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Gravidez ectópica: mulheres relatam dor e recomeço após interrupção forçada

A gravidez ectópica acontece quando o bebê se desenvolve fora do útero; a condição atinge entre 1% e 2% das gestantes - iStock
A gravidez ectópica acontece quando o bebê se desenvolve fora do útero; a condição atinge entre 1% e 2% das gestantes
Imagem: iStock

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

27/01/2021 04h00

Gravidez ectópica — este é o nome que se dá quando o feto se desenvolve fora do útero, geralmente nas trompas. A condição é rara, atinge entre 1% e 2% das grávidas, mas pode ser fatal para a mulher e, por isso, a gestação deve ser interrompida.

A influenciadora Camila Monteiro está dentro desta estatística. Ela descobriu que estava grávida em 11 de janeiro e, nesta semana, soube que se trata de uma gravidez ectópica. No Instagram, divide com os seguidores a dor de perder um bebê, que foi muito planejado por ela e pelo marido.

"Nosso bebê não estava no útero. Ele está na minha trompa direita, e está vivo. O coração bate. Ele está perfeito dentro das seis semanas de gestação, mas infelizmente está se desenvolvendo no lugar errado. Eu e o meu marido choramos a noite toda", disse Camila. "Estou em casa, ainda grávida, aguardando o período que os médicos deram pra que o próprio organismo se encarregue do aborto espontâneo. Se não acontecer, eles terão que induzir com medicamento ou cirurgia".

Universa ouviu outras duas mulheres que viveram essa perda: uma delas teve alta há menos de uma semana; a outra, que interrompeu a gestação ectópica há dois anos, agora vive uma gravidez saudável, contrariando as estatísticas — para quem já teve uma gravidez ectópica antes, as chances de ter outra são ainda maiores, de 30% a 40%.

"Depois de 16 dias sangrando, entendi: estava perdendo meu bebê"

Gabrielle Dutra Benites - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Gabrielle Dutra Benites teve alta há uma semana, após interromper a gestação
Imagem: Arquivo pessoal

Em dezembro de 2020, no dia 30, fiz um Beta HCG [exame de sangue que prova a gravidez] que deu inconclusivo. Repeti o exame em janeiro, que deu positivo, já que os níveis de HCG estavam aumentando. A felicidade tomou conta: eu estava grávida. Contamos a novidade para a família, porque já estávamos tentando engravidar há alguns meses. Eu já tenho uma filha de 5 anos, e a família iria aumentar.

No mesmo dia, senti um sangramento, mas não tive dor. Procurei ajuda no posto de saúde da minha cidade [Carlos Barbosa, RS], e como o nível de hormônios ainda estava muito baixo, os médicos me recomendaram repouso total. Fui para casa, cumpri à risca, mas o sangramento persistia. Voltei ao posto de saúde por sete dias seguidos, me queixando do sangramento e de fortes cólicas, e todo dia um médico plantonista diferente fazia exames de toque, de sangue, ultrassons transvaginais.

Optamos por pagar uma consulta particular, e o médico não identificou o saco gestacional no ultrassom. Meu coração se desmanchou. Minha ginecologista sugeriu que esperássemos mais alguns dias para ver se o HCG subia e se o saco gestacional se formaria, mas depois de 16 dias sangrando, senti que estava perdendo meu bebê.

No último ultrassom, a fisionomia do médico começou a me assustar antes mesmo dele me explicar que não era um aborto espontâneo, mas uma gravidez ectópica, porque o bebê estava se desenvolvendo, mas nas minhas trompas, e que por isso teria que interromper a gestação. Saí da clínica aos prantos.

No pronto atendimento, onde eu deveria fazer exames para agendar a cirurgia [de interrupção da gravidez], me pediram para esperar mais 48 horas para fazer novos exames, que eu já tinha feito. Meu marido e minha sogra, que me acompanhavam, não admitiram a ideia de continuar com essa tortura, eu estava sangrando e com dor, e me levaram de volta à ginecologista. Cheguei pedindo socorro, e ela agilizou os papéis para que eu passasse logo pelo procedimento.

