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'Paralisia cerebral não me impede de tentar medalha no atletismo em Tóquio'

Samira Brito, 31, de Petrolina (PE), disputará a Paralimpíada de Tóquio pelo Brasil - Arquivo pessoal
Samira Brito, 31, de Petrolina (PE), disputará a Paralimpíada de Tóquio pelo Brasil Imagem: Arquivo pessoal

Samira Brito, em depoimento por escrito a Ed Rodrigues

Colaboração para Universa

08/08/2021 04h00

"Tenho 31 anos e convivo com uma paralisia cerebral desde o meu nascimento. Segundo os médicos, minha condição foi provocada por falta de oxigenação na hora do meu parto.

Tenho dificuldade para ouvir e para falar. Esses problemas exigiram da minha família muita atenção e cuidados comigo. Minha mãe e minha irmã Samara são meus anjos da guarda. A paralisia cerebral dificulta meu dia a dia, mas não impediu que encontrasse um grande amor: o esporte.

Encontrei no atletismo minha superação e um acolhimento que possibilitou defender o Brasil na Paralimpíada de Tóquio [que começa no dia 24 de agosto]. Participar de um evento com toda essa grandeza já me honra bastante, mas vou dar meu máximo para voltar com medalhas para meu país.

Você pode perguntar: 'Como uma pessoa com paralisia cerebral chega a uma Olimpíada?'.

Tenho limitações, é verdade. No entanto, aprendi como superar adversidades e ser feliz durante esse processo. Nasci em Juazeiro da Bahia, mas moro na cidade pernambucana de Petrolina. Foi aqui que acumulei inúmeros amigos que me consideram um exemplo de vida. Eles me deixam orgulhosa por de certa forma ser uma inspiração.

Todos os sintomas que tive na primeira infância eram intrigantes para minha família. Eles não entendiam o porquê de eu ser diferente. Quando tive meu diagnóstico confirmado, aos 9 anos, fui estudar na Escola Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais).

Com o passar dos anos, comecei a fazer exercícios recreativos. E fui gostando daquele envolvimento com os esportes. Até que, em 2008, um professor da Apae percebeu meu potencial para a corrida. Foi aí que tudo começou. Eu renasci. A rotina de treino, a convivência com os colegas atletas... Era alí o meu lugar e decidi investir ainda mais meu tempo no esporte.

E olha, sem falsa modéstia, sou boa no que faço, tá? Estive em campeonatos e conquistei várias medalhas. São 64 para ser exata, além de dois troféus.

Essas conquistas vieram depois de iniciar meu treinamento na APA (Associação Petrolinense de Atletismo), em 2017. Foi com professor Givanildo da Silva que desenvolvi meu potencial. Atualmente, sou a 2ª colocada do ranking mundial dos 100 e 200 metros de atletismo na categoria T36 - Paralisia Cerebral. Fui eleita a melhor atleta e campeã norte/nordeste de 2020.

'Minha mãe e irmã viram leoas para me defender de preconceito'

Chegar aonde cheguei não foi fácil, pois sofri muito com alguns tipos de discriminações. Meu problema na fala e na audição faz com que certas pessoas me olhem diferente.

Algumas pessoas se afastam quando eu passo, outras ficam comentando, apontando... São situações que ocorrem desde sempre, mas que aprendi com o tempo a não dar mais importância para isso. Minha mãe e minha irmã que se ofendem mais. Para cuidar de mim, elas viram duas leoas. Agradeço a Deus por tê-las na minha vida.

Já no esporte, o preconceito vem daqueles atletas que não acreditam que você é capaz. Convivi com alguns assim. Mas, para esses, minha resposta está na minha coleção de medalhas. Enquanto eles vão se importando com a vida dos outros, eu sigo meus treinos, mantenho meus esforços e vou acumulando medalhas.

'No pódio da minha vida, já sou medalha de ouro'

Graças a Deus e à família APA, obtive muitas conquistas. E a maior delas atualmente é a minha convocação para os Jogos Paralímpicos de Tóquio.

Minha expectativa é trazer mais um título para minha cidade. E, para isso, os meus treinamentos estão sendo diários e supervisionados. Estou me dedicando a cada dia com muito foco. Estou muito feliz com tudo isso que está acontecendo na minha vida. Trarei essa medalhas do Japão e conquistarei muitas outras em demais competições que virão.

Mais do que o dom e a vocação, é com força de vontade que você pode mudar sua realidade. O esforço tem que ser contínuo e focado no seu objetivo.

É assim que levo minha vida e me supero cada dia mais. No pódio da minha história, já me considero medalha de ouro."

* Samira Brito, 31, é paratleta de atletismo e vive em Petrolina (PE)