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Professora estuprada em escola hesitou denunciar: "Ele disse que voltaria"

Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Dama Entre Rios Verdes, no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo - Reprodução/Google Maps
Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Dama Entre Rios Verdes, no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo Imagem: Reprodução/Google Maps

Bruna Alves

Colaboração para Universa

04/10/2019 04h00

A rotina da professora de 48 anos que foi estuprada no último sábado (28), dentro do estacionamento da escola onde leciona, em São Paulo, não é mais a mesma. Ela não consegue mais comer, dormir ou trabalhar. As crises de choro também têm sido constantes, assim como o uso de medicamentos.

Era para ser apenas mais um sábado de reunião escolar para definir o plano de reposição de aulas, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dama Entre Rios Verdes, no Itaim Paulista, zona leste da capital. A professora, que teve a identidade preservada, estava na reunião e, por alguns minutos, deixou a sala para fumar um cigarro no carro, dentro do estacionamento da escola. Foi ali que tudo aconteceu.

"Eu estava sentada no banco da frente, fumando um cigarro, quando um homem se aproximou e perguntou se a secretaria estava aberta. Eu disse que não e que ele voltasse na segunda-feira, mas ele entrou no carro, fechou a porta e disse: 'Fica quietinha que isso aqui é um assalto'", relembra a vítima.

Em seguida, o homem teria perguntado como sair do estacionamento com o carro dela. A professora disse que só o diretor da escola tinha a chave do portão para os veículos saírem. Não era verdade, mas ela teve medo de ser levada com ele.

Inconformado em não poder concluir o assalto, o homem mandou que ela abaixasse o banco de trás do carro e pediu um "favor" para a mulher.

Ele disse: "Para de chorar, se não, eu não consigo"

"Eu só pedia para ele não me machucar, mas ele disse que ia me pedir um favor. Falei que faria qualquer coisa para ele me deixar ir embora, mas eu nunca ia imaginar o que ele ia pedir. Então ele começou a fazer uns gestos e só depois eu entendi o que ele queria que eu fizesse." A partir de então, a professora foi estuprada.

"Eu vou usar outra palavra para não dizer como ele falou exatamente, mas ele disse: 'Se você me fizer ejacular, eu deixo você ir embora. Mas para de chorar, se não, eu não consigo'."

Ela não sabe precisar por quanto tempo foi violentada sexualmente, mas conta que foi salva por uma amiga que sentiu sua falta na reunião e foi até o carro procurá-la.

Ao chegar ao estacionamento, a amiga chamou a professora, mas como o vidro do carro é escuro, não conseguiu ver o que acontecia no carro.

Então, segundo a professora, a amiga a chamou novamente e o homem abriu um pouco o vidro e se apresentou como amigo dela. Como a professora estava visivelmente abalada e com cara de choro, a amiga teria percebido que algo estava errado com ela.

O suspeito insistiu que era amigo e disse que ela estava chorando porque estava desabafando com ele. Dentro do carro, a professora tentou mostrar à amiga que ele estava mentindo.

"Eu estava nua, morrendo de vergonha e comecei a gesticular e dizer para ela não ir embora e me deixar ali", diz. A amiga da vítima voltou para a sala de reunião, mas logo retornou com outro colega de trabalho.

Ciente de que algo estava errado, a amiga abriu a porta do carro. "Ele ficou parado, sem reação, mas depois saiu e ainda passou por ela e pelo outro professor e foi embora pelo mesmo portão que ele entrou. Eu não conseguia me mexer. Só me levantei do banco de trás quando ele já tinha ido embora. Daí comecei a gritar: 'Eu fui estuprada, eu fui estuprada'."

A vítima conta que começou um tumulto na escola, e todos começaram a gritar que um crime havia acontecido. Mas, a essa altura, o homem, que ainda não foi identificado, já estaria longe.

Cinco dias após ser atacada, a professora, formada há 20 anos, mãe de dois filhos e casada há quatro, conversou com Universa. Contou que, inicialmente, não queria denunciar o agressor porque chegou a ser ameaçada de morte. "Ele disse: 'Eu sei o seu nome, sei onde você trabalha, sei qual é o seu carro, se você falar, eu volto aqui e te mato'."

As ameaças intimidaram a professora num primeiro momento, mas, depois, encorajada pela própria filha, decidiu denunciar.

Seis horas para registrar o boletim de ocorrência

Acompanhada da filha e do irmão, que é advogado, a professora foi ao 67º Distrito Policial (DP) da capital, mas não conseguiu registrar o boletim de ocorrência.

"Não tinha delegado lá, então eles indicaram a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Itaquera. Chegando lá, o escrivão disse que eles só registravam problemas de violência doméstica", diz o irmão da vítima, Hélio José Dias.

De acordo com a Delegacia de Defesa da Mulher, a família deveria ir até o 50º DP da capital para fazer o boletim. "Fomos e ficamos lá até às 17h30. E a gente fica de mãos atadas porque não podemos fazer o boletim sozinhos", lamenta o irmão.

Embora a vítima tenha demorado para conseguir apoio policial e registrar a queixa na delegacia, ela diz que tem recebido ajuda de familiares, amigos, colegas de trabalho e da Secretaria de Educação para tentar superar o trauma.

"Estou me sentindo muito acolhida pela minha família, meus alunos, o diretor da escola, os professores, a coordenação, a própria comunidade. Mas eu quero que ele seja preso e que pague pelo que fez."

As aulas na escola foram suspensas na segunda-feira após o crime, mas já foram retomadas. A professora está afastada de suas funções e não sabe quando voltará a lecionar.

O suspeito teve seu retrato falado divulgado nesta semana, mas ainda não foi localizado.

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