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EUA mostram soldados ajudando crianças no Afeganistão: "Ato de compaixão"

16.ago.2021 - Homem puxa uma criança para dentro dos muros do aeroporto internacional de Cabul, Afeganistão - Stringer/Reuters
16.ago.2021 - Homem puxa uma criança para dentro dos muros do aeroporto internacional de Cabul, Afeganistão Imagem: Stringer/Reuters

De Universa

21/08/2021 11h18

O Exército americano divulgou nesta sexta-feira (20) um grande número de fotos que mostram seus soldados cuidando de bebês e crianças afegãs no aeroporto de Cabul, onde as operações caóticas de evacuação têm sido alvo de fortes críticas dentro dos Estados Unidos. Forças do Talibã voltaram ao poder no Afeganistão no último domingo, após 20 anos, despertando medo nos cidadãos, principalmente nas mulheres.

Ao ser questionado sobre a imagem, o porta-voz do Pentágono, John Kirby, disse que se tratou de um "ato de compaixão". "Um pai pediu aos soldados que cuidassem do bebê, que estava doente", explicou. "O fuzileiro que é visto esticando o braço levou a criança para o hospital norueguês que fica no aeroporto. Eles cuidaram da criança e a devolveram para o pai. Não sei quem ele é, nem se solicitou um visto especial de imigração (SIV)."

"Estes são os Estados Unidos que devemos incorporar", reagiu o congressista republicano e veterano da guerra do Iraque Peter Meijer. Ele disse no Twitter se sentir orgulhoso ao ver as fotos, empregando um tom consensual bem distante das polêmicas que abalaram os Estados Unidos desde a tomada de Cabul pelos talibãs, no último domingo.

A chegada do Talibã a Cabul, capital do Afeganistão fez com que as afegãs temessem perder os direitos sociais e econômicos que conquistaram nas últimas duas décadas. O Talibã impõe uma interpretação radical e estrita da lei islâmica que restringe severamente os direitos das mulheres.

No último dia 17, o porta-voz do grupo radical islâmico Talibã, Zabihullah Mujahid, afirmou: "As mulheres afegãs não têm o que temer, vamos trabalhar juntos pela recuperação do país. Ombro a ombro". Mujahid ressaltou ainda que elas "farão parte do nosso governo, poderão trabalhar e estudar, contanto que estejam dentro dos limites do Islã''.

Estar dentro dos limites quer dizer seguir à risca a Sharia, a rígida lei islâmica que obriga, dentre outros temas polêmicos, mulheres cobrindo todo o corpo e que só podem sair de casa com um "guarda-costas" do sexo masculino. Em tradução literal, a palavra Sharia significa "um claro caminho para a água". Pois clareza e um futuro cristalino são tudo em que as mulheres afegãs não acreditam para o seu país.

Em entrevista a Universa, Khadija, de 42 anos, conta que viveu os sombrios cinco anos da Sharia no Afeganistão, entre 1996 e 2001. "Eu era uma garota que vivia em Takhar [província próxima ao Tajiquistão], e um dia saí de casa usando chinelos. Fazia muito calor. Um 'Taleb' me viu e perguntou por que eu não estava usando meias, que aquilo era Haram", relembra. Haram é um termo árabe retirado do Corão, o livro sagrado muçulmano, que designa o pecado, proibido.

"Me jogaram no chão e chicotearam os meus pés em praça pública. Não saí mais de casa por meses. Como você acha que eu posso acreditar no que esses animais estão dizendo?"