Topo

"Tenho espinha sem a pílula": como tratar acne sem anticoncepcional?

De skincare aos medicamentos, há solução para quem tem espinhas e não quer ingerir hormônios - iStock
De skincare aos medicamentos, há solução para quem tem espinhas e não quer ingerir hormônios Imagem: iStock

Isabella Marinelli

De Universa

20/07/2021 04h00

Em consultório, uma das queixas frequentes relacionadas ao abandono da pílula anticoncepcional são os efeitos na pele. Espinhas doloridas e em regiões variadas (do rosto ao corpo), cravos e oleosidade excessiva são alguns dos sintomas.

"A produção de sebo da nossa pele é controlada por hormônios chamados andrógenos, como a testosterona e seus derivados. Quando eles estão em maior proporção em comparação aos outros, caso do estrogênio e da progesterona, a pele produz mais sebo e apresenta maior tendência à acne. Grande parte dos anticoncepcionais hormonais orais reduzem essa oleosidade e afastam as espinhas, pois têm ação antiandrogênica", explica a dermatologista Valéria Campos, de São Paulo.

Por isso, tanto na troca, quanto na substituição por DIUs (Dispositivo Intrauterino), as alterações são sentidas. "Em geral, a suspensão da pílula é a principal culpada! A grande maioria das pacientes acaba fazendo uso de contraceptivos orais com ação antiandrogênica importante e, portanto, sofrem com a suspensão. Estudos clínicos ainda apontam casos de acne em até 36% das usuárias de DIUs hormonais, mas menos de 1% desistem do método em razão das espinhas", diz Lília Guadanhiam, dermatologista e médica da Unidade de Cosmiatria da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP).

Quem está em transição de métodos pode demorar a sentir a pele em estado natural, sem influência dos hormônios sintéticos, digamos assim. "Após a suspensão dos métodos, o 'período de transição' para pele o cabelo gira em torno de 3 meses", afirma a especialista. Vários motivos levam as mulheres a abandoná-los: vontade de engravidar, fatores de risco para a trombose e até ideologia, desejo pessoal, estão no pacote.

Então, quem quer abrir mão dos hormônios precisa conviver com a acne? De forma alguma. Quadros graves, inflamatórios e císticos, que causam dor e sangramentos, podem ser tratados por outros caminhos.

Tratamentos sem hormônios para acne

Antibióticos
Têm ação, principalmente, anti-inflamatória, melhoram o quadro com rapidez, porém não agem sobre oleosidade. "São cada vez menos indicados devido ao risco de resistência bacteriana. Os consensos e guidelines recentes recomendam seu uso por um período de um a quatro meses no máximo", afirma Lilia.

O famoso "Roacutan"
"Nome comercial da isotretinoína de uso oral, é o tratamento considerado 'padrão-ouro' para acne inflamatória moderada ou grave, com tendência a cicatrizes ou que não tenha respondido aos outros tratamentos. Age em todas os mecanismos que fazem o paciente ter acne. É um tratamento seguro, se acompanhado de perto", diz a médica.

O mais importante: exige exames regulares de tolerância e não se pode engravidar durante o tratamento, nem certo tempo depois. Por isso, é necessário associar dois métodos contraceptivos durante a administração do medicamento, além de assinar termos de responsabilidade. No caso de quem não quer ingerir hormônios, pode ser o combo DIU de cobre e camisinha, por exemplo.

Ação nos hormônios
Há um diurético específico, inicialmente indicado para tratamento de hipertensão arterial, que se provou um aliado no controle da acne e da oleosidade em pacientes que não desejam fazer uso de contraceptivo. "O mecanismo principal da espironolactona é o bloqueio do receptor de andrógenos na pele e nos cabelos. O uso pode se estender por períodos longos com ótima eficácia", conta.

Tratamentos para quadros leves ou como alternativas complementares

Para além dos remédios específicos, alguns casos também podem se beneficiar de mudanças de estilo de vida e skincare.

"A melhora da dieta, bem como prática de exercícios, cuidado da flora intestinal, boa qualidade de sono, equilíbrio de tireoide e uso de produtos que não obstruem os poros fazem parte desse leque de opções", diz a ginecologista Karen Rocha, de São Paulo. Vale ter cuidado com os açúcares, que causam picos glicêmicos no sangue e, consequentemente, aumentam a atividade inflamatória, bem como lançar mão dos probióticos — a ciência tem se debruçado sobre a importante relação entre pele e intestino.

Por fim, a troca dos produtos de cuidado de pele pode ser válida. Peles secas com o uso da pílula podem se transformar em oleosas. Ativos como ácido salicílico e melaleuca, antes secativos demais, se tornam boas alternativas nos cosméticos do dia a dia.