Se o racismo não te incomoda, você é parte do problema, mostra documentário
"O Brasil é um país racista?". Desde a promulgação da Lei Áurea, o debate público se ocupa de responder a essa pergunta. Para contribuir com a discussão e sob a perspectiva de cinco mulheres, MOV e Universa lançam hoje o minidocumentário "A Longa História do Racismo Estrutural no Brasil", que pode ser assistido no vídeo acima.
O projeto traz análise sobre as tensões raciais e como se deram as definições dos papéis sociais de brancos e negros em um momento que o movimento Vidas Negras Importam se espalha pelo mundo — e propõe uma transformação em busca de uma sociedade mais igualitária.
Alexandra Loras, Jaqueline Conceição, Liliane Rocha, Obirin Odara e Rosa Luz guiam o pensamento do telespectador ao longo do vídeo. Elas olham para o passado colonizado do Brasil e colocam na mesa quais são os impactos sentidos ainda hoje pela população negra — inclusive a disparidade racial, agravada pela pandemia de coronavírus.
"As mentiras que se contava sobre uma suposta harmonia e igualdade, o coronavírus vem à tona e mostra: olha aqui, os pretos vão morrer mais nesse contexto", aponta a criadora do perfil @naomecolonize no Instagram, Obirin Odara.
Jaqueline Conceição, doutoranda em antropologia social pela UFSC, mestre em educação pela PUC-SP e que parte da diretoria executiva do Coletivo Di Jeje, aponta que a identidade brasileira não é, como se imagina, calcada na ideia de que "somos todos iguais".
"A identidade brasileira silencia a diversidade e se afirma sobre uma suposta ideia de uma superioridade branca, maquiada por uma narrativa de cordialidade. Mas, cada um tem seu lugar: a empregada tem o quartinho dela, o índio tem a cabana no meio do mato, e o branco tem os meios de produção, as indústrias, a economia, a educação, a ciência e é dono do dinheiro", explicita.
"Historicamente existe um apagamento de várias identidades e povos que eram marginalizados pelo sistema da branquitude", completa a compositora e artista visual Rosa Luz.
Ex-consulesa da França e palestrante sobre diversidade e empoderamento feminino, Alexandra Loras chama a atenção para a segregação física que contém negros e pobres nas favelas.
A favela é a perpetuação da senzala. É uma forma de ter um apartheid, uma segregação tão descarada mas tão normalizada que as pessoas não ficam chocadas em ver 15 milhões de pessoas morando em favelas. É 5 vezes a população de Paris Alexandra Loras
Coisificação e a criação do não-humano
Liliane Rocha, fundadora e CEO da Gestão Kairós e consultora de igualdade e diversidade, retoma a percepção de "coisificação" dos negros escravizados, que marcou todo o processo de escravização no Brasil, e demonstra o quanto essa noção ainda está enraizada nas relações étnico-raciais.
O negro tinha sua condição vinculada a ser escravizado, explica Obirin Odara, mas quando essa condição deixa de existir, ele permanece não-humano.
Porque somente o não-humano está apto a passar pela relação de trabalho forçado e de anulação e extermínio de suas referências culturais. Isso que a colonização empreende: um aniquilamento daquilo que o outro representa Obirin Odara
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