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'Batalhei por bolsa de estudos nos EUA para ser a 1ª astronauta brasileira'

Andressa Costa Ojeda, 20, do Paraná, cursa engenharia aeroespacial nos EUA - Arquivo pessoal
Andressa Costa Ojeda, 20, do Paraná, cursa engenharia aeroespacial nos EUA Imagem: Arquivo pessoal

Andressa Costa Ojeda, em depoimento a Ed Rodrigues

Colaboração para Universa

08/08/2021 04h00

"Sempre fui uma criança muito curiosa e fascinada pelo universo. Gostava muito de aprender sobre astronomia e tentar entender um pouco mais sobre como tudo funciona.

Minha mãe faleceu quando eu tinha 9 anos de idade e as pessoas sempre me falavam que quando alguma pessoa morria, virava uma estrela.

Eu fiquei com isso na cabeça e ficava encarando o céu em noites estreladas para poder sentir a presença dela comigo. Isso não só me fez querer estar perto dela, mas também aumentou a minha curiosidade sobre o universo.

Nasci e cresci em uma cidade pequena no interior do Paraná, mas sempre senti vontade de fazer algo grande. Participava de quase todas as atividades extracurriculares da minha escola e até criei um grupo voluntário para ir a asilos e hospitais.

Aos 11 anos, comecei a ler livros de física teórica e quântica. Tive que insistir muito porque meu pai achava que era só uma fase e não queria gastar com livros que ele acreditava que eu não entenderia.

No terceiro ano do ensino médio, por meio do intercâmbio que fiz pelo Rotary Club, fiz um estágio com um mentor que era graduado em astrofísica pela Universidade de Harvard e aprendi muito sobre foguetes de alta-propulsão.

Também participei de competições regionais e estaduais de robótica, fiz aulas de astronomia e programação... E fui aceita para fazer a Advanced Space Academy da Nasa, onde fiz simulações de exercícios para treinamento de astronautas —incluindo mergulho com montagem de estruturas embaixo d'água, montagem de modelos de foguete e simulações de longa duração a Marte.

Esse trabalho me rendeu um convite para uma entrevista em rede nacional norte-americana. Na ocasião, conheci o astronauta Buzz Aldrin (segundo homem a pisar na Lua) e o à época vice-presidente dos EUA Mike Pence.

'Fui aceita em cinco universidades dos EUA'

Decidi acreditar em mim mesma e tentar universidades norte-americanas. Ao término do terceiro ano do ensino médio, fui aceita em cinco universidades dos EUA para cursar engenharia aeroespacial. Acabei optando pela Embry-Riddle Aeronautical ser o maior sistema universitário especializado em aviação, aeronáutica e aeroespacial, junto com o fato de 11 astronautas terem se formado ali.

Saí do Paraná com o objetivo de me tornar a primeira astronauta brasileira. Quando disse isso a meu pai, pensei que receberia um 'tira isso da sua cabeça', mas o que ouvi foi um 'acho que você é capaz'.

Aos 18 anos, participei de pesquisas de iniciação científica em minha universidade e me tornei a primeira mulher brasileira a ser aceita para fazer o Advanced PoSSUM Academy, onde fiz um voo acrobático de alta força de gravidade, simulações em trajes espaciais e treinamento de altitude elevada.

andressa - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Andressa fazendo treinamento como astronauta
Imagem: Arquivo pessoal

Ainda passarei por muitas preparações até atingir meu objetivo. Estudo em uma universidade onde a maior parte dos estudantes é constituída de homens. Com muita frequência, eu sou a única mulher nas salas de aula e nos projetos dos quais participo. Às vezes, temos mais de 20 meninos nas reuniões e só eu de mulher.

No começo era complicado porque eu fazia cálculos e os homens refaziam para ver se eu havia feito certo. Após um tempo, eu consegui provar que era tão boa quanto eles e que não precisavam verificar cada coisa que eu fazia.

É muito importante ter consciência de que nenhum resultado positivo vem sem esforço. Não importa de onde você vem, o que importa é onde você quer chegar e o que está disposta a fazer, enfrentar, e deixar para trás para conseguir o que quer.

*Andressa Costa Ojeda, 20, cursa o 3º ano de engenharia aeroespacial nos EUA