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Sem saber que estava grávida, mulher dá à luz na sala de casa

Michaella Mignone, após o parto, com o bebê e um socorrista - Arquivo pessoal
Michaella Mignone, após o parto, com o bebê e um socorrista Imagem: Arquivo pessoal

Simone Machado

Colaboração para Universa

05/09/2020 04h00

Mãe de duas filhas, a funcionária pública Michaella Mignone, 30, de Marataízes (ES) não tinha planos de ter mais filhos. Depois de ter Drika, de 11 anos, e Érika, 8, tomava anticoncepcional injetável há anos e, em março passado, até cogitou com o marido, o também funcionário público Diego Cordeiro, que ele fizesse vasectomia.

O que ela não sabia é que nessa época ela já estava grávida de sete meses. Michaella descobriu que seria mãe novamente apenas quando já estava dando à luz a pequena Cecília, ali na sala de casa mesmo.

Michaella conta que durante os nove meses da gestação desconhecida não teve sintomas que a fizessem desconfiar de uma gravidez, como enjoos, náuseas e desejos. E nem viu sua barriga crescer. A funcionária pública chegou a procurar um médico no final do ano passado após notar uma saliência em seu umbigo. Na ocasião, ela foi diagnosticada com uma hérnia.

"O médico disse que era necessário fazer uma cirurgia. Quando eu estava na fase de preparação para os exames pré-operatórios, veio a pandemia e tivemos que adiar o procedimento", explica.

Na linha de frente do combate à covid

Sem sentir dores, Michaella continuou trabalhando, inclusive na linha de frente ao combate à covid-19. A funcionária pública atua na área da saúde em sua cidade e, durante a pandemia, visitava postos de saúde para programar novos sistemas nos computadores.

"Eu não atendia pacientes, mas estava todos os dias nas unidades de saúde. E você sempre acaba tendo contato com pessoas infectadas, é inevitável", diz.

No domingo, dia 17 de maio, um dia antes de dar à luz, Michaella lembra que estava no sítio com os pais. Passou um fim de semana agitado, com diversos afazeres domésticos. Durante a noite, já em sua casa, a funcionária pública sentiu um desconforto abdominal e procurou uma unidade de saúde.

"Pensei que minha hérnia tivesse piorado. No hospital, fui avaliada por um médico. Ele tocou a minha barriga e disse que eu precisava de uma cirurgia de emergência e deveria fazer o procedimento naquela semana. Fui medicada com analgésico e retornei para casa", lembra.

Na manhã seguinte, Michaella passou mal novamente. Ao acordar, conta que sentiu dores no corpo e pediu para o marido levá-la ao hospital de novo. Mas a dor era tanta que Michaella não conseguiu chegar até o carro que estava na garagem.

"Diego, acho que estou parindo"

"Eu senti uma dor forte, me deitei no sofá e falei: 'Diego, acho que estou parindo'. Ele ainda riu e disse que não era possível. Mas eu estava com a mesma sensação de quando minhas duas outras filhas nasceram", conta.

Sem saber o que fazer, o marido de Michaella ligou para um primo, que é enfermeiro, e pediu ajuda. O resgate também foi chamado. Mas, mesmo antes de chegar a ajuda médica, Cecília nasceu, no sofá de casa.

"Foi tudo muito rápido, não demorou nem meia hora. Quando vimos que realmente eu estava em trabalho de parto e a bebê nasceu, pedi para o meu marido colocar ela de lado para não sufocar. E, nisso, ela chorou. A gente não sabia nem o sexo da criança, foi um susto enorme", conta Michaella. "Na sequência a ambulância chegou e fomos para o hospital."

Cecília nasceu com 50 centímetros e pesando três quilos. A bebê passou por diversos exames e estava saudável.

Dormia de bruços e usava salto e jeans

Após o susto com o nascimento de Cecília, a funcionária pública conta que ficou assustada devido à pandemia e por não ter feito o pré-natal.

"A gente fica preocupada porque eu estava na rua e nos postos de saúde todos os dias. Nunca sabemos o que pode acontecer. Três dias depois que a Cecília nasceu, três pessoas da minha equipe testaram positivo para a covid-19", diz. A funcionária pública fez o teste para o coronavírus e o resultado deu negativo.

Mãe e filha ficaram três dias no hospital e fizeram vários exames. Todos constataram que mãe e filha estavam bem de saúde.

"Todo esse tempo eu trabalhei de salto alto e calça jeans. Dormia de bruços e até comecei uma dieta em que emagreci quase dois quilos", lembra a mãe sobre o período em que estava grávida sem saber.

Enxoval para três

Ao saberem do nascimento inesperado de Cecília, amigos e familiares de Michaella se uniram para montar o enxoval da bebê às pressas. Em poucos dias, a família ganhou roupinhas, fraldas e produtos de higiene. O esforço coletivo foi tanto que rendeu até para a caridade.

"Ganhei enxoval suficiente para três crianças", diz Michaella. "Por isso, nós doamos muitas coisas para outras famílias."