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'Fiquei 10 anos sem ver e meu filho me devolveu a visão com um transplante'

Maria Lopes de Sousa, 40, de Itaporanga (PB), com o filho Emanuel, 19; ele foi doador de células-tronco para que ela pudesse realizar um transplante de córnea - Arquivo pessoal
Maria Lopes de Sousa, 40, de Itaporanga (PB), com o filho Emanuel, 19; ele foi doador de células-tronco para que ela pudesse realizar um transplante de córnea Imagem: Arquivo pessoal

Maria Lopes de Sousa, em depoimento a Ed Rodrigues

Colaboração para Universa

31/07/2021 04h00

"Tenho 40 anos e há dez tive um problema de visão que transformou a minha vida. Moro em Itaporanga, no interior da Paraíba, e sempre trabalhei no meu comércio. Para quem era acostumada a resolver todos os problemas sozinha, além de administrar um negócio no qual os clientes são seus vizinhos e amigos, não poder reconhecer essas pessoas foi uma provação desesperadora.

Minha condição piorou a tal ponto que as pessoas falavam comigo na rua, e eu não as enxergava. Eu desisti de sair. Tive que abrir mão da minha autonomia, porque já estava constrangida. Meu filho Emanuel passou a resolver tudo para mim. Perdi minha autonomia e permaneci assim até bem recentemente.

Sempre tive apoio da minha família e isso realmente me deu forças. Eles me incentivaram a sempre procurar novos médicos e outros tratamentos. Procuramos outras opiniões, fomos a especialistas e meu filho sempre esteve ao meu lado. Viver desse jeito fez minha família ficar mais ligada a mim.

E fomos seguindo esse esforço e essa procura até que um dos especialistas disse que eu poderia fazer um transplante de córnea, porém antes de realizar o procedimento, precisava passar por um transplante preliminar de células tronco do limbo da conjuntiva. E que o doador teria que ser compatível comigo. O único que tinha o nível de compatibilidade exigido era o meu filho Emanuel, de 19 anos. E ele se colocou à disposição imediatamente, disse: 'Mãe, claro que vou doar para a senhora'.

Na procura por uma solução que me devolvesse a visão, fomos várias vezes a Campina Grande para poder entrar na fila do transplante. O doutor Diego Gadelha foi quem nos deu esperança. Ele descobriu que meus olhos estavam cobertos por uma membrana vascularizada. Aí, marcou uma bateria de exames e realizamos o primeiro procedimento. E seis dias depois fizemos o transplante de córnea.

'Os papéis se inverteram e meu filho que cuidou de mim'

Lembro da força e determinação de Emanuel no dia da operação. Ele estava muito decidido em ajudar. Vi que meu filho não era mais uma criança. E aquilo me deixou tão orgulhosa.

A gente chegou bem cedo e foi se preparar. Como mãe, me preocupava com meu filho. Queria saber se ele estava com medo ou tranquilo. Estava com meu coração bem aflito, com medo por ele. Mas aí, ele me deu forças novamente. Vi a segurança dele, a confiança.

Ficou muito forte essa cena dentro de mim. Eu percebi que ali já não era mais eu como mãe cuidando do meu filho, era ele que estava cuidando de mim. Vi ele bem seguro, tranquilo. E deu tudo certo! Agora é esperar a recuperação, que é lenta.

Agradeço muito a Deus por tudo ter dado certo. A cada dia, amo mais os meus filhos. Nós já éramos unidos, mas vi muitas mudanças. Começamos a valorizar mais o tempo na companhia um do outro.

Mas vou falar uma coisa: aos poucos, perceber o mundo novamente, tudo voltando ao normal, as cores, as pessoas e principalmente meus filhos é uma sensação maravilhosa! Agora vou poder retomar a leitura da Bíblia. Não poder continuar com minhas atividades na igreja me entristecia muito.

Deus é maravilhoso. Agradeço a Ele por essa vitória e por ter me dado filhos tão fantásticos. Nos vemos por aí."

*Maria Lopes de Sousa, 40, comerciante, vive em Itaporanga (PB)