Artigo questiona os riscos reais de consumir álcool na gravidez
Estudo aponta escassez de evidências sobre possíveis danos fetais causados pelo baixo consumo de álcool por mulheres grávidas. Especialistas chamam a atenção para falta de pesquisas sobre o assunto.Ao mesmo tempo que há uma grande conscientização sobre a chamada síndrome do alcoolismo fetal – danos fetais em caso de ingestão de bebidas alcoólicas pela mãe durante a gravidez –, não se sabe ao certo se o álcool deveria ser completamente vetado ou se há um limite seguro para o consumo durante a gestação.
Em artigo publicando nesta terça-feira (12) pelo periódico científico britânico BMJ Journal, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Bristol afirma ter encontrado um número "surpreendentemente limitado" de estudos sobre o baixo consumo de álcool durante a gravidez e "escassez de evidências" sobre possíveis danos fetais.
A equipe realizou uma ampla pesquisa sobre dados de mulheres grávidas que consumiram quatro unidades de bebidas alcoólicas por semana – um total de 40 mililitros de álcool puro – o que, no Reino Unido, é considerado um consumo leve. Uma unidade corresponde a um copo de cerveja, meia taça de vinho, ou meia dose de bebidas destiladas mais fortes. Para os britânicos, o limite recomendado a adultos é de 14 unidades semanais, mas para as grávidas, aconselha-se a abstinência total. As recomendações variam de país para país.
Segundo os autores, até 80% das mulheres no Reino Unido, Nova Zelândia e Austrália consomem alguma bebida alcoólica durante a gravidez. Neste ano, o Serviço Britânico de Aconselhamento sobre a Gravidez pediu que as autoridades não "exagerem sobre os risco de consumir pequenas quantidades de álcool" durante a gestação.
Na França, vinicultores se queixaram dos planos do governo de ampliar avisos nas garrafas sobre o consumo de álcool durante a gravidez. Alguns ativistas nas redes sociais acusaram as autoridades de "aterrorizarem" mulheres grávidas.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou em maio deste ano uma campanha para alertar mulheres para a síndrome alcoólica fetal. O Ministério da Saúde, no entanto, reconhece a dificuldade de diagnóstico e o consumo significativo de bebidas alcoólicas pelas gestantes no país.
Melhor prevenir que remediar
O estudo divulgado nesta terça-feira, baseado em 26 pesquisas sobre o assunto, afirma que foram encontradas evidências de que consumir até quatro unidades de álcool por semana pode estar associado a um risco mais alto de que o bebê venha a nascer em tamanho menor ou prematuramente. No entanto, os pesquisadores afirmam que os dados não são conclusivos.
"Ficamos surpresos com o fato de esse tema tão importante não ter sido pesquisado tão amplamente quanto esperávamos", afirmou Loubaba Mamluk, da Faculdade de Medicina Social e Comunitária da Universidade de Bristol. "Na falta de provas mais contundentes, a recomendação às mulheres de se manterem longe do álcool durante a gravidez deve ser mantida como medida de precaução, sendo a opção mais segura", afirmou.
No entanto, mulheres que beberam pequenas quantidades de álcool durante a gravidez, talvez inadvertidamente, "devem ser asseguradas de que é muito pouco provável que tenham causado danos consideráveis a seus bebês", afirmam os pesquisadores. Ainda que não esclareça a questão, a pesquisa chama a atenção para a falta de evidências dos danos causados pelo álcool em fetos.
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