Especialistas em segurança desaconselham cauda de sereia para crianças
A ideia é mágica e atrai muitas crianças: ter uma cauda de sereia digna de Ariel, a protagonista da animação "A Pequena Sereia", e sair nadando por aí. Febre nos Estados Unidos e no Canadá, a nadadeira foi banida em duas cidades canadenses (Edmonton e Surrey) e mal chegou no Brasil e já causou polêmica. Tanto a ONG Criança Segura quanto a Sobrasa (Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático) veem o acessório como um risco de afogamento para as crianças.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, o afogamento é a segunda causa de morte acidental entre crianças. "A questão é grave e real. Ao usar a cauda, a criança fica com as duas pernas presas, o que impede o movimento básico feito para boiar, que é mexer pernas e braços. Isso facilita que o tronco e a cabeça afundem", afirma Gabriela Guida de Freitas, coordenadora nacional da ONG Criança Segura.
Gabriela contraindica o uso do acessório até mesmo para tirar fotos fora da piscina. "A criança é curiosa, nem sempre diferencia o mundo real do lúdico. Às vezes, os pais podem tirar uma foto dela só de brincadeira e, em um momento de distração dos adultos, ela pode pular na água com a cauda", diz.
A Sirenita, um dos fabricantes das caudas de sereia e de nadadeiras de tubarão e golfinhos, alerta em seu site que o uso do brinquedo só deve ser feito por crianças maiores de sete anos nadadoras experientes. Além de orientar que a peça deve ser usada sob a supervisão de um adulto e em uma profundidade na qual a criança possa ficar em pé.
Para David Szpilman, diretor médico da Sobrasa, o problema é exatamente a falsa sensação de proteção que pais com filhos que sabem nadar têm. "Não é fácil nadar com as pernas juntas. Até um nadador profissional precisa de muito treinamento para conseguir usar a cauda de sereia. Essa falsa impressão de que o filho sabe nadar e, por isso, ele conseguirá manusear o equipamento, aumenta o risco de a criança se afogar."
Dicas de segurança
Para reduzir as mortes por afogamento, a Sobrasa desenvolveu uma cartilha com atitudes para deixar a diversão na praia e na piscina mais segura. A primeira delas é ter 100% de atenção ao filho enquanto ele estiver na água.
"Mesmo que a criança saiba nadar, os pais devem ficar a distância de um braço dela, ainda que o local tenha guarda-vidas", afirma. Para quem tem piscina em casa, a orientação é colocar uma grade para impedir o acesso sem supervisão adequada, além de desligar a bomba de sucção enquanto ela estiver nadando.
Por fim, é importante que os pais saibam reconhecer uma situação de afogamento e como proceder. Segundo Szpilman, quando a criança está se afogando, ela não acena, mas, sim, afoga-se silenciosamente, mexendo os braços dentro da água para tentar se salvar.
Ao identificar que o filho está se afogando, os pais não devem pular na piscina ou no mar para tentar ajudar --mesmo que saibam nadar. "É comum que, ao entrar na água, a pessoa acabe morrendo afogada também, pois a vítima a puxa para baixo. Os adultos precisam dar um material de flutuação para a criança e, depois de parar o afogamento, com mais calma, pensar em como tirá-la da água", afirma.
Szpilman orienta que, se a criança estiver consciente, os pais devem esperar o socorro, mas, se estiver inconsciente, é preciso perceber a respiração. "Se ela não estiver respirando, faça cinco ventilações artificias boca a boca (tampe o nariz, incline a cabeça e sopre o ar pela boca da vítima). Se não houver resposta (tosse ou qualquer outra reação), é preciso fazer duas ventilações, e, na sequência, 30 compressões cardíacas até a criança se recuperar. Em crianças, a região de compressão cardíaca é a mesma do adulto (dois dedos acima do encontro das duas últimas costelas), porém utiliza-se menor força e somente uma mão para pressionar o local, com os cotovelos estendidos, debruçando-se sobre a vítima."
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