Topo

'Com desabafo sobre paralisia facial por desemprego consegui nova vaga'

Post que Kamille fez no LinkedIn viralizou - arquivo pessoal
Post que Kamille fez no LinkedIn viralizou Imagem: arquivo pessoal

Kamille dos Santos em depoimento a Fernando Barros

Colaboração para Universa

05/08/2021 04h00

"Até abril, eu trabalhava como jovem aprendiz na área de serviços financeiros em uma empresa de São Paulo, onde moro. De repente, fiquei desempregada. Perder o emprego foi algo inesperado para mim. Eu nem cogitava essa ideia porque, como os feedbacks que recebia sobre o meu trabalho eram positivos, eu imaginava que seria efetivada.

Com esse desligamento, entrei em desespero, porque havia feito planos e me programado para os meses seguintes com contas e projetos. Eu tinha me matriculado na faculdade para cursar Medicina Veterinária e começado o processo para aprender a dirigir e tirar a minha CNH. Só não tranquei o curso porque usei o valor da rescisão para pagar duas mensalidades e minha família também me ajudou.

Busquei, então, imediatamente atualizar o meu currículo, cadastrá-lo nas plataformas de emprego que conhecia, pesquisar vagas todos os dias, fazer ligações e tentar contato com recrutadores pelo LinkedIn.

Apesar desse esforço, nem sequer obtinha uma resposta ou conseguia ser chamada para entrevista nos processos seletivos. Isso foi me deixando extremamente desestabilizada.

Tive medo de ficar desempregada por muito tempo e atrasar todos os meus planos. Comecei a ficar muito preocupada, ansiosa, desmotivada e sem concentração nenhuma. Por conta desse emocional abalado, tive uma paralisia facial no lado direito do rosto.

No início de julho, acordei, fui escovar os dentes para começar o dia e percebi minha boca um pouco torta. Sentia também sensibilidade no lado direito e uma dor insuportável no ouvido. Sem saber o que era aquilo, marquei uma consulta médica na mesma semana.

Passei por um neurologista e fui aconselhada a fazer uma ressonância magnética e um eletroencefalograma. Realizei os exames e todos estavam dentro da normalidade. Como eu não tinha sintomas mais graves, a conclusão foi de que meu caso era emocional, provocado por estresse.

Paralisia facial mudou minha rotina, mas não desisti de buscar por uma vaga

Quando eu recebi o diagnóstico me dei conta de que realmente estava mais ansiosa do que imaginava com a minha recolocação profissional. Percebi que aquele era um momento de cuidar da saúde e comecei, então, o tratamento que envolve sessões de fisioterapia, exercícios, massagens específicas e uso de bandagens no rosto para ativar os músculos da região.

A paralisia facial é bem incômoda e precisei fazer ainda alguns ajustes em meu dia a dia. No início, era difícil na hora de comer, por causa da sensibilidade, e, como alguns movimentos ficam paralisados, também ainda não consigo fazer com tanta clareza e naturalidade expressões que são automáticas. Por exemplo, tenho que fazer muita força para fechar o olho.

Além disso, preciso aplicar constantemente bolsas de água morna no lado direito do rosto e, quando saio, preciso cobri-lo para não tomar vento frio, o que pode atrofiar mais o movimento. Apesar de tudo, o tratamento tem sido um sucesso e a cada dia vejo uma evolução.

A fisioterapeuta que me acompanha me apoia e me dá muita força. Não poderia ter ao meu lado profissional melhor. Ela se preocupou em entender a minha história e cuida de cada detalhe no tratamento. Isso com certeza faz toda diferença.

Mesmo com a paralisia facial, como tinha ainda contas para pagar e agora também os custos com exames e o tratamento, continuei a minha rotina de me candidatar em vagas e enviar mensagens para os recrutadores. Na esperança de quem sabe algum deles me notar e me dar uma oportunidade, pelo menos para uma entrevista, fiz uma publicação no LinkedIn falando sobre a minha situação e a procura por um emprego.

Depois do meu desabafo na rede social, recebi onda de solidariedade

Minha intenção era buscar uma oportunidade junto às conexões que eu já tinha na rede, mas muita gente que eu nem conhecia se mobilizou para me ajudar.

Para minha surpresa, o post viralizou. Recebeu cerca de 45 mil curtidas e chegou a um milhão de visualizações, fora os compartilhamentos que perdi a noção. Jamais esperei tamanha repercussão.

Recebi muitas mensagens com orientações sobre como melhorar meu currículo, ganhei um curso de auditoria de sistemas de gestão integrada e outro curso de Excel e Power BI, com direito à mentoria. Desde o dia da publicação, minhas semanas foram repletas de ligações, e-mails, mensagens, entrevistas, muitas propostas.

Eu nunca tive contato com tantas pessoas em minha vida. Para dar uma dimensão da proporção que a coisa toda tomou, ainda não consegui ver todas as mensagens porque estou completamente lotada de notificações no LinkedIn. Ainda estou respondendo todo mundo.

Além dos compartilhamentos, muitas pessoas me indicaram nas respectivas empresas em que trabalham e, com isso, pude participar de muitas entrevistas. Através de uma indicação dessas, consegui a oportunidade que eu estava buscando e que faz mais sentido em minha carreira profissional.

Acabo de ser contratada como assistente comercial de uma empresa e estou vivendo um sonho: a oportunidade, a equipe, tudo me engaja e me faz querer ir muito mais longe. Tenho as maiores e melhores expectativas para este novo ciclo. Estou confiante de que aprenderei bastante.

Agradeço muito às milhares de pessoas que se dispuseram a me ajudar após a minha publicação no LinkedIn. Graças a isso, minha vida mudou completamente. Elas foram incríveis e dedico a cada uma delas a minha gratidão." Kamille dos Santos tem 19 anos e mora em São Paulo.