"Há 8 anos luto contra câncer de mama e ajudar mulheres me mantém viva"
Não é um diagnóstico que vai me fazer parar de sonhar. É esse pensamento que me mantém viva e firme há quase oito anos. Desde 2012, luto contra o câncer de mama, agora metastático. E, desde 2017, mantenho a ONG Vilma Kano, que faz diversos tipos de doações a mulheres com a doença ou em prevenção: de kits de beleza e autocuidado a exames de imagem, como mamografia.
O trabalho começou meses depois que eu descobri os primeiros tumores, um em cada mama. Foi durante um check-up que fiz depois de acompanhar, por quase três anos, um amigo muito querido que lutava contra um câncer sem possibilidade de cura. Quando ele faleceu, resolvi tirar férias, me recompor, descansar e cuidar um pouco de mim.
Fiz, então, os exames. Foi um grande susto, é claro, mas eu já conhecia aquela realidade. Minha tia-avó teve câncer de mama e acabou falecendo por causa da doença. Conviveu com ele por anos. Lembro de, na infância, visitá-la. Minha mãe fazia as unhas para ela enquanto eu cuidava das perucas. Além dessa tia, todas as outras mulheres da família que já morreram - inclusive a minha mãe - morreram pelo câncer de mama.
Por tudo isso, foi muito impactante para mim receber aquele diagnóstico. Mas, além dele, eu tive que enfrentar um outro problema. Passei por sete médicos. Os primeiros cinco diziam que o plano de saúde não cobriria a cirurgia completa de remoção dos tumores e reconstrução das mamas.
E o custo do procedimento ficaria entre R$ 65 mil e R$ 70 mil. Durante cinco meses, fiquei sem tratamento nenhum, tentando encontrar formas de custear a operação.
Sou designer gráfica e, na época, trabalhava como freelancer. Gostava muito do que fazia e tinha um bom desempenho no mercado. Mas o que eu queria mesmo era me dedicar à minha arte, produzir, sem demanda, aquilo que me inspirava.
Foi então que decidi começar a fazer colagens. Naquela época, cortei papel desenfreadamente. Chamei a primeira série de "De peito aberto" e vendia as peças aos amigos. Fiz porque era o que eu queria deixar para o mundo.
Finalmente, descobri que o plano de saúde bancaria meu tratamento. Quando estava recuperada, resolvi que ajudaria alguma instituição que trata de mulheres com câncer de mama.
Só que, para minha surpresa, não foi simples. As pessoas achavam que era trote e batiam o telefone na minha cara. Até que o Hospital do Câncer Doutor Arnaldo me ouviu e recebeu a quantia.
Desde então, não parei mais. Consegui firmar parcerias com mais de 20 marcas para fazer doações e prestar assessoria jurídica a mulheres com câncer. A cada ano, faço quatro entregas para 200 pacientes de hospitais especializados.
E continuei produzindo meus trabalhos artísticos. Recentemente, criei estampas para sandálias Grendha. A venda dos produtos foi revertida em 300 mamografias para mulheres com a partir de 40 anos que precisavam fazer os exames de prevenção.
Em outubro de 2019, uma escultura minha, de 5 metros de altura, foi inaugurada no Parque Cândido Portinari, em São Paulo, em homenagem a pacientes oncológicos de todo o país. E fiz mais de 40 obras.
Durante a pandemia, enfrentei um outro desafio: levar os kits aos hospitais sem o risco de contaminação. Para isso, acabei desenvolvendo um robô guiado remotamente por um tablet. Dei à máquina o nome de Frida e ela já foi usado para as entregas do Outubro Rosa.
Pessoalmente, ao longo desse percurso, passei por momentos muito difíceis. Minha mãe, que recebeu seu primeiro diagnóstico de câncer na década de 1990, faleceu. Pouco antes disso, descobri que os meus tumores tinham voltado. Dessa vez, em metástase.
Vou ao hospital três vezes por semana para me tratar. Passo por exames, consultas e, a cada 21 dias, sessões de quimioterapia. Mesmo assim, trabalho continuamente para a ONG. Como eu disse, não é um diagnóstico que vai me fazer parar de sonhar."
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