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Pais imaturos criam filhos deprimidos; veja como mudar de comportamento

É importante manter diálogo com os filhos e estar perto para orientá-los - Getty Images
É importante manter diálogo com os filhos e estar perto para orientá-los Imagem: Getty Images

Silvia Regina Sousa

Colaboração para Universa

18/07/2019 04h00

Se sempre foi comum reclamar de pais autoritários e que não abriam espaço para diálogo, a geração atual de jovens passa por um momento diferente: ela pode se expressar, é mais questionadora, mas simplesmente não tem com quem falar. "Os pais estão preocupados em trabalhar e, nesse corre-corre, muitas vezes não conseguem compreender seus filhos. E os filhos, por sua vez, não entendem as cobranças, o nervosismo, a irritação, o cansaço e a ausência frequente dos pais", afirma a psicóloga Tânia Queiróz.

Segundo ela, a crise é silenciosa e velada. "Há uma epidemia de depressão infantil e infantojuvenil que leva a crises de agressividade, síndrome do pânico, automutilação, uso de drogas e suicídio como nunca vimos antes", diz a psicóloga. Os números mostram que o assunto é sério e que, se nada for feito, haverá consequências graves às famílias.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o suicídio já mata mais jovens do que o HIV em todo o mundo, e a automutilação afeta 20% dos jovens brasileiros. Tudo isso ela relata no livro "Pais Imaturos, Filhos Deprimidos e Inseguros" (Editora Évora), que acaba de ser lançado.

Por que imaturos?

Maturidade emocional está ligada a ter controle das próprias emoções, mas, segundo Tânia, muitas pessoas crescem cronologicamente e as emoções nem sempre seguem o mesmo ritmo. O pai maduro reconhece seu filho, sabe ler suas atitudes e necessidades emocionais, ouve o que ele tem a dizer e sabe conversar, motivá-lo e orientá-lo. Age como um exemplo. "Ele extrai do filho a melhor personalidade, com amizade e sem força."

Já o pai imaturo não consegue perceber as demandas dos filhos. Ao se deparar com um problema, grita, xinga e menospreza as atitudes da criança, fazendo-a acreditar que não tem capacidade. "Ele ensina irritação, estresse, nervosismo, desgosto e infelicidade. Tudo isso afeta diretamente a autoestima das crianças", explica Tânia.

Essa atitude, normalmente, é fruto de uma herança familiar --ou seja, o adulto provavelmente passou por situação semelhante. O comportarmento, segundo ela, também é motivado por uma sociedade que cobra das pessoas o acúmulo de bens materiais, como se garantissem a vida perfeita.

O mesmo se repete com os pais negligentes. Permitir que os filhos façam o que querem e que tratem as pessoas com desrespeito também é sinal de imaturidade. Filhos felizes dependem de pais equilibrados e com ouvidos atentos para escutá-los e entendê-los.

O comportamento dos pais afeta os filhos desde a infância. Nessa fase, a criança aprende por meio do exemplo, portanto, se há grito, ela gritará; se há agressão, ela achará que os problemas se resolvem no tapa. Mas é na adolescência que essas dificuldades se tornam mais claras.

O que fazer? A psicóloga dá a dica. "Os pais não atualizam a mente. A gente troca de casa, de carro, de sapato, mas não troca o que pensa. Estamos gritando, explodindo, conquistando bens materiais e esquecendo a sabedoria para educar os jovens."

Para viver em harmonia

A maturidade emocional é algo que se constrói com tempo e boa vontade. Admitir os próprios erros e fragilidades é o primeiro passo na busca para uma convivência melhor com seu filho e na construção da segurança dele.

A psicóloga Tânia Queiróz dá sete dicas preciosas para viver em harmonia com o adolescente que existe em sua casa.

- Não caia no mito do filho perfeito
Acreditar de que ele será sempre o melhor aluno, o mais educado, o mais correto só fará os pais fecharem os olhos para os reais problemas.

- Não ressalte os pontos negativos do seu filho
Isso gerará distanciamento entre vocês. Em vez disso, faça questão de evidenciar os pontos fortes que ele demonstra ter.

- Dialogue sempre
Não adianta apenas impor a sua opinião. Mostre que está aberto a conversar, a orientar e a esclarecer suas dúvidas. O jovem respeita a sabedoria, não a imposição.

- Mude a forma como lida com problemas
O drama e a vitimização, como a famosa frase "Eu faço tudo por você e é isso que eu ganho?", não resolvem.

- Tenha força para superar os problemas
Resolvê-los pode ser difícil e doloroso, mas é necessário. Lembre-se de que não existe pílula mágica que melhore o relacionamento entre vocês.

- Analise seu temperamento
Deixe o papel de pai reativo de lado e se torne um pai proativo.

- A iniciativa da mudança deve partir dos pais
Assim, o filho se sentirá mais seguro e mais amado e as coisas tendem a melhorar entre vocês.