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Jovem morta no DF relatou ameaças de namorado suspeito do crime

Jéssica Nascimento

Colaboração para Universa, em Brasília

15/01/2020 14h01

"É melhor viver minha vida sozinha. Tenho que me esconder para ele não me achar. Essa semana vou na delegacia pedir uma medida protetiva contra ele. Não quero vê-lo nem pintado de ouro". A frase estava em um áudio encaminhado por Gabrielly Miranda, 18, para uma amiga em 10 de janeiro. Quatro dias depois, a estudante foi morta com um tiro na cabeça. O suspeito do crime é o namorado, com quem ela morava há três anos, na região de Samambaia, no Distrito Federal, e que está preso.

O crime ocorreu na madrugada de ontem, na QR 425. De acordo com a Polícia Militar, o namorado da vítima alega a morte foi acidental, pois o casal estaria brincando de roleta-russa e ele disparou na cabeça dela. Gabrielly morreu na hora. A última publicação das jovens nas redes sociais foi há dois dias. "Quem te ama, não te agride", diz o compartilhamento.

Em um áudio enviado para uma amiga, a qual a reportagem de Universa teve acesso, Gabrielly contou que o namorado havia viajado para o Rio de Janeiro com outra mulher. A colega tenta aconselhar a jovem, mas ela não seguiu o pedido.

"Ele viajou foi pro Rio com outra. Aí, quando ele chegou do Rio, querendo conversar comigo. Aí, eu não quis ideia com ele. Ele veio aqui na minha porta, deu dois tiros curtindo a lombra. E eu tô de boa. Já falei foi pra ele… Aí até essa semana eu vou ver se eu faço até uma medida protetiva para ver se esse bicho sai da minha cola, moço. Porque até hoje...", disse Gabrielly.

Preocupada com o caso, a amiga reforça que a jovem de 18 anos faça boletim de ocorrência e peça uma medida protetiva contra Leonardo Pereira, 31. O homem já tinha passagens na polícia por violência doméstica, porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas.

"Ainda bem que você largou a tempo [Leonardo]. Faz mesmo a medida. Ele deu dois tiros", disse a amiga na mensagem.

Ela sempre perdoava, dizem amigos

Gabrielly Miranda - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Gabrielle Miranda, 18, foi assassinada com um tiro na cabeça; namorado é suspeito de ter cometido o crime
Imagem: Reprodução/Facebook
Uma amiga da estudante conta que Gabrielly apanhava desde o início do relacionamento. O suspeito se dizia arrependido, dava presentes caros e fazia surpresas. A jovem costuma perdoá-lo, relatam os amigos.

"Ela era muito bonita, chamava atenção por onde passava. Isso causava muitos ciúmes em Leonardo. Ele fazia questão de afastar a Gabrielly da gente, não deixava nem ela conversar mais. Nós aconselhávamos, pedíamos pra ela sair da casa dele, mas infelizmente ela não achou que o pior poderia acontecer", disse a amiga, que preferiu não se identificar.

O velório da jovem ocorreu na tarde de hoje no Cemitério de Taguatinga e o enterro está marcado ainda para hoje.

Audiência de custódia decide por prisão preventiva

Leonardo Pereira acionou a Polícia Militar após a morte da namorada e foi preso. Ele foi encaminhado para a 26ª Delegacia de Polícia, em Samambaia, que investiga o caso. Mas, na delegacia, o suspeito não disse nada sobre a roleta-russa, de acordo com a investigação.

"Aqui na delegacia ele contou que Gabrielly pegou a arma do Leonardo e começou a brincar apontando para a perna (dele). Depois, ela entregou a arma para o namorado e ele apontou para a cabeça (dela). E disparou, matando a jovem", afirmou o delegado José Eduardo.

Na manhã de hoje, o suspeito passou por uma audiência de custódia. Na decisão, a juíza Flávia Brandão optou pela prisão preventiva.

"Ressalte-se que o autuado, ao invés de ter procurado prestar socorro à vítima, teria saído do local na condução de um veículo VW/Fox, cor vermelha, e somente depois teria retornado à residência, onde os fatos ocorreram. Desse modo, pelo que se tem até o presente momento, mormente pelo fato de que somente foi colhido o depoimento do autuado e do condutor do flagrante, tenho que a hipótese se amolda à modalidade dolosa do delito", disse um trecho da decisão.

O suspeito pode responder por feminícidio e posse de arma, podendo pegar de 12 a 30 anos de prisão.