Até então, a médica havia dito que eu tomaria uma injeção e meu corpo expulsaria o feto. Mas novos exames mostraram que eu estava com hemorragia e, por isso, teria de passar por uma laparotomia, já que meu quadro estava se agravando a cada hora que passava. Fui vestida, levada para a sala de cirurgia. Tive alta na sexta-feira [22, há menos de uma semana].

Estou me recuperando, mas minha dor é grande por saber que perdi meu bebê, uma parte de mim. Depois dessa cirurgia, a chance de ter outra gravidez ectópica é maior, mas ainda tenho o sonho de ser mãe novamente, se Deus me permitir"

Gabrielle Dutra Benites, 22 anos, de Carlos Barbosa (RS)

"Tive gravidez ectópica, mas hoje espero meu bebê arco-íris"

Camila Candido - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Camila Cândido, de 34 anos, está grávida novamente, dois anos após a perda
Imagem: Arquivo pessoal

Em novembro de 2018, minha menstruação atrasou. Fiz o teste de farmácia, deu duas linhas bem clarinhas, mas era um 'positivo'. Marquei consulta com um ginecologista, ele pediu o exame de sangue e pediu um segundo teste quando viu o resultado, porque o nível de HCG [hormônios da gravidez] estava muito baixo. Nesse meio tempo, fiz o primeiro ultrassom, e a médica percebeu que eu não tinha saco gestacional, e me pediu para repetir o ultrassom dali a duas, três semanas. Quando meu ginecologista viu o resultado do meu segundo exame de sangue, com níveis ainda baixos de HCG, falou: 'Camila, estou suspeitando de uma gravidez ectópica'.

Uma semana depois, senti um sangramento, liguei para o ginecologista e ele me encontrou já no hospital. Lá, fiz mais exames de sangue e um novo ultrassom. A médica que fez o ultrassom chegou a dizer que eu não estava grávida, que não tinha bebê nenhum, mas quando colocou [o aparelho] sobre minhas trompas, ouvimos o coração do bebê batendo.

Eu já tinha lido a respeito, então sabia que, sendo uma gestação ectópica, não tinha como continuar. O médico disse que eu faria a cirurgia [para interromper a gravidez] naquele mesmo dia, mais tarde, mas na hora de levantar da cadeira do consultório, senti uma dor muito forte. Minha trompa tinha rompido. Foi um dos piores momentos da minha vida: uma dor insuportável, cheguei a evacuar de tanta dor, e fui perdendo os sentidos. Minha pressão chegou a 6 por 4, pensei que ia morrer.

Tive uma cesária de emergência, tive que tomar duas bolsas de sangue, por conta da hemorragia causada pelo rompimento da trompa. O médico disse que se eu tivesse em qualquer outro lugar fora do hospital, poderia ter morrido.

Foi muito complicado. Quando você vê o 'positivo' ali no exame, coloca na cabeça que vai ser mãe, começa a fazer planos. Depois que tudo aconteceu, eu não conseguia dormir, ficava pensando no coração do bebê batendo aqui dentro. Mesmo que ele não estivesse no lugar certo, já existia para mim.

No primeiro momento, eu não queria mais ter outro filho. Quando minha pressão caiu e os médicos saíram correndo comigo na maca, senti que estava indo embora e só conseguia pensar no meu filho mais velho, de 9 anos. No meu coração, eu queria mais um filho, mas tinha medo. Ano passado, depois de dois anos, eu e meu marido decidimos tentar de novo, mas decidimos ter acompanhamento desde o comecinho, afinal, a chance de ter uma segunda gravidez ectópica é grande.

Quando fomos ao médico para falar sobre a possibilidade de uma nova gravidez, ele recomendou que fizéssemos um tratamento de 6 meses, mas minha menstruação já estava atrasada. Senti os seios inchados e decidi fazer um teste de farmácia. Quando deu positivo, comecei a chorar, desesperada, com medo de ter outra gravidez ectópica. Liguei para o meu marido e conseguimos agendar um ultrassom para o mesmo dia. Meu bebê está certinho, encaixadinho, no lugar certo. Hoje estou no sexto mês, esperando meu bebê arco-íris.

Camila Cândido, 34 anos, de Araçatuba (SP)