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Omegle: site para conhecer gringos faz sucesso entre jovens. É seguro usar?

Menina jovem segura o notebook: é seguro permitir que os adolescentes usem o Omegle? - iStock
Menina jovem segura o notebook: é seguro permitir que os adolescentes usem o Omegle? Imagem: iStock

Ana Bardella

De Universa

25/08/2020 15h04

O site Omegle existe desde 2009 e fez sucesso no Brasil na mesma época em que o Orkut e o MSN estavam na moda. Após um período de grande número de acessos, o site perdeu força. No entanto, durante a quarentena, o cenário mudou. Isolados em casa, jovens redescobriram sua função e passaram a utilizá-lo novamente. Personalidades famosas dentro e fora do Brasil usam a ferramenta para promover encontros inesperados com fãs, filmá-los e postá-los nas redes sociais. Há também quem grave as conversas e use para fazer vídeos divertidos para o TikTok e Instagram.

No entanto, ontem (24), o Omegle ficou entre os assuntos mais comentados do dia no Twitter após uma adolescente presenciar uma suposta cena de abuso sexual infantil em uma das salas. Consultadas por Universa, mulheres que já usaram o site contam que também tiveram experiências ruins ao acessá-lo: a maior parte delas se deparou com homens se masturbando ou com outras cenas de nudez.

Para entender: o site tem uma função diferente das outras redes sociais. Ao ingressar em uma sala de bate-papo, o algoritmo escolhe aleatoriamente outro usuário, de qualquer parte do mundo, para iniciar uma conversa, que pode acontecer via mensagens escritas ou chamada de vídeo. A graça está em deixar a câmera aberta e iniciar o diálogo, que provavelmente acontecerá em outro idioma. Não é necessário fazer um cadastro ou se identificar.

Afinal, é seguro que jovens utilizem o Omegle, seja para fazer novas amizades, seja para treinar outros idiomas?

Brechas na segurança

Juliana Cunha, diretora da Safernet Brasil, explica que é natural que adolescentes busquem, no ambiente digital, plataformas às quais os pais não tenham acesso ou que não despertem tanto o interesse das pessoas mais velhas. "É a fase da vida em que a autoridade dos pais perde força e a influência horizontal, de amigos e colegas, fica mais potente", aponta. Apesar disso, ela não enxerga o site como um ambiente seguro para menores de idade.

Nos termos de uso, está escrito: "Ao baixar nosso aplicativo ou usar nossos serviços, você concorda que é maior de 18 anos ou maior de 13 anos com a permissão dos seus pais". Há também um aviso informando que todas as conversas de vídeo são moderadas, seguido de um pedido para que as pessoas se comportem "de forma humana".

Os termos não deixam claro, no entanto, se esta moderação é feita por pessoas ou de maneira automatizada. "Quando esse tipo de moderação é feito por uma inteligência artificial que busca identificar nudez, por exemplo, fica mais fácil para pessoas com más intenções driblarem as regras", explica Juliana. Além disso, a especialista sente falta de um canal claro, fácil e rápido para reportar qualquer tipo de denúncia ou contato impróprio na plataforma.

Juliana assegura que lacunas jurídicas deixam o site vulnerável. Uma delas é permitir o uso por menores de idade quando existe o risco de uma cena pornográfica surgir na tela. Outro perigo está na possibilidade de um adulto convencer uma criança ou adolescente a enviar fotos ou fornecer informações sobre a vida pessoal por meio da conversa.

Diálogo dentro de casa

Para manter a segurança dos jovens, Juliana recomenda que adolescentes tenham canal aberto em casa para falar sobre suas experiências online. "Mais do que simplesmente monitorar as páginas que eles visitam, é importante manter um canal de comunicação aberto para possam se abrir ao passarem por qualquer tipo de experiência incômoda ou que gere sofrimento". É importante lembrar que, nesta fase da vida, é comum que desejem participar de experiências da moda, sem que haja um entendimento ou reflexão sobre o que estão fazendo.

"Isso ocorre devido à falta de maturidade. Cabe aos pais alertarem os filhos sobre os riscos de determinados tipos de exposição. Por exemplo, o envio de uma foto íntima pode resultar em uma disseminação daquela imagem em páginas pornográficas ou em chantagens, ameaças e até extorsões", relembra.