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"Graças ao prêmio BBB6 voltei a andar", diz filha da campeã

Aracy durante a formatura de ensino médio, ao lado da mãe, Mara, que venceu o BBB 6 - Arquivo Pessoal
Aracy durante a formatura de ensino médio, ao lado da mãe, Mara, que venceu o BBB 6 Imagem: Arquivo Pessoal

Aracy Viana em depoimento a Júlia Flores

De Universa

28/01/2021 04h00

"A minha vida e a vida da minha mãe mudaram depois que ela venceu o Big Brother Brasil. Quando eu tinha uns 8 meses, fui diagnosticada com paralisia cerebral e os médicos disseram que eu tinha algum tipo de deficiência, sem saber especificar qual.

Só descobrimos quando ela, com o dinheiro do prêmio, pode pagar pelo tratamento correto. A minha mãe é a Mara, vencedora da sexta edição do BBB. O período que ela esteve na casa foi o mais longo que já passamos separadas. Temos uma ótima relação de convivência. Nós moramos em Porto Seguro, na Bahia, mas estamos de mudança para Vitória da Conquista.

Foi graças ao prêmio que ela recebeu que consegui ter tratamento e diagnóstico adequado. Só aos 7, 8 anos descobri que tenho Síndrome de Little, um tipo de deficiência causada por paralisia cerebral que afeta parte da minha condição motora.

Dinheiro do prêmio foi investido no meu tratamento

Quando a minha mãe saiu do reality, depois que terminamos de cumprir toda a agenda pós Big Brother, fomos atrás de um tratamento. Em Porto Seguro eu só fazia acompanhamento com fisioterapeuta. Então, fomos para Salvador.

Passei 40 dias no hospital para fazerem um diagnóstico completo e descobrirem quais eram as minhas necessidades e como elas poderiam ser supridas. Eu tinha 13 anos e me lembro de todo o período que passei internada. Minha mãe esteve do meu lado o tempo todo.

A equipe médica me acompanhava na rua, me levava ao shopping, me colocava em aula de natação para identificar qual seria o melhor exercício físico para eu fazer e qual não teria tanto impacto no meu joelho, na minha coluna - como eu tenho a massa motora diferenciada, as atividades físicas causam impactos maiores.

Quando eu era bem pequena, por volta dos 6 anos, só conseguia me locomover com a ajuda de um andador. Depois, com o tratamento, não precisei mais do aparelho. Com uns 15, 17 anos, passei a usar um par de muletas. Eu as uso hoje em dia só quando vou a locais que não têm acessibilidade para pessoas com deficiência.

Minha mãe é minha melhor amiga

Mara, do BBB 6, e a filha, Aracy Viana - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Mara, do BBB 6, e a filha, Aracy Viana
Imagem: Reprodução/Instagram

Apesar disso, sempre tive uma vida livre. Minha mãe me deixava entender o que eu tinha, quais adaptações eu queria e quais não queria, tudo foi escolha minha e ela me apoiava no que eu decidisse seguir. Tudo que tenho vontade de fazer, a gente senta, conversa e ela me apoia. Todo o meu processo de adaptação a deficiência, tanto na adolescência quanto na fase adulta, é muito conversado com a minha mãe - e apoiado por ela que, sem dúvidas, é minha melhor amiga.

De vez em quando ainda falam: 'ah, ela foi curada'. Não, paralisia não tem cura. Eu consegui desenvolver uma adaptação bacana pra seguir a minha vida. O prêmio do reality foi decisivo para isso, além de ajudar em outras coisas e para conseguirmos sobreviver até hoje.

Assisto o Big Brother desde muito pequena, desde os 4 anos. Estava acompanhando o programa antes dessa entrevista. Lembro um pouco da edição em que a Cida ganhou. Já quanto a edição 6 do BBB, eu não me recordo de tanta coisa, mas tenho alguns relances. Foi uma coisa muito marcante na nossa vida. Não é uma memória que foi deixada para trás. Toda hora ela é trazida novamente.

Do confinamento, tenho poucas memórias. Só me recordo de uma prova do anjo que ela ganhou, que tivemos que gravar um vídeo e enviá-lo, e de outra prova que envolvia um animal, um cachorrinho, do qual minha mãe não parava de rir. Lembro também de alguns momentos, enquanto eu estava aqui do lado de fora, que ficava com saudades e perguntava por ela.

Da final eu lembro com clareza. Às vezes, não parece que já se passaram 15 anos desde aquele dia.

De vez em quando, a gente revê alguns momentos da edição, como se fosse uma série. Eu acho que agora minha mãe está em outro momento de vida e não participaria de novo do programa, mas ela é uma pessoa tranquila de conviver. Se participasse de uma nova edição, talvez ela não vencesse, mas chegaria longe. Sei que as pessoas gostariam dela, igual gostaram há 15 anos.

Militância nas redes e fora delas

Aracy hoje é acadêmica de Direito e pretende atuar como Juíza Federal - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Aracy hoje é acadêmica de Direito e pretende atuar como Juíza Federal
Imagem: Arquivo pessoal

Minha mãe já está em sua segunda graduação. Ela terminou a faculdade de teologia em 2018 e entrou no curso de psicologia em 2020. Sempre digo que essa vontade dela de estudar me levou a ser quem eu sou, já que ela me incentivou a fazer o mesmo.

Quero ser uma agente de mudança. Sou ativa nas redes sociais e uso o meu perfil do Instagram para falar sobre o assunto. Algumas pessoas não têm a mesma aceitação que eu tive. Uma das coisas que mais acontece entre as pessoas com deficiência é a não aceitação da deficiência, então eu busco transformar isso em algo natural, como se falar sobre o tema fosse o mesmo que falar da cor do meu cabelo.

Apesar de já ter se passado tanto tempo do reality, até hoje as pessoas contam a nossa história. Esses dias, durante uma classe de Direito Penal, um professor usou o vídeo da final do programa para abrir a aula. Esse carinho energiza, recebemos muitas mensagens positivas - eu, de pessoas com deficiência; minha mãe, de gente que parou de estudar e quer retomar a vida acadêmica.

Todo começo de BBB é a mesma coisa, mas nós gostamos. São pequenas demostrações de afeto que a gente recebe e que deixam o coração mais quente.

Hoje eu estou no quinto período de Direito, na faculdade Unesulbahia. Por sorte, a faculdade é um ambiente de fácil mobilidade. Foi um processo tranquilo de adaptação. Quero passar em concurso público e me tornar juíza. E quero continuar militando sobre deficiência. Quero atuar em áreas que trabalhem com pessoas com deficiência e que garantam os direitos delas para que a mobilidade urbana das nossas cidades seja melhorada.