositam expectativas em como ela viverá a velhice, Rebecca se acolhe e passa a entender suas limitações.

"Existe um preconceito ainda de que pessoas idosas são inválidas, não podem viver novas experiências e estão fadadas à finitude. O que é podado para elas diz muito mais respeito às expectativas, desejos e cuidados dos filhos do que se relaciona a uma vontade de entender os sonhos e desejos da mãe", diz a psicóloga.

Família é um apoio, mas processos terapêuticos são necessários

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Chris Sullivan (Toby), Chrissy Mete (Kate Pearson), Mandy Moore (Rebecca Pearson), Milo Ventimiglia (Jack Pearson), Justin Hartley (Kevin Pearson), Sterling K. Brown (Randall Pearson), Susan Kelechi Watson (Beth Pearson), o elenco principal de "This Is Us"
Imagem: Divulgação/NBC

A família a que pertencemos, claro, tem problemas. E a de "This Is Us" naturalizou isso ao mostrar que, ainda que crescendo em um lar amoroso, cada indivíduo tem seus desdobramentos emocionais e suas vulnerabilidades. Quando o calo aperta, no entanto, não são só os familiares que podem ajudar.

"Nos deparamos com diversas situações de comunicação e apoio, o Kevin tem uma psicóloga da clínica de recuperação, Beth (Susan Kelechi Watson) fez da dança um grande apoio, Randall se sentiu compreendido por um terapeuta negro ao falar de suas vulnerabilidades enquanto homem negro. Conseguimos ver que, embora a família seja importante, não é preciso ser o único apoio. A gente pode ter diferentes recursos terapêuticos para manejar nossas situações e desafios pessoais."

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi publicado, o primeiro marido da personagem Rebeca foi Jack Pearson, vivido pelo ator Milo Ventimiglia. O texto foi alterado.